Luanda - Decorrendo sobre uma superfície reduzida, considerado militarmente de baixa intensidade, o conflito entre Israel e Palestina é todavia de uma grande importância estratégica. “Uma terra sem população e uma população sem terra.” Falando assim de maneira imprecisa sobre a Palestina em 1979, LORD BALFOUR criava condições para um conflito entre Israel e Palestina, definindo a sua natureza: uma rivalidade para o controlo de um território. Se o povo judeu não tinha ainda efectivamente o seu Estado, a Palestina, pertencendo naquela época ao Império Otomano, não estava desabitado.

Fonte: Club-k.net

THEODORE HERTZL publicava, em 1897, o Estado dos judeus, reclamando a criação de um Estado para o povo judeu de formas a protege-lo das perseguições anti-semitas. Querendo dar corpo a esse projecto, LORD BALFOUR esperava obter o apoio das comunidades judaicas na guerra contra a Alemanha. Essa promessa entrava em choque frontal com aquela que concedia a independência aos povos árabes, caso esses se juntassem ao Reino Unido na luta contra o Imperio Otomano. Aquando da primeira guerra mundial a Palestina estava sob tutela do Reino Unido. Os judeus faziam 10% da população. A atracção do projecto sionista e as perseguições anti- semitas na europa provocaram uma migração massiva. No final da segunda guerra mundial, os judeus faziam 30% da população Palestiniana.


O grande crescimento demográfico e concomitantemente a compra de terras, criou desavenças entre as comunidades que viviam até então em harmonia. As Nações Unidas previam um plano de dividir a Palestina de formas a permitir a criação de um Estado árabe e de um Estado judeu, lado a lado. Os árabes sentindo-se enganados e pensando que pagavam o preço de um genocídio perpetrado na Europa pelos europeus, negavam o princípio da criação de um Estado judeu. A primeira guerra entre israelitas e palestinianos, estoura. Ela foi ganha pelo jovem Estado hebreu que se expandia passando de 50% à 78% da Palestina (que estava sob tutela do Reino Unido). Muitos Palestinianos fugiam ou eram expulsos das suas terras tornando-se assim em refugiados. Jerusalém-Oriental e a Cisjordânia estavam ocupados pela Jordânia, o Egipto tomava o controlo da faixa de Gaza. Os países árabes recusavam-se de reconhecer Israel. Em 1956, o Reino Unido, a França e o Israel lançam uma operação militar conjunta contra o Egipto que acabava de nacionalizar o Canal de Suez. A ajuda dada ao Egipto pela URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) levou os três países a se retirarem do Canal. Através de uma guerra preventiva em surpresa (a famosa guerra de seis dias), Israel destruiu os exércitos da Síria e do Egipto e tomou o controlo do Sinai Egípcio, do Golan Sírio assim como Jerusalém-Oriental, Cisjordânia e faixa de Gaza. A paz entre Israel e Egipto concluída sob os auspícios dos Estados Unidos de América através dos acordos do Camp David (base militar no Estado de Maryland) em 1978, permitiram a devolução do Sinai ao Egipto. A anexão do Golan Sírio e dos territórios palestinianos, por Israel não foi reconhecida pela comunidade, incluindo pelos aliados históricos – os Americanos.

Em 1973, uma nova guerra opunha o Egipto e a Síria ao Israel e se concluiu com um Status Quo. Um movimento nacional nascia nos anos 1960 na Palestina, e vai passar da recusa da existência de Israel à sua aceitação, no final do ano 1980, juntando-se a perspectiva de “territórios contra a paz”. Três acontecimentos mudam a face do conflito, no final do ano de 1980. Uma revolta popular (intifada- revolta contra um regime opressor), teve origem na Palestina contra a ocupação Israelita. Esta ocupação já não era combatida pelos meios bélicos de fora mas sim por uma protestação popular. O desmoronamento da URSS em 1991 permitiu a migração de um milhão de judeus nos territórios ocupados. A guerra do Golfo (guerra que opôs de 02/08 à 28/02/1991 o Iraque a uma aliança de 35 Estados chefiados pelos EUA), mostrou a pertinência do problema Palestiniano à toda a comunidade árabe e a urgência, para os Estados Unidos de América de se atacar a resolução do problema, de formas a não perder aliados estratégicos naquela região. Os acordos de Oslo (acordos entre Israelitas e Palestinianos na Noruega para assentar as bases de uma resolução do conflito), assinados em 1993, previam o reconhecimento de Israel pelos Palestinianos e sua retirada faseada nos territórios ocupados de formas a permitir a criação de um Estado Palestiniano.


O assassinato do Primeiro- ministro YITZHAK RABIN (que tinha assinado os acordos), por um extremista judeu, a continuação da colonização dos territórios Palestinianos por Israel durante o processo de negociações, a organização dos atentados terroristas pelos palestinianos radicais do HAMAS (movimento islamita palestiniano constituído de um braço politico e outro armado, muito activo na faixa de Gaza), que negava reconhecer Israel, foram determinantes no fracasso do processo de paz. A ascensão ao poder do General ARIEL SHARON (2001-2006), que sempre se opôs ao processo de paz no início do ano 2001, o clima de confrontos entre o mundo ocidental e o mundo muçulmano depois dos atentados do 11 de Setembro de 2001, vieram a afundar as esperanças do fim da espiral de violência. Contudo, o grande paradoxo é que existe um consenso geral nos contornos de um futuro acordo: a criação de um Estado Palestiniano nos territórios conquistados por Israel em 1967, o reconhecimento de Israel pelo conjunto de países árabes, a escolha de Jerusalém-Oriental como Capital de cada um dos Estados e um acordo sobre o regresso dos refugiados Palestinianos, que terá em conta o reconhecimento político dos prejuízos. O povo Palestiniano está dividido política e territorialmente entre a Cisjordânia, controlada pelas autoridades Palestinianas e pela faixa de Gaza, controlada pelo Hamas. A faixa de Gaza é apoquentada por um bloqueio organizado pelo Israel e pelo Egipto. Depois dos tiros de roquete lançados para o Sul de Israel pelo Hamas em 2014, Israel replicou com bombardeamentos intensivos que causaram a morte de dois mil Palestinianos. Reeleito em 2015, BENYAMIN NATANYAHOU (carinhosamente chamado por BIBI pelos seus fans), que se tinha oposto aos acordos de Oslo, estimava que o tempo jogava a seu favor e contava com a política de “facto consumado”.


Em Israel, apoiantes da paz, que se tornaram minoritários, estimavam que esta posição de facto consumada, não era viável a longo prazo. Nos meados de Setembro de 2015, as provocações de judeus religiosos sobre o Monte do Templo, na esplanada das mesquitas provocaram confrontos entre jovens Palestinianos e a policia Israelita em Jerusalém, que se alastraram em seguida à Cisjordânia com manifestações e ataques isolados, mais tarde a Tel Aviv. A intifada com facas, provocou mais de 30 mortos Israelitas e duzentos do lado da Palestina.


Os interesses em jogo são imensos na medida em que o conflito entre Israel e Palestina é o epicentro de um eventual choque de civilizações. Geograficamente, este conflito é limitado assim como a sua intensidade mortífera em relação à outros numerosos conflitos sangrentos no nosso planeta. Mas ele tem uma grande importância simbólica e estratégica.


Os árabes, os muçulmanos e a maior parte dos países descolonizados, consideram que a continuação da colonização das terras Palestinianas por Israel, não seria possível sem o forte apoio politico, jurídico, económico e estratégico dos países ocidentais pontificados pelos Estados Unidos de América. A causa Palestiniana tornou-se numa causa emblemática para aqueles que querem defender os discursos antiocidentais. Uma conferência para a paz, teve lugar em Paris no dia 03/06/2016 reunindo vinte e oito países e organizações internacionais, mas sem os dois protagonistas. Israel opôs-se a esta conferência estimando que ela contrariava os esforços de paz. Muitas vezes apresentado como religioso e étnico, o conflito entre Israel e Palestina é na realidade um conflito territorial. Ele conquistou ao longo dos anos, uma importância estratégica fundamental, no centro de um eventual conflito de civilizações. Esse conflito é central na relação entre o mundo muçulmano e o mundo ocidental.

*Formado em relações internacionais e diplomacia pela Escola Nacional de Administração do Benin