Luanda - Quando se fala do Hino nacional de Angola, obviamente, vem logo no nosso imaginário o "Angola Avante". Aliás, é um dos principais símbolos nacionais, e sem medo de errar, o mais conhecido (pelo menos a sua instrumentalização). Trata-se de uma relíquia, adoptada pelos angolanos em 1975, escrita por Manuel Rui Monteiro e a composição coube à Rui Mingas. Uma obra elaborada à custo zero, sublinha-se, NÃO HOUVE MIXA!

Fonte: Club-k.net

Como é possível que 45 anos depois da criação do "Angola Avante", e num ambiente de recessão económica, onde a população padece de quase tudo (para não dizer tudo), em parte, agudizada por conta da pandemia da Covid-19, o (des)governo de Angola, através do Ministério da Cultura, aprovou um contrato de mais 148,3 milhões de kwanzas, simplesmente para escrever a letra, gravar a música e o videoclipe do hino oficial da celebração dos 45 anos da Independência Nacional.

Na semana que a cultura nacional está de luto, face ao passamento físico de dois monstros da música angolana, nomeadamente, Waldemar Bastos e Carlos Buriti, eis que surge uma tremenda ofensa, aos verdadeiros embaixadores dos sons e tons da musicalidade nacional. Imagino os nervos à flor da pele daqueles que idealizaram o "Angola Avante", ao tomarem conhecimento que os músicos e/ou compositores da nova vaga cobram quase 150 milhões de kwanzas, em nome da nação.

Não vou perder tempo a olhar para o histórico da empresa beneficiária do "misterioso" concurso, muito menos da lisura do mesmo (não merece a minha atenção), porque independentemente do vencedor ou das circunstâncias em que foi realizado, não encontro justificação plausível para que o Executivo angolano gaste "um tostão" para pagar algum músico, seja Ele nacional ou estrangeiro, para dar voz aos 45 anos da dipanda. Tratando-se de um ano atípico, em que o mundo vai ressentindo drasticamente os efeitos do novo Coronavirus, e Angola não é excepção, sem perder de vista que tem havido uma mobilização a nível dos músicos na realização de "Live solidária", a inércia do ministério de tutela não lhe permite apelar ao bom-senso dos fazedores de música no sentido de elaborarem algo para o efeito.

Só pode ser anedótico! Com tantos problemas básicos que o país enfrenta (de Cabinda ao Cunene) o governo gasta tanto dinheiro para fazer um hino, que não tem impacto socio-económico na vida do cidadão? Afinal, em que país vivemos afinal?


É desse jeito que queremos melhorar a imagem de Angola além fronteiras?

Até aonde vai parar o folclore da mixa? Será que existe um ccampeonato" de quem melhor mixa em Angola e nós estamos alheios a essa realidade?

 

Se por ventura essa "pouca vergonha" foi consentida pela anterior Ministra da Cultura, Maria da Piedade de Jesus, exigimos que a mesma venha pedir desculpas à nação, e de imediato peça a sua demissão, até porque, foi reconduzida ao cargo de Secretária de Estado da Cultura. Deixem de hipocrisia, Hipócritas!

 

Os músicos envolvidos nesse "caça tesouro", talvez tenham se esquecido que o projecto "pomba branca"(se calhar alguns não estavam nascidos), por exemplo, reuniu as melhores vozes de Angola, da época, à custo zero.


Uma das medidas imediatas que a titular do pelouro da Cultura deve tomar é suspender de imediato a emissão do maldito videoclipe (se for possível), e evitar um escândalo maior. Até agora não sei se continuo a chorar a morte de Carlos Buriti e Waldemar Bastos, ou continuo a escorrer lágrimas de revolta diante de tamanha falta de patriotismo dos "músicos materialistas", que ainda não desacostumaram da "chupeta" do tempo da outra "Senhora", que de forma absurda apresentam orçamentos milionários que se resumem em verdadeiras "kargas" no fardo pesado do pacato cidadão, só para não citar a lista de fazedores de cultura (músicos, artistas plásticos, actores de teatro) que não têm condições de pôr pão à mesa.

 

Visto o assunto de forma desapaixonada, claramente que a "Karga Eventos" não é culpada por estar "arrolada" nessa situação, até porque, não "forçaram" a ser contratados.


Porém, o lado bom da "estória" é que o responsável da empresa, Big Nelo, afirmou numa entrevista concedida a um canal de televisão angolano, que até agora não foram pagos, apesar do videoclipe estar numa ordem de execução técnica de 70%.

De contrário, oxalá que essa música venha mudar a vida dos angolanos, que a mesa esteja mais recheada, a cesta básica mais reforçada, que haja mais energia e água, que não morram mais crianças de paludismo, que a assistência médica e medicamentosa, seja, literalmente, gratuita.