Benguela - Os trabalhadores das clínicas de hemodiálise de Benguela e de Lobito temem pelo encerramento, em breve, das duas unidades, em função dos pronunciamentos da ministra da Saúde, durante a reunião, realizada quarta-feira, na cidade de Benguela, que avaliou a situação dos doentes renais e da dívida do Estado.

Fonte: JA
Nos últimos dias, circulou nas redes sociais informações sobre a precariedade dos serviços de hemodiálise nas duas cidades, por causa da dívida do Estado para com a empresa que presta o referido serviço.

Em representação das referidas clínicas privadas, o médico João Bispo disse, por telefone ao Jornal de Angola, que a dívida do Ministério da Saúde está avaliada em 9,5 mil milhões de kwanzas, ao passo que a unidade tem dívida de cerca de 7,2 mil milhões de kwanzas, com fornecedores, bancos, trabalhadores e impostos.

A reunião, que terá sido de desagrado da clínica, deixou marcas claras de que o Ministério da Saúde pretende introduzir serviços públicos de hemodiálise naquela província.

Quanto a isso, João Bispo disse que a titular da pasta da Saúde fez questão de dizer, de forma literal, que esperava que os trabalhadores das duas unidades tivessem participado no último concurso público, realizado recentemente.

Embora acredite que foi importante a ministra ter o contacto directo com os doentes que fazem hemodiálise nas referidas unidades, apontou que a dívida que o Ministério da Saúde tem está a causar estrangulamentos na prestação dos serviços aos doentes.

“Os fornecedores deram-nos um ultimato”, avisou, afirmando que, em momento algum utilizaram os doentes, para mostrar que a situação clínica deles estava a agravar-se, por falta de fármacos e outros materiais gastáveis.

“Já temos escassez de materiais. Os doentes só estão a fazer duas vezes, por semana, a hemodiálise, ao contrário de três vezes, por se verificar uma ruptura no stock. A redução de dias diminui a qualidade do serviço”, apontou, para quem a ministra instigou os doentes, numa reunião à parte, que são maltratados. Com 250 doentes, as duas clínicas têm cerca de 170 trabalhadores, que há cinco meses não recebem salário.

Quatro anos de dificuldade

Falando sobre a reunião, o chefe de Enfermagem da Clínica de Hemodiálise de Benguela, Francisco Benjamim, disse que esperava que a ministra “chegasse com soluções, mas mostrou que veio com uma postura para terminar o contrato com a empresa”.

A reunião de ontem não contou com os responsáveis da Administração da empresa gestora da Clínica e do Instituto Angolano do Rim. “A nossa direcção está em Luanda e a ministra disse que convocou os nossos administradores para virem a Benguela, o que não condiz com a verdade”, anotou o enfermeiro.

Francisco Benjamim disse que a ministra manifestou dúvidas em relação à dívida. “Saímos daquela reunião com o moral muito baixo, porque a conclusão foi terminar com os nossos serviços e abrir uma clínica pública”. Ao insistir que está há cinco meses sem salário, Francisco Benjamim apontou que em nenhum momento a ministra mostrou-se preocupada com a situação dos médicos, enfermeiros e auxiliares. “A ministra disse-nos que, quem não fez concurso público, está tramado. Será que o Estado tem capacidade para empregar todos os enfermeiros, médicos e auxiliares formados no país, sem a presença de privados, perguntou Francisco Benjamim”.

“Os hospitais públicos com serviço de hemodiálise aparentam ter gestão do Estado, mas por detrás deles existem empresas privadas”, concluiu.