Lisboa - José Eduardo dos Santos irá deslocar-se a Angola, provavelmente em março. O ex-chefe de Estado aproveitará a estada no país para pedir uma audiência ao seu sucessor, João Lourenço. José Eduardo dos Santos encontra-se atualmente no Dubai, onde está a prestar assistência à filha, Isabel dos Santos, na sequência da morte do marido desta, Sindika Dokolo, em outubro do ano passado.

*Celso Filipe
Fonte: Negócios

Um encontro entre José Eduardo dos Santos e João Lourenço é visto como uma peça indispensável na tentativa de encontrar uma solução para os processos judiciais que visam Isabel dos Santos e José Filomeno dos Santos. Tal como o Negócios avançou a 3 de novembro de 2020, a viagem deve ser interpretada como “um sinal inequívoco de que reconhece a legitimidade do atual Presidente” e possibilitando uma nova abordagem dos casos envolvendo a família Dos Santos.


A data da viagem de Eduardo dos Santos não está ainda fechada, dependendo da situação de saúde do antigo líder angolano, assim como da imprevisibilidade que a covid-19 coloca a nível de planeamento. Todavia, existe uma efetiva intenção de que a mesma se concretize.


Uma reunião entre João Lourenço e José Eduardo dos Santos não será um sinónimo de paz automática. Até porque a posição definitiva deste último será tomada em articulação com a filha. Isabel dos Santos, até agora, tem recusado qualquer tentativa de entendimento com o atual poder angolano.


A denúncia que foi uma “traição”

Uma prova disso mesmo foi a forma como procedeu durante a chegada do pai ao Dubai. José Eduardo dos Santos comunicou a decisão de viajar ao Palácio da Cidade Alta e como tal foram acionados os mecanismos diplomáticos. Albino Malungo, embaixador de Angola nos Emirados Árabes Unidos, tratou de todos os pormenores logísticos, mas Isabel dos Santos, à chegada ao Dubai, forçou Eduardo dos Santos a recusar o transporte que lhe tinha sido assegurado pelos serviços diplomáticos. Antes disso, a empresária havia declinado o convite do embaixador para esperar pelo voo do pai na sala VIP reservada para o efeito. Estes dois sinais refletem o elevado nível de animosidade de Isabel dos Santos para com o atual poder do seu país.

Ou seja, todos os cenários para o desfecho desta guerra sem armas são plausíveis. O mais desejado é um armistício duradouro, embora ambas as partes possam aduzir argumentos para o rejeitar. João Lourenço na medida em que tem o poder, o MPLA e a esmagadora maioria da opinião pública do seu lado, José Eduardo dos Santos e Isabel dos Santos porque entendem que a crise irá deteriorar de forma significativa a imagem do atual Presidente, podendo proporcionar uma rebelião interna no seio do partido que suporta o Governo.


A reunião entre João Lourenço e José Eduardo dos Santos irá ocorrer após Manuel Vicente, num encontro mantido em dezembro com o chefe de Estado, ter entregado documentos que implicam o ex-presidente da República nos negócios de corrupção da Sonangol. João Lourenço tomou boa nota de toda a informação, mas também terá visto a ação de Manuel Vicente como um “traição”, na medida em que consubstanciou uma quebra da solidariedade entre os dois antigos líderes angolanos. Esta avaliação torna possível a criação de pontos de contacto entre ambos, transformando Isabel dos Santos na chave para resolver esta equação.