Luanda - Hoje é hora de cada um perguntar se devemos, ou não, agradecer ao Titular do Poder Executivo (governo unipessoal), por nos ter, em tão pouco tempo, tornado imortais.
IMORTAIS, sim!

Fonte: Folha8

COVID -19 TORNOU-NOS IMORTAIS

A invulgar energia governativa, em concentrar recursos financeiros públicos, exclusivamente, para a importação de medicamentos, material gastável e recursos humanos, para atender os infectados do COVID-19 parece demonstrar que todos quantos sobrevivam a esta pandemia, estarão imunes às outras endemias e doenças.


A fome, diariamente, mata mais de 150 pessoas (entre crianças, jovens e idosos), 878 de malária, 596 de paludismo, 350 de febre amarela, 480 de diarreias, 50 de doença do sono, 98 de gota, sem que os holofotes governamentais as coloquem nas estatísticas, como se, de repente, os angolanos se tornassem imortais, face ao COVID–19.


Somos mortais e, estupidamente, empurrados por um diagnóstico selectivo, enquanto se calcina o péssimo atendimento nos hospitais, onde falta tudo, para um eficaz atendimento ao cidadão, empurrado, antecipadamente, para as valas dos cemitérios.


O coordenador do Programa Nacional de Luta contra a Malária, José Martins, deve ser um homem decepcionado, pelo aumento de mortes: 2.548 óbitos por malária, no primeiro trimestre deste ano, ante o descaso de quem de direito, por não ter meios para estancar a propagação de uma epidemia que mata, todos os dias, mais angolanos, que os casos positivos do COVID, apresentados, pomposamente pela ministra da Saúde e pares, em Luanda.


Só de Janeiro a Junho de 2020 existem mais de 250.437 casos de Malária, com alguns sintomas muito próximos do da COVID-19, a nova menina de ouro do Executivo, que enterra milhões e milhões de dólares, em menosprezo claro das demais doenças.


Infelizmente, o Presidente da República e o seu staff esquecem-se ser a Malária a principal causa de morte, do absentismo escolar e laboral, bem como dos internamentos nos postos médicos, centros clínicos e hospitais, devido à catastrófica situação de saneamento básico, cujas valas comuns, são as principais fábricas de produção de mosquitos.


Outrossim, como antever resultados positivos no combate à COVID-19, quando o executivo, desconseguiu manter os níveis do controlo das principais epidemias, muitas à beira da extinção, no tempo colonial e que vêm, infelizmente, se agravando, nos últimos 45 anos, face à indiferença e incompetência de gestão de um sector tão importante como o da saúde.
As permanentes políticas paliativas poderão ser responsáveis por crimes graves, num futuro próximo, quer pelo descaso, como do caso, uma vez a visão míope, ser avessa a um verdadeiro programa nacional de prevenção de saúde pública. Vencer as epidemias e a pandemia seria possível, se o Executivo buscasse a competência, numa âncora que coloca Angola no topo dos países com abundantes bacias hidrográficas.


Sendo a água a primeira vacina: “Lave as mãos com água e sabão”, para combater a COVID-19 e demais doenças, a fome e a seca, se o Executivo não a consegue levar, com regularidade às escolas, residências, hospitais, para atendimento dos cidadãos, nada leva a augurar, a redução da mortandade, no país.

SOBERANIA ESCANCARADA AOS ESTRANGEIROS

Os sucessivos erros na política, tomados por agentes com responsabilidade pública, pagam-se caro, principalmente, quando depois de alcandorados, ao topo da magistratura republicana, quer seja, através de indicação ideológica, golpe militar, nomeação monárquica ou eleição, lesam, caprichosamente, terceiros de boa-fé (populações e povos).


Um alto dirigente político, comprometido com o país e a cidadania tem no ponteiro da sua bússola, um único objectivo de nobreza: implantar um verdadeiro projecto de sociedade, oposto aos vulgares, sarcásticos e sanguinários projectos de poder.


Angola, o nosso belo e pujante país, com potencialidades capazes de conferir dignidade a cada um dos seus cidadãos, que, em 1975, sonhou em ser, verdadeiramente, independente, política e economicamente dos estrangeiros, em homenagem a soberania e orgulho angolano, navega em águas turvas, com a recorrente falta de educação, saúde, emprego, desenvolvimento económico e estabilidade social, fruto de uma gestão absolutista, com laivos de fascismo, ditadura, monarquia, socialismo barroco e neocolonialismo.


O país nunca esteve tão mal, como nos últimos anos, fruto de uma visível falta de estratégia republicana, responsável pelo aumento da fome, miséria, inflação, desemprego e elevada frustração dos jovens, descrentes nos políticos e política, por isso uma grande maioria desejosa em imigrar para o exterior do país.

 

Muita dessa frustração reside no facto de estar a viver-se uma espécie de colonialismo económico, depois de João Lourenço ter dado carta-branca aos estrangeiros de poderem constituir, empresas a 100%, acabando com a lei anterior, que impunha empresas mistas: 51% (estrangeiro) e 49% (angolano), visando ajudar a criar uma classe empresarial nacional forte.


Agora assiste-se a implantação de latifundiários estrangeiros, com a aquisição das melhores e grandes extensões de terras aráveis, compra de fábricas, supermercados, armazéns de comida e lojas retalhistas, tudo na mão de quem é ajudado pelos respectivos países, com financiamentos bonificados, para investir no estrangeiro, no caso Angola.


O caso da venda de terras, sem rigor, coloca em risco a soberania de um país e, Angola, não fugirá a regra, muito em função das medíocres opções neoliberais adoptadas por um péssimo programa económico, que violenta, diariamente a vida dos autóctones angolanos.


Muitos Estados, estrategicamente, pela falta de zonas aráveis, adquirem, em países, cujos líderes, não têm uma real visão nacionalista, grandes e significativas extensões de terras aráveis, onde implantam métodos avançados de produção agro-pecuário, virados para a exportação, que não é mais do que uma verdadeira reserva alimentar, para os seus respectivos países, contando com a mão de obra barata dos angolanos, que passam a trabalhar como escravos do século XXI, na própria terra, comendo fuba podre, peixe podre e ganhando 50 angolares (20 mil kwanzas/mês), com o beneplácito do executivo angolano. Uma vergonha! Um crime de lesa pátria!


O Presidente da República na senda de adoptar as políticas do FMI, se não for mais cauteloso, poderá estar a ser usado como peão, para venda das principais empresas públicas, minas, terras, do país ao desbarato ao capital estrangeiro, que com forte poder económico, poderão, num curto espaço influenciar e depois deter o poder político do país.
O MPLA, aliás, já deu o mote, mostrando ao país não ter pejo em oferecer a nacionalidade, por dá cá aquela palha, a estrangeiros, muitos dispostos a trabalhos sujos, como os traficantes de armas; francês, Pierre Falcone, russo Gaydamak, ou o burlador bancário polaco, Tomaz, responsável pela falência do banco BANC, nomeado coordenador do CAP (Comité de Acção do Partido) do MPLA de Belas, em Luanda.


E com o domínio destas duas importantes ferramentas: Economia e Política, não espantará ver; “chilatos” (filho de angolana com chinês); “libatos” (filho de angolana com libanês); “francolatos” (filho de angolana com francês); “inglato” (filho de angolana com inglês); “tugato” (filho de angolano com português); “maliatos” (filho de angolana com maliano); “polatos” (angolana mais polaco), etc., num futuro breve a concorrer para os mais relevantes postos de comando no país.


Actualmente, nos programas exibidos nas cadeias de televisão e rádio, sobre a diversificação da economia, veem-se, para tristeza dos autóctones, fábricas, obras de construção civil, minas e fazendas agro-pecuárias, maioritariamente dominadas ou pela nova casta do MPLA ou por estrangeiros, que se gabam de abocanhar a maioria dos financiamentos bancários. Os conflitos de terras, um pouco por todo mundo e África, em particular, resultam das más políticas de determinados líderes de países africanos complexados e sem um verdadeiro projecto de sociedade, capaz de guindar os seus cidadãos a patamares de desenvolvimento digno.


O Quénia, cujas plantações de chá e flores contribuem, grandemente, para o seu PIB, com mercado seguro, na Inglaterra e Holanda, conhecido como país das tulipas, estas chegam, diariamente, deste país africano, produzidas por latifundiários estrangeiros.


O Zimbabwe é dos maiores produtores de tabaco, também, flores e vive situação igual, pois as melhores terras ou estão na mão de estrangeiros ou de brancos locais, que discriminam os seus irmãos de raça preta, factor que esteve na base do conflito de terras, por sinal, muito mal gerido pelo ex-presidente, Robert Mugabe, cujas opções políticas levaram o país a fome e miséria, sem precedentes, que levou ao seu derrube.


A Europa, a China e a Índia, por exemplo, não têm muitas terras aráveis bastantes, para a sua auto-suficiência alimentar, logo, a estratégia é a de comprarem grandes extensões, no nosso continente, no fito de não lhes faltar os produtos nas suas terras e, quando surgem, verdadeiros líderes, comprometidos com o orgulho e futuro dos seus povos, ou morrem cedo, como Nelson Mandela ou são assassinados como Tomas Sankara.


Por esta razão, os cidadãos, enquadrados ou não nos partidos políticos, na sociedade civil, organizada deverão iniciar debates sérios, sobre o rumo actual do país, a estratégia que está a ser seguida de desmonte da economia nacional, a fome, a miséria, o desemprego, a luta contra os pobres, para se aferir da importância e urgência de realização de uma verdadeira revolução social, capaz de devolver-nos, a independência nacional, as nossas línguas, as nossas tradições, os nossos costumes, a nossa gastronomia, os nossos nomes, o nosso orgulho de ser angolana e angolano.


Pensemos nisso. Pensemos país, para não acordarmos, um dia, e nada mais nos pertencer, numa reedição das tenebrosas noites dos cinco (5) séculos de colonização, mas agora, devido às políticas erradas de uns poucos, partidocratas no poder.