Luanda - Chamo àqueles que tendo depauperado o Estado dos recursos necessários ao seu papel no ordenamento social e económico estão segregados no seu mutismo e egoísmo, mostrando à sociedade, que são tão inocentes como a imensa maioria de pobres que somos, socialmente falando, com a mão estendida à caridade, em função do desgaste provocado pelo mau uso do poder e pela ausência de experiências técnicas, condutas sociais e políticas adequadas, para gerar bem estar material e espiritual.

Fonte: Club-k.net

Um dia quando for feito um estudo científico dos nossos empresários, da verborreia intelectual dos nossos especialistas, dos nossos políticos, da nossa artesanal estrutura financeira, que falharam redondamente nas suas previsões de bem estar social e aumento da produção, vão surgir muitas críticas, a respeito da indulgência do sistema aos burgueses formados com a ajuda das mãos leves.


Mãos leves, que no nosso linguajar popular significa a habilidade no desvio dos fundos públicos para engordar a conta pessoal e usufruto da sua ilha de prazeres materiais.

Neste ponto de vista Angola tornou-se numa ilha de privilegiados, com dinheiro ganho a passes de mágica e gasto faustosamente à sombra da bananeira em lautos beberetes, orlados com vinhos especiais, que na Antiguidade era reservado aos deuses. Lembram-se?

 

Os nossos descendentes vão condenar os seus antepassados por não terem sabido aproveitar as oportunidades e os recursos naturais, para transformar este riquíssimo país num paraíso para as futuras gerações, como o fizeram os Emirados Árabes Unidos, o Qatar, o Koweit, a Nigéria, para citar apenas estes.

 

Estes países, muitos deles não têm água, mas tiveram a sagacidade de a levar para onde deve ser consumida, com qualidade e, hoje esse problema deixou de ser assunto de Estado, para se tornar na coisa mais natural deste mundo maravilhoso, onde todos, com o olhar crítico e verdadeiro, rendemo-nos à evidência de estarmos diante de obras maravilhosas, conferindo a esta criatura terrestre que é o homem o estatuto de ser superior. O que não se percebe é que passado quase 45 anos os angolanos ainda continuam a morrer de sede, mesmo com grandes cursos de rios espalhados à montante.

Haverá outro capaz de traduzir os mistérios da vida? Se os há podemos encontrá-los apenas, e por enquanto, no domínio da ficção científica.


O que temos e está provado pela sabedoria é a capacidade de transformar a natureza e torná-la útil à medida das nossas necessidades. É isso que não temos, enquanto país admirado pelo resto do mundo, repito, não demonstrado a capacidade de fazer.

 

Temos medo de perder o bocadinho que conseguimos e não avançamos para outros patamares, que nos permitam transformar a pobreza em riqueza, que é afinal o ponto de chegada da luta pela sobrevivência, como dizia Lula da Silva, Presidente do Brasil, a fome não espera por ninguém e não conhece língua.


Homem rico é homem forte materialmente falando. Homem inteligente é homem rico acrescido, porque tem uma ferramenta, a inteligência, que o pode transportar para o prazer e capacidade de dominar a natureza e satisfazer imensas necessidades virtualmente ilimitadas.

 

O único prazer do homem angolano rico é satisfazer o seu ego e de mais ninguém, esquecendo que os seus prazeres significam uma nuvem passageira, na vida que se esvairá um dia, marcada por uma passagem negra, no lugar onde ela foi gerada.

 

Homem inteligente é aquele que corrige, que cutuca com vara curta os prevaricadores exigindo ordem e respeito pela coisa pública, arruma a casa e distribui o pão nosso de cada dia em todos os lares, semeando a paz dos bravos e a glória dos oprimidos contra a pobreza franciscana, transformada em rotina nos nossos lares.

 

Homem avisado é aquele que sabe prevenir a chuva e resguardar-se dela quando cai, não deixando os seus semelhantes ao relento, nem aos caprichos da natureza.


Estamos num dilema, que é pôr a economia a funcionar como deve ser. Temos terra, temos homens para trabalhar, precisamos de máquinas para amanhar a terra e produzir alimentos e acabar com a fome primária e ainda assistimos a entraves, a discursos mal lavrados, no sentido de impedir quem queira um tractor, não o possa comprar, porque não tem garantias, não tem terras de valor para hipotecar e tudo isso para justificar a primazia que se dá ao primo, ao amigo e ao compadre, que precisa das divisas, para comprar em Portugal a sua herdade ou no Brasil construir o seu condomínio, onde ao ritmo do samba e o balançar das partes bamboleantes da crioula brazuca se hipoteca o sonho de uma vida sacrificada no solo pátrio.

 

Ao olharmos para a filosofia defendida pelo Chefe de Estado, o que é que temos? Um profundo lamento e tristeza pelo enorme deserto que são os campos de produção, ou as promessas debitadas na ilusão óptica das luzes da televisão, de que somos na realidade um país feito de truques de ilusionismo empresarial, e de pseudo-empresários, agricultores, senhores de extensas terras férteis de produção apenas vemos, as mentiras debitadas no pequeno écran, para o filme de ficção em que se tornou o discurso de um determinado grupo de senhores, agricultores e industriais.

 

Deu pena ouvir João Lourenço a lamentar que o Estado tivesse concedido financiamentos a detentores de grandes propriedades no Cuanza Sul, que não conseguiram mostrar o que valem. Deu pena sentir a decepção do Presidente, por se manifestar traído pelos discursos inflamados das claques empresariais, que o perseguem na ânsia de mostrarem o que não valem.

 

Ao exprimir deste modo a sua decepção João Lourenço quis dizer que assim não vamos lá. Na grande propriedade encontramos os elefantes brancos e na pequena e média propriedade o potencial da diversificação da produção. O sentido das palavras “subir a pulso”, como se faz noutros países. E para que isso aconteça é tão somente necessário dotar a este importante segmento da economia, o segredo do sucesso. Já chegam os discursos e os relatórios feitos a pensar no compadre, na elite de pensadores iluminados. É sim, necessário pegar nos homens da terra arável, entregar-lhes o tractor, os adubos, a logística da produção moderna e no terreno fornecer-lhes a técnica da produção e das linhas de escoamento, para os grandes centros de consumo e deste modo garantir a suficiência alimentar. Este é o segredo. A grande exploração agrícola deve obedecer a outra estratégia, que para as necessidades do país deve ser repensada noutros fóruns e oportunidades.

 

Precisamos de ver os especialistas do Ministério da Agricultura a levarem o conhecimento das técnicas agrárias ao campo, educar on job, os camponeses, como se diz, na gíria profissional, introduzindo modernas práticas de lavoura, que vão desde o amanho da terra, à construção de silos modernos para armazenamento, quer de sementes, quer da sua produção.

 

É preciso introduzir o crédito bancário e o seguro na produção campesina, como se fazia antigamente. Modernizar a produção agro-pecuária, numa cadeia de interesses diversa, desde a mecanização agrícola, com todas as suas componentes tecnológicas e comerciais.

 

É preciso pensar e priorizar as regiões de elevado potencial. O Moxico por exemplo é rico em água, mas pobre em estradas. Daí a razão do seu isolamento do resto do mundo.

 

O comboio, entretanto, dá-lhe a elegância na conexão com o mar, através do Caminho de Ferro de Benguela e a importância que começa a despertar como província de enormes potencialidades.

 

É necessário levar o foco da produção para essas zonas. A tecnologia chinesa de construção de estradas em tempo recorde deve estar ao serviço da região leste para conceder à rica região, o privilégio na produção de bens alimentares, para todo o país.

 

Angola deve despertar para a realidade que representa o seu potencial, centrado em dois eixos principais: estradas e desenvolvimento agrícola, para já. O dinheiro das estradas pode vir da cooperação regional.

 

O que interessa é avançar para a aventura, para estimular a produtividade e, consequentemente o desenvolvimento e exploração das riquezas minerais e agrícolas, de forma integral.

ANDRÉ PINTO