Luanda - Quis o destino que fosse operado na Semana Mundial do Glaucoma, que decorreu de 7 a 13 de Março, ao glaucoma e catarata no único olho “bom” que me resta.

Fonte: JA

Por ser uma doença delicada que afecta muitos de nós, angolanos, entendi que deveria escrever este pequeno artigo, para partilhar alguns conhecimentos sobre o essencial dessa enfermidade crónica que me foi diagnosticada há mais de trinta anos.

 

Glaucoma é uma doença degenerativa, grave e silenciosa, que afecta os olhos e tem como principal causa o aumento da tensão (pressão) intra-ocular. Normalmente, quando se encontra na sua fase inicial, muito dificilmente apresenta sintomas, não causa dor e provoca perda de visão lateral (periférica) de forma progressiva e lenta.

 

Devido à ausência de sintomas na fase precoce da doença, os diagnósticos costumam fazer-se tardiamente – e por isso se considera que é uma doença silenciosa. A classificação do Glaucoma é extensa e a literatura técnica apresenta alguma complexidade. Aqui, importa realçar que existem vários tipos de Glaucoma em função de diversos critérios. Mas, o aspecto comum em todos os glaucomas é a morte do nervo óptico.

 

O Glaucoma de ângulo aberto é o mais frequente entre nós. É uma das maiores causas de cegueira irreversível entre os indivíduos de raça negra e pode surgir em qualquer idade, sendo mais frequente por volta dos 40 anos de idade.

 

Como em qualquer doença, também no Glaucoma a prevenção ainda é a melhor atitude que se pode ter, de modo a tornar possível a sua descoberta precoce e o início atempado do tratamento. Todas as pessoas com factores de risco – pressão intra-ocular elevada, raça negra, história familiar –devem submeter-se a exames periódicos de oftalmologia, se possível, uma vez por ano, com medição da tensão ocular e exploração do fundo do olho, além de outros exames complementares.

 

O nervo óptico (axónios das células ganglionares) é uma estrutura que liga o olho ao cérebro occipital (área da visão). É o responsável pela condução do estímulo luminoso captado pela retina até ao cérebro, onde é transformado em imagem. As grandes perguntas que nos colocamos sempre (nós, os pacientes) são:O Glaucoma tem tratamento? O tratamento pode levar-nos à cura da doença?


A ciência e a medicina até agora indicam como primeira terapia o tratamento farmacológico da hipotensão ocular, que consiste em colírios que se utilizam uma ou várias vezes ao dia, consoante o tipo de Glaucoma e o nível da tensão ocular do olho afectado.

 

O outro passo terapêutico é a aplicação de laser ou cirurgia, dependendo dos casos, como recursos de última instância, normalmente adoptados quando há intolerância aos colírios ou em casos em que só com colírios já não se controla a tensão ocular.


É importante dizer aqui que todos os métodos disponíveis de tratamento não curam a doença, apenas visam atrasar a sua progressão para garantir ou manter a visão e assegurar a qualidade de vida da pessoa afectada.

 

Quando somos submetidos a técnicas de último recurso, estamos igualmente sujeitos a implicações a elas associadas, designadamente a (in)capacidade do nosso próprio organismo responder positivamente ao tratamento pós-operatório ou aos efeitos secundários das manipulações cirúrgicas.

 


Por essas razões, sublinho a importância de nos submetermos a exames periódicos de oftalmologia para a detecção precoce da doença. E tratamento atempado para um melhor diagnóstico, enfatizando, ainda, que a primeira consulta de oftalmologia deve ser feita na primeira infância.

 

*Archer Mangueira é economista e político e exerce actualmente as funções de Governador Provincial do Namibe