Luanda - Angola assinala hoje 45 anos da independência do país, um feriado em que está prevista a realização de uma manifestação, organizada por um grupo de jovens ativistas, com o objetivo de exigir melhores condições de vida e que seja apontada uma data para as primeiras eleições autárquicas

Fonte: TVI

O ativista angolano Benedito (Dito) Dalí, um dos organizadores da manifestação prevista para hoje impedida pela polícia, classificou como "um terror" a ação das autoridades a impedir a ação de protesto.

 

Uma situação de terror que estamos a viver aqui, um verdadeiro estado político, que este regime institucionalizou neste país, que não permite que as pessoas se manifestem livremente face ao descontentamento", disse à Agência Lusa Dito Dali, sobre a manifestação que tinha como objetivo reivindicar melhores condições de vida para os cidadãos e a marcação de uma data para as primeiras eleições autárquicas.

 

Segundo o ativista, um dos rostos do conhecido grupo 15+2, detidos e julgados em 2017, os manifestantes foram afastados, depois de terem conseguido chegar próximo ao cemitério de Santa Ana, local marcado para a concentração.

 

Estamos aqui num bairro onde nos escondemos, mas estamos a sair para poder ler o manifesto e apelar ao pessoal para que voltem para as suas casas", referiu Dito Dali.

 

Para o ativista, "o essencial já foi conquistado", porque conseguiram "deixar a máquina desesperada".

 

Movimentaram a máquina de Estado por causa de uma simples manifestação", frisou Dito Dali, realçando que "há vários detidos, alguns feridos", entre quais o ativista Nito Alves, que se encontra a receber assistência no Hospital do Prenda.

 

Instado a comentar a acusação da polícia, sobre atos de desordem cometidos pelos manifestantes, Dito Dali disse que "essa foi sempre a linguagem deles".

 

Sempre nos acusaram de desordem, de queimas de pneus, o que não é verdade, sabemos que a polícia tem estado a infiltrar agentes nas manifestações para criar desordem e distúrbio, para depois imputar responsabilidades aos manifestantes", retorquiu.

 

Angola assinala hoje 45 anos da independência do país, sendo hoje um dia feriado, em que está prevista a realização de uma manifestação, organizada por um grupo de jovens ativistas, com o objetivo de exigir melhores condições de vida e que seja apontada uma data para as primeiras eleições autárquicas.

 

O Governo da Província de Luanda proibiu a realização desta manifestação, evocando diversos motivos, um dos quais o não cumprimento do Decreto Presidencial sobre o estado de calamidade pública, que impede ajuntamentos de mais de cinco pessoas nas ruas, como medida de prevenção e combate à propagação da covid-19.

CONFRONTOS COM A POLÍCIA DURANTE TENTATIVA DE MANIFESTAÇÃO EM LUANDA

Confrontos entre a polícia angolana e jovens que se querem manifestar estão a assinalar, nesta quarta-feira, o dia da independência do país, em alguns locais de Luanda, segundo várias fontes.

 

A polícia angolana está a impedir a concentração de alguns manifestantes na zona do cemitério de Santa Ana, em Luanda, e em vários bairros grupos de jovens que tentam forçar passagem são afastados com gás lacrimogéneo, constatou a Lusa no local.

 

Na zona, vários grupos de jovens tentam forçar a passagem, desafiando a polícia com cânticos e pedidos de não violência, e, na estada de Catete, há cerca de meia hora, começaram a concentrar-se outros manifestadas que foram dispersados para o interior dos bairros.

 

Relatos de ativistas indicam a detenção de vários manifestantes.

 

Em declarações à Lusa, o porta-voz do comando provincial de Luanda da Polícia Nacional, Nestor Goubel, não confirmou a existência de detidos, remetendo para mais tarde um pronunciamento das autoridades, ressaltando que estão em curso atos de intimidação, vandalismo, desordem, queima de pneus, que "a polícia está a tentar conter".

 

"Há um desrespeito total até da própria data da independência e do decreto Presidencial, mas vai haver um pronunciamento oficial mais lá para frente", referiu.

 

Nestor Goubel frisou que o uso de gás lacrimogéneo é um meio de dispersão da polícia, reiterando que os manifestantes estão a fazer apedrejamentos, provocando confrontos com a as autoridades e gritando insultos, "que a polícia tem sabido de forma pedagógica conter".