Luanda - A expressão “híbrido”, em simples termos, reflete uma mistura, por exemplo, um mulato é geneticamente híbrido. Escrever um texto em Português, com variações linguísticas de Angola, Brasil e do Acordo Ortográfico, é uma hibridação. Veja a seguir:

Fonte: Club-k.net

O Acordo Ortográfico (AO), existe desde 1994 e ratificado pelos países da CPLP, mas Angola por razões subjectivas, tem adiado a implementação. Porém, a nossa resistência, é parva! Alguém vai dizer que existe uma Comissão a velar por isso. Essa conversa, existe a quase 30 anos! Por isso, independentemente da decisão que será tomada, já somos todos híbridos!


Nós somos dependentes da literatura Portuguesa e Brasileira, em rigor, são os únicos que escrevem na CPLP e o fazem em conformidade ao AO. O consumo daquela literatura, transforma a nossa estrutura psico- linguística. Ou seja, a nossa grafia despiu-se de identidade, porque assimilou as variações do AO não ratificado.


O aluno é “pro-activo”, mas quando for ler, torna-se “proativo”, parece normal, mas é uma miscelânea! Observem as monografias feitas por eles. Pior é saber que os profs. não estão imunes, alguns nem se quer sabem que há uma escrita segundo AO, e limitam-se a dizer que escrever “ação”, é português brasileiro. Ups!


Somos fuzilados em todos os lados, até o pacote do Microsoft Office é traduzido conforme AO, como é que não nos tornamos híbridos? Mais uma vez, a nossa resistência, é parva! Entretanto, pensamos que a fraqueza é para nós que assimilamos atoa, foi assim que espreitamos em algumas Revistas Científicas, para aferir a grafia dos profs. universitários e pesquisadores, e concluímos que somos todos híbridos!


Mal verificamos à Revista Órbita Pedagógica vol. 3, no1, 2016, encontramos José Dassala e Gervásio Kaluhongue que escreveram, “controle, ativa, pertencimento, coletiva, atuação etc.” ao invés de “controlo, activa, pertença, colectiva e actuação” (pp. 1-6). Atenção! Os autores não escreveram segundo o AO, naufragaram na hibridação!


Encontramos no artigo de Mbiyavanga Queria as palavras “autoconscientização e teleaulas” ao invés de “autoconsciencialização e tele-aulas” (p. 93), na Revista Extensão Universitária, v.2 n. 3. 2020. Saltamos para o RAC, encontramos o artigo de Helga Freitas Reis e outros autores, com a palavra, “desatualizado” ao invés de “desactualizado”. UPS! Somos todos híbridos!


Na Revista Sol nascente, chama-nos atenção, o artigo do meu amigo Carlos Pascoal, especializado em Linguística Portuguesa. Mesmo escrevendo para revista angolana, optou em escrever com AO. Quando questionado via e-mail, ele foi pragmático: “sinto-me mais confortável escrever em AO”. De facto eu também. Os formados em Portugal ou Brasil compreendem melhor o desconforto da hibridação! Tudo atoa!


Você lembra do texto do deputado João Pinto, que tinha sido desconstruído por um articulista do Jornal de Angola? Naquele texto, o deputado João Pinto, ao invés de escrever “económico”, escreveu “econômico”, eu não acredito que ele não saiba escrever. Prefiro pensar que ele tornou-se híbrido, por isso, atarracou o agudo com circunflexo.


Somos todos híbridos! leia os jornais físicos e digitais, observe atentamente nas legendas dos nossos canais televisivos, perceberás como é que somos todos híbridos. Hoje mesmo, sem qualquer intenção, ao ler um artigo no Club-K intitulado, “comandante da polícia em tiroteio com rival”, encontrei a palavra “seletiva” ao invés de “selectiva”. Meus irmãos, somos todos híbridos!


Eu que escrevo esse texto, sou igualmente híbrido, vítima da indecisão do executivo. E agora? O que fará o executivo? Oficializar o hibridismo ou ratificar o Acordo Ortográfico e acabar com a miscelânea? Também não sei, só sei que somos todos híbridos!


De Anil Vila