Luanda - O coordenador residente da ONU em Angola defende que o país deve procurar o equilíbrio entre as atividades sociais e económicas enquanto luta contra a Covid-19.

Fonte: Lusa

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Em entrevista à Lusa, Pier Paolo Balladelli, coordenador da ONU e residente em Angola defende que o país deve procurar o equilíbrio entre as atividades sociais e económicas enquanto luta contra a Covid-19, melhorando a comunicação sobre como viver com o vírus.

 

Com o mandato a terminar a 5 de agosto, Pier Balladelli assinalou que as Nações Unidas têm estado a trabalhar com o governo e a sociedade civil para determinar quais são as condições de segurança para prosseguir as atividades económicas e sociais e melhorar a coesão social sem perigo de transmissão da doença.

 

“Não podemos deixar de fazer o que for necessário para continuar a vida e aguardar que termine a transmissão da Covid-19, que vai estar connosco um tempo longo dependendo da capacidade que terá o mundo para ter uma vacina efetiva com a qual se poderiam criar condições de quase normalidade”, argumenta o médico especialista em Saúde Pública. “Até lá temos de continuar a tomar todas as medidas, de forma a que tudo possamos continuar, com precauções que permitam evitar o contágio”, realçou.


Paolo Balladelli considerou que Angola tomou decisões corretas no que diz respeito à Covid-19 e teve tempo para se preparar e adiar o início da epidemia, mas esta era esperada. “Sabíamos que iria chegar e de forma acelerada, é o que está acontecer neste momento, estamos numa fase de transmissão comunitária e temos de fazer esforços para continuar com as medidas de distanciamento, mas por outro lado temos todos os protocolos que nos permitem continuar com as atividades sócio económicos. Temos de chegar a esse equilíbrio e esperar que a epidemia ultrapasse o ponto critico, o pico, e depois comece a diminuir”, vincou o responsável.

 

Para Paolo Balladelli é crucial investir na comunicação “para diminuir o impacto dessa grande tragédia que é a Covid”.

 

“Onde temos de nos apoiar mais é na comunicação, numa correta educação não só sobre o vírus, mas como deve ser a vida nas comunidades, em presença do vírus. Estamos ainda na (fase de) comunicação sobre como prevenir a doença, mas devemos passar a uma comunicação forte sobre como fazer as coisas mesmo em presença do vírus, comunicando bem todas as medidas de precaução que são fundamentais para permitir a vida económica e social do país”, detalhou.


No âmbito da resposta à Covid-19, a ONU enquadrou as suas atividades em Angola em várias áreas de trabalho, que incluem desde a resposta médica para travar a infeção, à resposta sócio-sanitária também dirigida a outras doenças crónicas como a malária, a tuberculose ou o VIH/SIDA, bem como a proteção social e o apoio a grupos vulneráveis.

 

Balladelli sublinha a importância de “manter a rede nas comunidades ativa”, através por exemplo, das transferências monetárias para as famílias mais pobres.

 

Segundo o perito da ONU, trata-se não só dar recursos financeiros às famílias para satisfazer as suas necessidades primárias, mas de mobilizar também a economia a nível local, de forma a que as atividades económicas não parem.


“As famílias e as pequenas e médias empresas, mesmo em tempo de Covid, através de protocolos muito bem estudados podem continuar a fazer o seu trabalho de uma forma dinâmica”, frisou, afirmando que é preciso “um ambiente onde a comercialização e as dinâmicas produtivas possam ser mais rentáveis e permitir a segurança alimentar”.

 

Paolo Balladelli destacou que o tema da Covid-19 é “universal”, salientando que os países com mais recursos terão de partilhá-los “para criar maior harmonia e não deixar o vírus prosperar, criando elementos de risco e ameaças para o seu próprio desenvolvimento”.

 

O responsável da ONU salientou o apoio que tem sido dado à vertente económica, realçando que é importante assegurar que a dívida seja sustentável porque, em caso contrário, os países mais endividados não terão capacidade para ultrapassar esta situação da Covid-19.


“Esta negociação (relativa à dívida) nós esperamos que seja positiva para os países especialmente para Angola e que, através, de uma diminuição da pressão sobre o serviço da dívida o país possa recuperar recursos para a sua implementação.

 

Capital humano é a maior força de Angola

 

Após nove anos em Angola, Paolo Balladelli, de partida para uma nova missão, destaca a alteração das prioridades e o atual foco no capital humano que considera ser “a maior força do país”.

 

Pier Paolo Balladelli vai regressar à sua área de especialidade, desta feita na Venezuela, integrando a Organização Pan-Americana da Saúde, um organismo internacional que faz parte da Organização Mundial de Saúde (OMS).