Luanda - A BestFly, companhia angolana que passa a ter a concessão do serviço público de transporte aéreo interilhas em Cabo Verde, realiza o primeiro voo na segunda-feira, ligando Praia e São Vicente, inicialmente com um avião, alargando ao segundo num mês.

Fonte: Lusa

“A partir de segunda-feira, dia 17 de maio, começamos a operação. O primeiro voo será às 07:00 [mais duas horas em Lisboa], entre a Praia e São Vicente”, afirmou à Lusa, na Praia, Nuno Pereira, diretor executivo do grupo BestFly, escolhido pelo Governo cabo-verdiano para assumir aquela concessão, por um período emergencial de seis meses, face à perspetiva de ausência de voos interilhas depois de domingo.

 

Segundo o diretor executivo do grupo de origem angolana, a operação vai arrancar na segunda-feira com uma aeronave ATR72-600, mas “em menos de aproximadamente um mês” está previsto “colocar uma segunda aeronave” ao serviço. O plano de voos para a primeira semana prevê cerca de 30 ligações entre todas as ilhas, com seis voos diários, excluindo a terça-feira.

 

“O nosso compromisso com Cabo Verde e com o povo cabo-verdiano é total e é nossa intenção o estabelecimento permanente da nossa operação em Cabo Verde”, afirmou o responsável, em entrevista à Lusa, acrescentando que a BestFly é uma empresa “de matriz angolana, mas com presença internacional”, em geografias como Dubai, República do Congo e Portugal.

 

“O operador aéreo que vai operar em Cabo Verde a nível emergencial será o nosso operador angolano, mas temos um compromisso, através da nossa empresa de Cabo Verde, criada em 2015, com Cabo Verde e com a população cabo-verdiana, com a obtenção do nosso certificado de operador aéreo em Cabo Verde”, disse ainda.

 

O Governo de Cabo Verde anunciou na sexta-feira, em comunicado, que concessionou a exploração do serviço público de transporte regular aéreo interilhas à empresa BestFly Angola, por um período de seis meses, a partir de segunda-feira. A decisão foi tomada “na sequência da manifesta decisão” da Transportes Interilhas de Cabo Verde (TICV, do grupo espanhol Binter), “de cessar as suas operações, a partir de 17 de maio”, sendo este “o único operador aéreo que garante os voos domésticos e perante a imperiosa necessidade de garantir os voos internos e assim o direito constitucional de mobilidade dos cabo-verdianos”.

“Haverá pequenos ajustes de programação [face ao atual serviço], mas a essência da conectividade interilhas será assegurada na totalidade. O compromisso da empresa é manter os preços o mais competitivos e mais baixos, possíveis”, sublinhou o diretor executivo do grupo angolano.


O início da operação em Cabo Verde, através da operadora BestFly Angola, vai marcar ainda o arranque do recrutamento de trabalhadores locais. “Pretendemos começar a título imediato a contratar quadros locais e com certeza que os melhores quadros serão contratados garantindo a empregabilidade dos nacionais de Cabo Verde”, disse ainda Nuno Pereira.

Voos em risco de suspensão

Conforme a Lusa noticiou na sexta-feira, os voos entre ilhas em Cabo Verde corriam o risco de ficar suspensos dentro de três dias, com a TICV, única empresa que assegura as ligações, a não disponibilizar bilhetes para qualquer destino a partir de segunda-feira. O assunto foi discutido na sexta-feira entre o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, e o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, e ao final da tarde o chefe de Estado anunciava que se reuniu, pouco antes, “em visita de cortesia”, com o empresário angolano Mário Palhares, um dos acionistas da BestFly, acompanhado da mulher, a jurista cabo-verdiana Teresa Teixeira.

“Na oportunidade, conversámos, naturalmente, sobre o processo e o projeto negociado, emergencialmente, com Cabo Verde, para os próximos seis meses, tempo no decurso do qual solução mais duradoura será procurada”, disse o Presidente da República. De acordo com uma consulta feita pela Lusa, a TICV mantém a oferta de voos apenas até domingo, 16 de maio, e todas as ligações e datas posteriores permanecem indisponíveis, tal como há várias semanas, inviabilizando a compra de bilhetes através da página da empresa ou pelas agências de viagens.

A Lusa contactou anteriormente a direção da TICV, mas não obteve qualquer explicação para este cenário, que se sucede à indisponibilidade de bilhetes em março para voos em abril, e depois em maio, neste caso apenas até 16 de maio. Contudo, a situação nunca envolveu um prazo tão curto, o que segundo fontes do setor arriscava inviabilizar os voos já de segunda-feira, por não haver bilhetes à venda.


No comunicado divulgado pelo Governo, o executivo reconhece que a pandemia da covid-19 “teve um efeito devastador no setor da aviação civil” e a TICV “não foi exceção”, com uma redução de passageiros transportados, “impactando negativamente nas suas vendas e nos resultados obtidos, situação que continua a prevalecer no presente ano”.

“Os acionistas da empresa deram a conhecer esta situação ao Governo, ainda em 2020, e prontamente o Governo apresentou algumas modalidades de ajuda no quadro dos instrumentos definidos para apoiar a indústria da aviação civil, por forma a ultrapassar essa situação. No decorrer das conversações sobre o modelo de apoio que poderia ser negociado, os acionistas manifestaram, igualmente, o desinteresse pelo negócio em Cabo Verde e a consequente vontade de parar as operações e liquidação da empresa, salvo se não houvesse um comprador interessado”, lê-se no comunicado.

Acrescenta que a decisão anunciada surge após consulta do mercado e que a BestFly Angola, empresa de direito angolano, operador “estabelecido no mercado de aviação, desde 2009”, tem “experiência na gestão de aeronaves e ‘handling’ de aviões”.