Luanda - A vida é injusta! Será que só eu não posso ter? Só eu não consigo? Porque outros têm e eu não... qual é a necessidade de existir na sociedade essa diferença nas oportunidades? Por que a desigualdade no trabalho, mercado ou nas mais diversas actividades sociais?

Fonte: Club-k.net

A incompreensão da estratificação social

Muitas são as pessoas que lutam extremamente num único dia para conseguirem pôr o mínimo de alimento à sua mesa, enquanto outros tendo em fartura preferem esbanjar superfluamente em jóias raras, roupas caras, carros do ano, iates, jactos e mais alguma coisa. Por outro lado temos dois grupos de pessoas diferentes num só convívio, o convívio social. O primeiro grupo é o das pessoas satisfeitas ou maioritariamente realizadas, e o segundo grupo é o das pessoas que têm uma grande indignação pela vida pela dureza da vida em suar a cada segundo, minuto, hora, dia, semana para conseguir sobreviver, devido à carência de bens e serviços. Estes grupos tão distintos completam a famosa Sociedade.


Para Engels (Apud. Vunge, 2019:18): “ Quanto menor for o rendimento de uma família, maior tenderá ser a proporção dos seus rendimentos gastos em alimentação, e menor será a proporção dos rendimentos, gastos em cultura, lazer e gastos diversos ou supérfluo (roupas caras, produtos electrónicos, perfumes, jóias, carros top de gama). Mas quando o rendimento aumenta, as famílias naturalmente gastarão mais dinheiro em rubricas como cultura, lazer e gastos com alguns bens de luxo. Observa-se que nas famílias com maior rendimento, a alimentação perde importância, enquanto os gastos diversos ganham maior expressão”.


Estas duas famílias diferenciadas por Engels, estão inseridos no mesmo puzzle, a chamada sociedade. É através dessa diferença que nos remetemos à seguinte pergunta: é a pobreza um problema social ou uma diferença hierárquica?


Tentaremos ao longo deste micro texto discorrer à uma discussão que nos ofereça uma resposta que pareça simples ao entendimento do leitor.

Problema Social: Uma limitação no poder económico.


Um problema de relações humanas que ameaça seriamente a própria sociedade ou impede as aspirações importantes de muitas pessoas, é isto que a Sociologia considera como problema social. Um problema social existe quando a capacidade de uma sociedade organizada, para ordenar as relações entre as pessoas, é carente, ou seja, apresenta insuficiências.


Não é a pobreza de um indivíduo que interessa a Sociologia, ao sociólogo interessa o índice de pobreza, constitui-se problema social quando não se mantém para o conjunto social ou a sociedade, o básico de Saúde, Educação, Alimentação e Empregabilidade. Analiso a pobreza como um problema social, quando esta oprime ou reduz poder económico de um vasto grupo social.


Olhamos a pobreza como problema social, se esta dificultar o desenvolvimento, limitar o poder de aquisição, oprimir a Educação e outros processos sociais, ou seja, quando uma sociedade carece de vários bens e serviços que viabilizam o seu fluir, esta é pobre. Nesta perspectiva, podemos olhar a pobreza não como sendo um problema em si, mas que muitos problemas que afectam a sociedade são inerentes a ela.


Quando determinado grupo ou sociedade vê suas relações ameaçadas ou seus desejos ou objectivos sendo impedidos por falta da disponibilização dos vários bens e serviços próprios, é provável que, haja até o processo da emigração.


Se uma sociedade ou grupo não tiver o mínimo de saúde, educação e poder de aquisição nos bens alimentícios ou outros serviços complementares, como exemplo, não temos hospitais ou estes são pobres, não há escolas ou as que temos carecem de materiais, se sendo profissionais não tivermos emprego ou pior não termos qualquer condição mínima para colocar o básico de alimentação em casa (como é o caso dos vários lugares em Angola). Então significa que nossas aspirações importantes estão sendo impedidas, o que é sociologicamente considerado um problema social. Daí partimos para questões como: é a pobreza um problema ou o factor dos muitos problemas que afectam a sociedade?

Uma diferença hierárquica: A incompreensão da estratificação social.


Estratificação social, é a diferenciação de indivíduos e grupos em posições, estratos ou camadas. Embora existam muitos factores considerados universais, nos apegaremos tão-somente ao sistema de posições, não aos indivíduos que as ocupam, pois, perguntar como diferentes posições implicam diferentes graus de prestígios é totalmente diferente de perguntar como alguns indivíduos as assumem!


É provável que, ao compreender a estratificação social o caro leitor analise e compreenda as diferenças sociais despindo-se dos anteriores julgamentos. A priori devemos compreender que a estratificação é necessária para qualquer sociedade que se quer organizada.


Necessidade Funcional da estratificação


A exigência enfrentada por qualquer sociedade de situar e motivar os indivíduos na estrutura social, é curiosamente, a principal necessidade funcional que explica a presença universal da estratificação. Como um mecanismo em funcionamento, a sociedade deve de alguma forma distribuir os seus membros em posições sociais e induzi-los a executar os deveres inerentes a elas (as posições). Por exemplo, se os deveres associados às várias posições tivessem todos o mesmo agrado ao organismo social, se tivessem a mesma importância para a sobrevivência da sociedade, e, se necessitassem igualmente da mesma habilidade ou talento, não faria diferença quem estivesse em que posição, e o problema do enquadramento dos indivíduos na sociedade seriam muito reduzidos. Não somente porque algumas posições parecem mais agradáveis que as outras, mas também porque algumas posições requerem treinamentos especiais ou talentos, e ainda, há algumas funcionalmente mais importantes do que outras (só na função), é compreensível que, é o professor mais importante que a funcionária de limpeza na escola, o médico mais importante que a secretária no consultório e o Jogador mais valorizado que o técnico de saúde no desporto. As recompensas são lhes atribuídas de acordo as posições. Elas fazem parte dos direitos ligados à posição.


Segundo Davis e Moore (1945:244?): “Antes de mais nada tem as coisas que contribuem para a subsistência e conforto; a seguir, as que contribuem para o humor e a diversão; e finalmente, as que contribuem para o auto-respeito e a expansão do ego...”


Em qualquer sistema social, cada um destes três tipos de recompensa devem ser diferencialmente dispensados tendo em conta as posições. Daí que existe a necessidade desta desigualdade na sociedade. Por outro lado o organismo social ou simplesmente a sociedade, é dinâmica e há um contínuo desenvolvimento, no sentido de que indivíduos nascem dentro dela, mudam de lugar com a idade e morrem, ou seja uns vão outros vêm, a sociedade permanece. Nós encontramos a sociedade e a deixaremos, ela receberá outros que desempenharão as mesmas funções dentro da estratificação social.

Conclusão


Embora propícia de uma análise multidimensional, o assunto sobre pobreza carece de uma atenção das diferentes especialidades do conjunto social, aqui deixamos o apelo aos profissionais das diversas ciências sociais, para que se dignem a variadas pesquisas, investigações e debates a que tal fenómeno se submete, consideramos que não é apenas do interesse do sociólogo como também do Psicólogo, Economista, Analista Político, Gestor, Antropólogo, Historiador, Geógrafo e finalmente dos profissionais na área do Direito. E, porque o facto social é total, ou vulgarmente abrangente nas diversas áreas da sociedade, fica o convite estendo-se desde os profissionais acima mencionados aos agentes que actuam de perto na interacção com os diversos grupos sociais, a saber: Escola, Igreja, e a mídia. Que as discussões organizadas sobre estes e diversos assunto que estão no cerne da sociedade, pois, ainda aqui encontramos a problemática da estratificação social. Não é pois, o Pastor mais importante que o varredor da igreja nos seus cultos? E o Jornalista, não é mais importante que o operador de câmera na transmissão informativa? O que parece dilema social, em muitos casos nas sociedades em desenvolvimento ou não desenvolvidas, é o facto de o órgão do governo ter mais prestígio que o povo! 1.000.000 Para o ministro (servidor público) e 8.500 para a família (público a ser servido). Tal assunto poderá ser discutido ao tratarmos das principais funções societárias e a estratificação. Porém, é necessário que se compreenda a necessidade funcional da estratificação, e, as desigualdades inevitáveis e inerentes à estratificação, e sine qua none ao dinamismo do organismo social.


A Sociologia agradece!

Referências Bibliográficas
Some principies of stratification, in american sociological review, Abril de 1945, pp. 242-249, Kigsley Davis e Wilbert E. Moore.
Lakatos, Eva Maria (2013): Sociologia Geral, 7a edição, S. Paulo, Atlas.
Vunge, Daniel Martins (2019): A Doença do Dinheiro, Luanda, COETUS, pp. 18. Estratificação social (2002) in Dicionário de Sociologia, Porto Editora, pp. 143.