Londres - É com muita tristeza que faço este testemunho, sobre o General Chilingutila, o mais importante General da UNITA, junto do Dr. Jonas Malheiro Savimbi, na edificação das FALA.

Fonte: Club-k.net

Quando a UNITA voltou à guerra de guerrilhas em 1976, o chamado recuo das Forças da UNITA, posicionou o General Demóstenes Amós Chilingutila, na região montanhosa que ligava a província do Huambo com Benguela, nas serras do Sumi, Moko e Mepo, para destacar as mais importantes, onde o General Chilingutila implantou as unidades de guerrilha, de que germinaram, praticamente, todas as colunas a norte do CFB, da estrada Huambo Luanda até ao litoral. A leste desta estrada, a norte do Bailundo, foi obra do igualmente destemido Major Samanjolo “Nambi Yepengue” coadjuvado pelo General Jeremias Jaulo, na famosa Base de “Cilembo Cuty”, na região do Bimbi, na província do Huambo.

O papel mais destacado do General Chilingutila, porém, começa quando a UNITA, depois de sobreviver às ofensivas de Luatuta e Chimporo em 1978, começou a criar as fundações da sua Base de Apoio Revolucionária, em 1979.

Depois de comandar as Unidades que tomaram as posições militares das FAPLA no Kuangar, Kalai e Dirico, no início de 1979, é colocado junto da Direcção da UNITA, para depois da Conferência Anual de Katapi, em Maio desse mesmo ano, assumir a Chefia do COPE “Comando Operacional Estratégico”, uma versão mais operacional do ESTADO-MAIOR GENERAL, cujo Chefe, nessa altura era o Coronel Valdemar Pires Chindondo, que foi CEMG das FALA de 1975 até 1981.

Depois da formação do Batalhão Kazombuela, as FALA receberam, em Setembro de 1979, o Batalhão 333, comandado pelo então Major Álvaro Essuvi Lutukuta “Luwawa” coadjuvado pelo então Capitão Armindo Tarzan. Com este Batalhão, foram tomadas as posições das FAPLA em Mavinga, Luengue e Rivungo. As posições de Kuangar, Kalai, Dirico, Luengue e Rivungo nunca mais foram ocupadas pelas FAPLA até aos Acordos de Bicesse.

Mavinga foi tomada, pela última vez, quando era defendida pela 18ª Brigada das FAPLA, comandada pelo então Major Zé Pedro.

Em 1982, no V Congresso da UNITA, foram criadas as Frentes Estratégicas ESTAMOS A VOLTAR E FRUSTRAÇÃO DO POVO. Para o Comando da Frente Estratégica Frustração do Povo foi indicado o temido Coronel Alberto Joaquim Vinama “Chendovava”.

O General Chilingutila, na qualidade de Chefe do Estado-Maior General foi indicado para comandar a Frente Estratégica Estamos a Voltar, que ia da fronteira sul com a Namíbia até ao Caminho de Ferro de Benguela e do Rio Kuito até à fronteira com a Zâmbia e República Democrática do Congo, então Zaire – Kazombo e Luau. Era coadjuvado pelo General Arlindo Chenda “Ben Ben”.

Em 1983 foi criada a Frente Estratégica Esperança Negra, sob o Comando do então Brigadeiro Geraldo Sachipengo Nunda, que deixou a função de Comissário Político Militar – COPOMI - no COPE, criando-se, dessa forma, três espaços operacionais estratégicos que obrigaram o Comando das FAPLA a dividir as suas unidades e as suas atenções. Com isso, em 1984, ficaram criadas as condições para a abertura da Frente Estratégica Norte, sob o Comando do General Antônio Dembo, coadjuvado pelo General Abílio Kamalata “Numa” e levar o combate até às imediações de Luanda, o Centro Político Administrativo do Poder de Estado.

Nessa altura, o território nacional, estava em mais de 2/3 sob controle de Unidades Compactas de Guerrilha com uma grande capacidade de combate e de mobilização da população, em todas as suas linhas interiores, ficando o Governo apenas com o controle incipiente das linhas exteriores (as vias rodoviárias e ferroviárias nacionais), palco preferencial das Unidades de Guerrilhas Compactas e Dispersas.

O ponto culminante do Comando do General Chilingutila foi a Batalha e a tomada de Kangamba, em 1983.

Os Oficiais e os Soldados das Unidades que enumero aqui, testemunham o papel, estratégico, comando e liderança do General Chilingutila nos campos de Batalha e na Retaguarda, pela UNITA n’A Busca de Uma Angola Melhor.

Ele é um dos obreiros da transformação das Forças Dispersas da UNITA em 1976 até atingirem os níveis de Forças Semi-Regulares e Regulares, que permitiram passar da Guerra de Guerrilhas para a Guerra de Movimento.

Os primeiros passos da edificação das Forças Semi-Regulares tiveram início em 1977 com a criação do Batalhão Samanjolo – 1977 – Comandante – Major Alberto Kanjongo Pongolola “Mbunji”.

A primeira unidade Semi-Regular depois da experiência de 1977, foi o Batalhão Kazombwela – 1978 – Comandante Major Estevão Kassesse “Rino”.

A partir de 1979 então começou a criação ininterrupta das Unidades Semi-Regulares da UNITA.
Nº de Ordem Nº de BATALHÃO e respectivos COMANDANTES:

1º Batalhão 333 - Álvaro Essuvi Lutukuta “Luwawa”
2º Batalhão 327 - David Salvador Katata “Wenda
3º Batalhão 14 - Sequeira
4º Batalhão 517 - João Baptista Chindandi “Black Power”
5º Batalhão 15 - José Sangoya
6º Batalhão 275 - Sawete
7º Batalhão 210 - Chindombe
8º Batalhão 360 - Sopa
9º Batalhão 415 - Gerviz Satima
10º Batalhão 111 - Silivondela
11º Batalhão 44 - Agostinho Kamuango “Condenado”
12º Batalhão 75 - Ginica
13º Batalhão 118 - Likoko
14º Batalhão 90 - 22 - Gonçalves Kakande
15º Batalhão 17 - Ekumbi
16º Batalhão 25 - Kalutotãi
17º Batalhão 13 - Cardona
18º Batalhão 66 - Lucas Muzengo Sakaya
19º Batalhão 11 - Camilo
20º Batalhão 19 - Chilulu
21º Batalhão 15 - (novo) Chiyulo
22º Batalhão 826 - Handa
23º Batalhão 07 - Silivondela ?
24º Batalhão 23 - DeLuando
25º Batalhão 09 - Cikwete Upindi
26º Batalhão 04 - Katokesa
27º Batalhão 305 - Adriano
28º Batalhão 18 - Sachitendele
29º Batalhão 30
30° Batalhão 618 - Edú
31º Batalhão 513 - Cristiano “Sussula”
32º Batalhão 82 - Dubai Prata

Para a criação de Unidades bem treinadas, mas mais versáteis, maiores que uma Companhia, porém mais ligeiras do que os Batalhões Semi-Regulares, bem treinadas e com alto poder de fogo, a UNITA também introduziu na sua ordem de batalha, os Batalhões de Penetração, com capacidade de se infiltrarem entre as Unidades das FAPLA e realizar o combate à partir do interior das Unidades das FAPLA.

A busca da melhor organização das Unidades Regulares, para a realização, com êxito, da Guerra de Movimento, levou a Direcção da UNITA optar, primeiro pelas Brigadas Regulares, porém para não pôr em causa a mobilidade das unidades, adoptou os Batalhões Regulares, com as suas Unidades de Artilharia de Campanha, as Companhias Anti-Tanque “CMDA”, as Unidades de Reconhecimento e de Comandos, SCUBA, Unidades da DAA e Unidades da Brigada Táctica de Explosivos.

BRIGADAS
21ª BRIGADA LUWAWA
12ª BRIGADA SEQUEIRA
53ª BRIGADA WENDA
45ª BRIGADA CHINDOMBE

UNIDADES REGULARES

1º BATALHÃO REGULAR – CHINDOMBE
2º BATALHÃO REGULAR – DAVID SALVADOR KATATA “WENDA”
3º BATALHÃO REGULAR – SETE
4º BATALHÃO REGULAR – KIMBA
5º BATALHÃO REGULAR – MUSSILI
6º BATALHÃO REGULAR – CONSAGRADO
7º BATALHÃO REGULAR – KASSESSE
8º BATALHÃO REGULAR – LOPES

As CMDAs, sob o Comando do General Abreu Muhengo Ukwachitembo “Kamorteiro”.

A última grande batalha dos Generais Chilingutila e Ben Ben, teve lugar a partir de Dezembro de 1989 até Maio de 1990. Nessa operação as FAPLA chegaram a Mavinga, na margem esquerda do rio Cubia, na denominada Operação Zebra pelo Governo, aquela que a UNITA denominou Último Assalto. Nessa altura, não havia mais no terreno nem Cubanos nem Sul-Africanos. Em Maio de 1990, as FAPLA foram forçadas a recuaram para Kuito Kuanavale e para as outras regiões do território nacional. O desfecho dos combates mostrou que a vitória militar seria um empreendimento muito caro e pavimentou o caminho para a paz e o multipartidarismo.

O General Demóstenes Amós Chilingutila esteve ligado a esse processo em Teatros Operacionais do Kuando-Kubango e Moxico, que constituía a Base de Apoio Revolucionária da UNITA, (Kangamba, Kuito Kuanavale, Mavinga, Munhango, Kazombo, Luena, até aos Acordos de Bicesse.

Depois dos Acordos de Bicesse, o General Demóstenes Amós Chilingutila fez parte da Comissão Conjunta Político Militar – CCPM, particularmente na Comissão Militar Mista, cuja missão foi a criação das fundações das Forças Armadas Angolanas do Estado Democrático, consagrado pelos Acordos de Bicesse, assinados no dia 31 de Maio de 1991.

Certamente que no meio da angústia pelo falecimento deste ilustre amigo, a memória deixou muitas recordações nos cantos do meu córtex cerebral e me perdoem os combatentes, que por esquecimento, não citei onde devia ser.

Londres, 24 de Janeiro de 2021.

General de Exe. Ref. Geraldo Sachipengo Nunda