Luanda - Hoje (26 de Setembro) assinala-se o terceiro ano do mandato de cinco anos do presidente João Manuel Gonçalves Lourenço (JMGL), após 38 anos de (des)governação do camarada José Eduardo dos Santos.

Fonte: Club-k.net

No discurso da cerimónia de investidura, JMGL vincou as principais linhas da sua estratégia de governação sob o lema "melhorar o que está bem e corrigir o que está mal". Entretanto, já foi consumido 60% deste tempo e será que conseguiu corrigir o que estava mal e melhorar o que estava bem?

Para analisar o âmago da questão, selecionamos as principais acções sócio-económicas, com o intuito de compreender se as mesmas foram cumpridas ou não.

1. Combate à pobreza

Volvidos três anos, o combate à pobreza se resume na distribuição de enxadas, catanas, sementes, kits de engraxadores, pintos, cestas básicas e transferências monetárias de 8.500 Kwanzas/mês para as famílias mais desfavorecidas. Se essas políticas são boas, por que os angolanos estão a ficar cada vez mais pobres?

Segundo o relatório de Julho de 2020 do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM), a taxa de incidência da pobreza a nível nacional foi estimada em 54% nos anos 2015-2016.

O IPM está constituído por quatro dimensões: 1) saúde; 2) Educação; 3) Qualidade de vida; 4) emprego. Portanto, numa visão holística destas quatro dimensões, constata-se uma deterioração acentuada das mesmas nos últimos três anos e, usando os dados não manipulados de 2017-2020, tenho a certeza que a incidência da pobreza a nível nacional será estimada acima do valor anteriormente apresentado.

2. Combate à Corrupção e impunidade

Existem algumas pessoas que foram responsabilizadas criminalmente, mas, o combate à corrupção e impunidade, epicentro da governação de JMGL, é um fracasso. O mesmo é selectivo, protegendo um grupo hegemónico.

É um combate de deux poids, deux mesures, ou seja, de padrão duplo, isto é, são aplicados julgamentos diferentes para situações semelhantes. Razão pela qual, houve pesca de carapaus, lambulas, sardinhas, bagres, corvinas, ou seja, pesca de peixes miúdos, deixando no alto mar tubarões e baleias.

3. Diversificação da economia

A diversificação da economia em Angola continua sendo a realização de substituições de importações, facto que constitui uma falácia económica por parte do executivo.

A diversificação da economia implica um incremento à criatividade intelectual, ou seja, qualidade no ensino e pesquisa no sentido de garantir, posteriormente, a produção com alto valor agregado.

Portanto, compreende-se que, as políticas económicas do JMGL circunscrevem-se no imediatismo, principalmente para tirar vantagens políticas imediatas sem ter em conta o bem-estar e a qualidade de vida das gerações presentes e futuras.

4. Micro-crédito

A forma selectiva na concessão de crédito, os períodos de carência e de reembolso e o alto juro real praticado pelos bancos não ajudaram, sobretudo, as micro e pequenas empresas na continuidade das suas actividades. Em Luanda, por exemplo, registou-se a falência de 172 empresas no ano 2017 (INE, 2018), sem mencionar as falências nas 17 províncias restantes.

Não houve grande melhoria no volume de crédito, conforme prometeu o chefe do executivo. O reduzido volume de crédito com elevados spreads afectou negativamente, sobretudo, os agentes económicos acima mencionados e as famílias.

De uma forma geral, JMGL ainda não corrigiu o que estava mal e não melhorou o que estava bem. A sua governação pode ser considerada negativa, visto que as acções projectadas e os resultados observados são diametralmente opostos.