Kuando Kubango - Luís Paulo Vissunjo, director provincial da cultura  do Kuando Kubango, e historiador daquela província, falou-nos de forma pormenorizada sobre o estado actual dos monumentos e sítios daquela província, aquele responsável falou-nos sobre a problemática dos Khoi Saan, da sua inserção na sociedade, desafiamos aquele historiador a falar sobre históricos do Município do Cuchi.       

 

* Claudio Fortuna
Fonte: Club-k.net

Senhor Director provincial da Cultura, gostaríamos que nos fizesse uma apresentação resumida dos Monumentos e sitios histórico-culturais da província do Kuando Kubango?


- Tendo em conta a dimensão geográfica da província, em função do facto de termos saído recentemente da guerra, não temos com exactidão a quantidade de monumentos históricos da província, podemos dizer que temos vários, com destaque para o Forte Vunongue, temos o Museu de História de Menongue, temos o Tumulo do Muene Vunongue, o campo de concentração que é conhecido como as cadeia de Mussongo, onde passaram muitos nacionalistas angolanos de maior destaque a nivel do país, que hoje estão não só no governo como no parlamento, ainda temos o Bongue-ya- Kandema, no Município do Cuchi, ainda temos a Missão do Cenje, ainda temos a Missão do Mundo, a missão do Capico, o Memorial dos Massagres de 31 de Outubro de 1914, aquilo que se conheceu como os Massacre da primeira guerra mundial, que se encontram na orla fronteiriça sobretudo no Município do Calay, de fronte ao Município do Kune Kuri, na Republica da Namíbia, existem outros que estão quase que no anonimato, temos um Cemitério dentro do Município do Kuangari, onde repousam os restos mortais daqueles que eram contratados e iam para Africa do Sul, quando morto lá, não eram sepultados lá, faziam-nos dentro do nosso território, este cemitério encontra-se na Comuna do Katuitui, no Município do Kuangari, temos ainda o Kuito Kuanavale já com toda sua relevância, fruto da situação politico – militar que o mesmo viveu, e do seu reinado, o reinado do Mbingó Mbingo, onde repousam os seus restos mortais, temos o Cemitérios de Campanha, que se encontra mesmo no Município do Kuito Kuanavale, local onde repousam quase todos os restos mortais daquele combatentes que heroicamente morreram naquela batalha do Kuito Kuanavale, ainda neste mesmo Município temos o bairro Sá Maria, que é um bairro histórico a nível Nacional, e que durante todas batalhas armadas que ocorreram a nivel do Kuito Kuanavale, até ao craxe que originou a independência da Namíbia, e a eliminação do apartheid na Africa do Sul, aquele povo nunca se movimentou deste bairro, isto é sempre lutaram de forma heróica pelo seu bairro até ao fim da guerra, que é hoje para nós um local histórico, e vamos encontrar outros como por exemplo no Município, do Dirico, tem uma zona onde se defrontaram os nativos, em coordenação com os seus irmãos Namibianos, a famosa batalha do Nhangana, da parte de Angola temos uma área e da parte da Namíbia temos outra, sem contarmos com a área do Mucusso, onde vamos encontrar zonas paisagísticas importantes, tal como a zona paisagística do Luyana, sito no Município do Rivungo, em Mavinga temos também outros atractivos históricos e culturais, ainda no Kuito Kuanavele temos a Comuna de Impires do Kembo, que os portugueses traduziram como Lupire, nome que conhecido actualmente, que é a proveniência do povo Vangagela, que habitam quase que maioritariamente cá na província do Kuando Kubango. Pensamos nos próximos tempos, fazer um levantamento exaustivo, para conhecermos quantos sítios ou monumentos históricos temos a nivel da província. Em síntese julgo que era isso que podia salientar.


Quer dizer que ainda não se fez um inventario exaustivo sobre os monumentos e sítios da provincvia, gostávamos de saber que estes monumentos têm sido alvo de estudos e pesquisa?


- Bem, como nós sabemos, a província do Kuando Kubango, é uma das províncias, mais complexas ao nivel do país, primeiro, pelas razões invocadas anteriormente, que tem haver com o conflito armado foi aqui o palco do conflito armado, sendo assim podemos encontrar dentro desta província o maior campo de minas espalhados por quase todo território da província, e a nivel do governo do Kuando Kubango, estamos a levar a cabo um levantamento pormenorizado, mas de forma paulatina, pelos indicadores já frisados por nós. Portanto, esta complexidade, independentemente de que o terreno é muito arenoso e que precisa mesmo de meios, capacitados para se poder recorrer a província por completa, para se rever aquelas questões que interessam, mais temos em carteira que está em curso, neste momento estamos a fazer o levantamento cabal de todas as tradições, primeiro os grupos etnolinguísticos que a província tem, alguns que estão no anonimato, e que se prevê aflorar estes elementos, como é o caso do grupo etnolinguístico, os Vassequeles, os Romanhos, que anteriormente eram conhecidos como os Diricos, ficamos a saber hoje, que os Diricos, que fazem parte de uma variante deste grande grupo etnolinguístico que são os Romanhos, dentro destes vamos encontrar os Sambios, temos os Kuangare, os Mbucucho, e os Maxi, que se encontram no Município do Rivungo, para dizer que esta pesquisa, já se encontra em curso, e vamos fazer dar continuidade naquilo que nós conhecemos como o mundo cultural, dos Ngangelas, mas agora o termo já não é este, mas sim o mundo cultural dos Vangangelas, que é o grupo maioritário anivel da província, dentro destas pesquisas que estamos a efectuar, queremos também, fazer destacar estes grupos etnolinguísticos que são minoritários, e que estão no anonimato, mas que nós precisamos que o pais e o mundo conheçam, as suas tradições e customes, porque afinal de contas são angolanos e não podemos deixar lhe por fora.


Existe algum estudo sobre o grupo Khoi San aqui no Kuando Kubango?


- Sobre estes, nós estamos um pouco mais avançados, porque temos aqui algumas ONG´s, no caso da CADIRE, que desenvolveu de forma mas aprofundada, a própria direcção provincial da cultura em parceria com a Sociedade Cívil, estamos muito avançados na pesquisa sobre o povo Saan, ou os Vassequeles como é vulgarmente conhecido, como terá visto na edição do carnavale passada, nós fizemos passar uma informação sobre as suas tradições, onde eles puderam mostrar as suas danças, neste momento estamos a fazer um estudo profundo, para determinarmos todo seu potencial cultural para podermos dar a conhecer a comunidade angolana e não só, a todos pesquisadores e interessados conhecimento deste grupo etno linguístico.


Com base nestes estudos, já se pode quantificar a população da etnia Saan do Kuando Kubango?


- Bem, é  difícil determinarmos em cifras, há alguns que foram resgatados pelo governo, já vão por ai um pouco próximo de quinhentos habitantes Saan, mais ainda temos informações que noutros sítios existem, e porque sabemos que eles são nómadas, estamos atrás, com base nas informações dos outros que já se encontram nas zonas urbanas, neste momento seria impossível nós determinarmos o numero porque sabe que nestes casos eles se movimentam de um sitio para o outro, sem dar a conhecer a ninguém, por vezes temos informações de que eles lá estão, quando por lá nos deslocamos, não os encontramos, mas acredito que a em breve nós teremos uma cifra não exacta, mas próxima da realidade, porque a cifra exacta, só a teremos que se fizer um censo populacional, que se aplicam os instrumentos adequados para tal, por enquanto a nossa meta é apenas fazer-se uma estimativa.


Atendendo ao naipe de reivindicações, que o povo Khoi Saan, tem estado a fazer, pelo facto dos mesmos não beneficiarem das oportunidades que o país oferece, até porque eles são os primeiros habitantes deste território, muitas das vezes eles reclamam por falta de escolas, de registo em fim dos apoios que o governo devia dar, gostaríamos de ouvir as vossas virtudes de razão sobre esta matéria, enquanto representantes do governo e do Ministério da cultura, qual é a vossa visão sobre o assunto?


- Eu penso que estas reclamações são teóricas, como o senhor jornalista sabe, dentro do nosso país, e no Kuando Kubango em particular, temos toda sensibilidade de como lidar com este povo, eles são povos muito complexos, primeiro pelas suas tradições, pelo seu regime, nós temos experiências verdadeiras de vida, o governo tem apoiado tanto na alimentação, como no realojamento, aqui por exemplo na área do Cayundo, neste Município de Menongue, no bairro Mbundu, temos um numero considerável de Khoi Saan, que lá estão reassentados, o governo fornece os bens e meios de produção, como xarruas, animais de tracção, para eles poderem abrir os seus campos, e dar as sementes. Mas o quê que se tem registado, quando o governo fornece estes meios, depois da nossa retirada, eles matam os bois e comem, para eles é como se fosse um animal qualquer, não vêm a importância que este animais têm. Então, ai caímos em deficit, já não cumprimos na integra os nossos propósitos, que antes nos havíamos comprometido. Por outro lado, muitos deles já estão inseridos no sistema de ensino, mesmo na área de Mbundu, e do Ndandawa, o governo construiu escolas e postos de saúde, por onde eles podem se tratar, mas eles têm pouca capacidade de entender a politica do governo, por vezes abandonam estas áreas e vão, como eles gostam de alimentação imediata, como são as frutas, ou quando vão à caça matar um animal, algo imediato, não têm paciência, quando eles matam um animal de grande porte numa dada área, eles abandonam o centro de reassentamento, locais onde tem escolas e os centros de saúde, estes equipamentos perdem a sua utilidade inicial, não por falta de apoio por parte do governo, nós apoiamos, mas é que eles ainda não estão bem sensibilizados, não estão acostumados, a este tipo de união ou de sociedade, eis a razão de por vezes as pessoas, dizem que não há apoio, é que praticamente nós pensamos por eles, aqui a nivel da província, temos estado a promover Seminários, em parceria com os parceiros directos do governo, organizações como a CADIRE e até mesmo com as Igrejas, com estes eventos nós temos estado a convidar os Kamussequeles de quase todas partes da nossa região, vêm San da Africa do Sul, e alguns são Doutores, para ver se eles podem ganhar a experiência dos outros, e até transmitir na própria língua deles sobre esta questão, vimos no anos passado na comuna do Savati, onde o governo conseguiu em coordenação com as Igrejas, baptizar e até celebrar matrimónios, algo que não se via anteriormente, penso que esta matéria passou e nós temos ainda estes registos. Quer dizer, o governo está fazer todo um esforço, mas é algo paulatino, porque primeiro temos que primar pela sensibilização destes povos, ou deste grupo etno linguístico. Neste momento a nivel da província, nós conseguimos ter já um pastor San, que é pastor James Kanget, e que está a levar a cabo a evangelização, e facilita o nosso trabalho na comunidade dos San, na comuna do Savati, que está na parte limítrofe do Município do Cuvelay, na província do Cunene, nós temos um trabalho muito avançado acerca destes povos. Portanto, aqui a nivel da província penso que as reclamações não devem acabar porque, as pessoas só deixam de reclamar quando morrem, mais o que é facto é que o governo tem feito muitos esforços, e nós conseguimos reassentar estes povos e alguns neste momento estão integrados na função pública e que fazem os seus trabalhos de forma normal.


Qual é a dimensão da área em que os Kamussequeles ocupam, e também gostávamos de saber, se tem feito os registos civil desta população?


- O registo tem sido feito sim senhor, o registo tem sido feito e ainda está  em curso, só que tivemos uma dificuldade a princípio, que eles quando viam uma câmara fotográfica e quando saia o flash, eles nos primeiros momentos pensavam que aquilo era arma, eles punham-se em fuga, nós tínhamos que procurar sensibilizar os outros que estavam mais próximos a nós, para eles poderem retornar, mas sempre com receio. Quanto a dimensão, nós sabemos que a nivel de quase tos os Municípios temos este grupo etno linguístico, eles estão maioritariamente no Município de Menongue, Kuito Kuanavale, Mavinga e uma parte estão na área de Nancova, mas em toda extensão da província n´s temos representados os povos Khoi San, estamos a fazer um trabalho comunitário e de sensibilização para resgatarmos este povo que também faz parte da comunidade angolana, quer dizer que não podemos deixa-lo fora, uma vez que são angolanos, como este é o governo angolano, temos que trabalhar em sintonia ou em coordenação com todos os parceiros do governo para que tenhamos um resultado segundo os nossos propósitos.


Falando particularmente do Município do Cuchi, que a dista a pelo menos 85 quilometros do Município de Menongue, gostariamosque nos falasse de forma sintética, sobre o histórico daquele Município, visita efectuada por nós, pudemos constatar que exiastem marcas coloniais bastante visíveis, apesar de não estarem no estado de conservação desejáveis, quais os monumentos classificado como históricos- culturais do Cuchi?


O Municipio do Cuchi, aquilo que nós chamamos por Mbongue – ya Mukuva, que é o proprio Mukuva que foi, o Rei que fundou aquela área e na época das migrações o povo Vangagela, viemos dos grandes lagos como qualquer outro povo Bantu, fomos atravessando passando pela R.D.C, entramos pela provincia do Moxico onde este povo se agrupou a princípio. Posteriormente foi descendo a procura das melhorescondições de vida, porque é um povo agricultor e caçador ao mesmo tempo, que se foi espalhando-se pelo Sul e o Sudeste do país, para o caso concreto da provincia do Kuando Kubango, onde estegrupo se reacentou, depois do Moxico, na área do Impirinankembo, na actual Comuna do Lupire, local onde este povo se agrupou, e depois se subdivide em dois grandes grupos, um grupo A, que sobe pelo rio Kwando, atravessando quase o Municipio do Lutchazi, e entra pela provincia do Bié, passando pelo Huambo, como sabe, a provincia do Huambo tem uma presença muito forte dos Ngangela, foi precisamente na epóca das migrações em que se subdividiram estes dois grandes grupos, ou seja um passou pela provincia do Moxico, contornou pelo Bié e o Huambo, depois de se terem dado ontga de uma situação, contgornam para área de Caconda que é actual área dos cinquanta ou Ngalangui, no Municipio do Cuvango, passando pelo Ondongo Jamba, até as mediações da provincia do Cunene, no Municipio do Cuvelay, váo para área do Caíla.


O outro grupo, desce até ao Municipio do Kuito Kuanavale, e contornam, até  ao Municipio do Rivungo, em da zona desertica que não permitia a realização das suas actividades, como agrícolas, este segundo grupo contona até a localidade do Caira, se cruzam os doisgrupos se unimem e trocam experiências, na medida que estes dois grupos foram andando alguns não conseguiram caminhar, foram ficando nestas áreas que acabaram por constituir no grupo etnolinguisstico deste povo, ou seja numa variante etno - linguística deste povo. Na união destes dois chegaram a conclusão que havia maior possibilidade de se consolidar a sua etnia no interior da provincia pelo que eles optaram por ficarem localizados no Município do Cuchi, ou Mbongue – Ya- Mukuva, ai se forma o reino que vai em coordenação e com a chegada dos Missionários da Igreja Católica, o que nós conhecemos como o chefe da expedição o Padre Erneste Leconte, que chega aqui e fundam algumas instituições religiosas. 


Primeiro abriram a Missão do Mondo, em função de certas dificuldades, sobretudo a falta água, surgiram muitas doenças que estavam aparecer, retiraram-se daquela ãrea e vão fundar a Missão do Cenje, que foi uma das primeira missão ao nível da província, a formar muitos intelectuais, com destaque para um padre que fora ordenado em 1934, trata-se do padre Abel Antonio Manyame, que foi um dos promotores da evangelização e da civilização ao nível da zona centro - Sul, que formou muitos dos melhores filhos desta província e do país, que acaba por ser uma dignidade para nós, influenciou a extensão da nossa zona.


Temos alguns centros turísticos de referência como é o caso Tchissalala, fica na comuna do Kutato, que são centros turísticos, há um local onde podemos ver o arco-íris, com as suas pedras preciosas, que trocam de cor, quer dizer a uma distância a cinco a seis metros vemos que a pedra tem uma determinada cor, a medida que vamos nos aproximar-mo nos vamos ver a mudança de cor da pedra, temos ainda as cataratas do Makulungungo, na Comuna do Vissate, quase com as mesmas características, uma paisagem natural de maior dimensão e até mesmo internacional, que é uma raridade no mundo. Temos outras que servem para o eco - turismo da nossa província.


No Município do Cuchi, existe algum equipamento que pode ser considerado como património histórico Nacional?  


Temos sim senhor, por exemplo a Missão do Cenje, pela dimensão que nós fizemos referência, o MBongue-ya Kandjema, onde padeceram muitos patriotas, foram locais onde haviam repressões coloniais, para extinção dos homens, dos nossos aborígenes, dos nossos ante passados, foi lá que no por altura da abertura das estradas e dos caminhos-de-ferro, foi um potencial do colonialismo onde haviam agrupado uma serie de forças repressivas que acumulavam a força de trabalho para irem aos campos de concentração, ou aos trabalhos forçados que naquela altura dizimava à nossa população. Estes são alguns sítios de maior realce. Para além do Município do Cuchi, temos o forte Vunongue, que é um sítio de maior realce ao nível da província, e que poderíamos destacar muitos outros.


Quanto aos equipamentos que se podem considerar como património da humanidade, seria utópico falar – se, destes equipamentos no Município do Cuchi?              

 

Este é  um estudo que está ser feito pelo Ministério da Cultura, para um sítio ser considerado como património da humanidade, antes de tudo deve conhecer a sua reabilitação depois deve-se aprofundar os seus dados históricos, só assim é que eles podem ser classificados como património, enquanto estiverem em ruína não se pode falar deste monumento.