Luanda - Questão prévia: Os nossos pronunciamentos públicos, como o que fazemos agora, são meros exercícios que refletem e manifestam a nossa condição de cidadania, não se enquadrando, desde logo, no vínculo que temos com o jornalismo, por suspeições ou impedimentos legais, muito menos no funcionalismo público!

Fonte: Club-k.net

A semana que findou ficou marcada com um assunto que, na verdade, é um não assunto na óptica de muito boa gente, como é o nosso caso. Ou seja, um assunto que, se rigorosos, nunca dominaria debates nem mesmo de corredores, como se assistiu aqui e acolá.

Em função da opinião pública e publicada antecedente ao discurso de Paulo de Almeida, sobre pretensos excessos de alguns agentes da Polícia Nacional, o número um da corporação entendeu, e muito bem, anunciar o retorno de muitos efectivos às escolas, tendo utilizado um verbo de facil interpretação (VOLTAR).

Porém, minutos depois a mensagem predominante nas redes sociais, essencialmente, (criada por algumas pessoas mais ou menos esclarecidas) era de que Paulo de Almeida terá reconhecido que os agentes com que trabalha nunca tinham estudado, daí os excessos na actuação!

Tal opinião circulou de uma forma tanto quanto pejorativa e célere que, dentremente, procurou-se justificar o que nunca foi dito por aquele.

Até aqui, nada mal e sem problema aparente.

O problema, quanto a nós, surge e surgirá quando se pretende perceber como é que uma "consciência nacional" é capaz de ser criada nesse sentido, na pura simplicidade e leviandade como se de um bando de rebanho se tratasse!

Como é que se pode perceber, e com coro pela frente, que VOLTAR à escola é um problema? Que é reconhecimento de burrice? VOLTAR a estudar é sinal de fraqueza? VOLTAR a ler é sinónimo de má formação e com isso criar um facto cujo consenso é de larga dimensão?

Depreende-se, no entanto, que tal resulta de antecedentes históricos e ainda visíveis até no léxico nacional, claros que, infelizmente, fazem parte do nosso sistema educacional e de ensino e, às vezes, não pensados como é desejável.

Antecedentes que formalizaram o sentimento de que os estudos terminam. Estudar tem fim. Aliás, entre nós é normal ouvir e dizer que - o fulano ou sicrano terminou os estudos - referindo-se a conclusão de um nível de ensino, médio, graduação ou pós-graduação.

Portanto, um País em que se pensa assim, em que há esse entendimento quase que consensual é susceptível de produzir uma hermenêutica tanto quanto desfeita, em termos de sentido e lógica da realidade, isto por um lado. Por outro lado, é estupefacto assistir que muita gente tenha caído na ideia de que Paulo de Almeida terá dito que os seus agentes não estudaram.

Estupefacto porque embora tal tenha sido criado com propósitos disso mesmo, (desacreditar, beliscar, desmotivar) era expectável que os consumidores de tal informação "forjada" para fins jocosos encontrassem no "mercado" alguma crítica. Alguma análise ligada à natureza, até mesmo do próprio verbo VOLTAR.

Aliás, é básico perceber que só volta quem um dia foi, por isso, é forçoso o entendimento que se criou, transmitiu e, no caso, suficiente para que percebamos que, de facto, alguma coisa anda mal.

Anda muito mal ao ponto de não se conseguir perceber que o discurso é demonstrativo de uma realidade normal, universal e com ênfase nas forças policiais onde o "refrescamento" de quadros deve ser uma dialética constante e, sempre, necessária.

Muito mal quando se chega ao ponto de uma interpretação errónea (como a que vimos) convencer uma maioria considerável de cidadãos, sem que, dentre eles, haja crítica do que se recebe.

Muito mal quando se defende que o discurso, na parte em epígrafe, terá sido inconclusivo, revelando, desde já, a pobreza generalizada em termos de elasticidade mental, de alcance do pensamento e da construção mental, automática das ideias, na perspectiva de um processo cognitivo completo.

Muito mal quando se constroi mentes revertidas em simples "armazens" e sem a capacidade de expurgação, selecção, questionamento capazes de recusar ideias descontextualizadas, infundadas, ilógicas e isentas de quaisquer fundamentações.

Muito mal quando teses dessa natureza, resultantes de pensamento medíocre ganham terreno, coro e seguidores que, depois, a defendem com todos os dentes possíveis como verdade absoluta.

Enfim, o coro que essa situação angariou é bastante para que, de uma vez por todas, percebamos que a opinião pública e publicada formada a volta dos "80% DE PAULO DE ALMEIDA [DEMONSTRAM] O MAL DE "TERMOS" ESTUDADO MAL" e, por conseguinte, chamar o nosso amigo Gildo Matias e Isaac Paxi, ambos do Ministério da Educação, para renovarem , com a brevidade possível, o conteúdo programático tendente a sistematização dos níveis de interpretação, pois, a E.V.P, Química, Física, Educação ao Meio e outros demonstram total inutilidade neste sentido...