Johanesburgo - É conhecido nas chefias militares em Angola como “o general dos generais”. Desde que ascendeu ao Bureau Político do MPLA, ainda com Agostinho Neto em vida, nunca de la saiu. Partilha uma forte amizade com o Presidente da República. Ao mais alto nível do “alto conselho de Estado” não se toma uma decisão sem o mesmo, as vezes a sua palavra chega a ser a última. Depois de JES, é ele a única pessoa que “Nandó” e “Kopelipa” aceitam que lhes chamem atenção. Embora na penumbra, o general Antonio dos Santos França “Ndalu” é “a segunda figura do regime que mais manda em Angola”, conforme descrição de um insider. Figuras do circulo presidencial tratam-no por “chefe”. (no circulo do partido é apenas o “Camarada Ndalu”).
Fonte: Club-k.net
O Único angolano que em Cuba tem
estatuto semelhante ao de Ché Guevara
Quando se forma governo, o mesmo tem direito a indicar os seus favoritos. Na véspera da concepção do corrente governo, sugeriu o nome do general Salviano Sequeira “Kianda” como seu preferido para ministro da defesa. A sugestão foi objectada por JES que optou pelo general Candido dos Santos Van-dunem “Candinho” de quem é próximo. O PR, entretanto, considerou a opção de “Ndalu” colocando como Vice-Ministro do general “Candinho”. Foi também “Ndalu”, a pessoa que transmitiu a Higino Carneiro de que iria sair do governo e que não deveria mostrar sinal de resistência algum.
O seu protagonismo, em estar dentro do circulo de influencia do regime, foi verificado em meios atentos, quando em Fevereiro de 2006, seguiu viagem para o Congo-Kinshasa em substituição do general Garcia Miala que acabava de ser afastado do poder. A indicação de “Ndalu” levou a reflexão de que o facto de ter sido indigitado para cumprir uma missão de Estado, era sinal claro de que fazia parte da mais alta estrutura informal do regime angolano.
O seu poder de influencia é menos notório no seio do partido do que em meios militares cujo prestigio é inesgotável. É ele o mentor de grandes oficiais generais que passaram pelo exercito angolano. Foi por sua influencia que o general Manuel Helder Vieira Dias “Kopelipa” saiu do GEPA para ser indicado chefe da Casa Militar. Foi o promotor de prestigiadas patentes militares como João de Matos, Roberto Leal Monteiro “Ngongo”, Carlos Mello Xavier, Higino Carneiro e etc. daí a referencia “o general dos generais”. (O general Antonio José Maria terá sido a única excepção que chegou ao circulo presidencial sem o seu empurrão)
O General Antonio dos Santos França “Ndalu” nasceu na comuna do Mupa no Cunene, a 9 de Abril de 1938. Na casa dos 20 anos partiu para Portugal e estudou em Coimbra. Tinha como desporto de eleição o futebol. Notabilizou-se como médio no Sporting entre 1958 e 1960. Fez 12 jogos e integrou a Comissão de Honra do Centenário do Sporting Clube de Portugal.
Aderiu ao MPLA logo após a sua fundação. A perseguição pela PIDE impulsionou a sua saída de Portugal para se juntar a outros nacionalistas que lutavam contra a opressão colonial. Foi o primeiro angolano a ser enviado como bolseiro para Cuba. Estudou agronomia no Instituto Superior de Ciências agropecuárias de Havana (ISCAH). Em Cuba, ganhou o estatuto de cidadão nacional semelhante a Che Guevara e ao dominicano Maximo Gomes que lutaram pela causa deste país. Como “cidadão cubano”, Antonio dos Santos França “Ndalu” jogou futebol pela selecção cubana. Estudou artes militares e participou na defesa da cidade de Pinar del Rio, no ocidente da Ilha.
Ao tempo em que o MPLA precisava ter por perto os seus quadros para darem o seu contributo, o mesmo seguiu para a base de Belize (Cabinda). Ai terá conhecido uma outra combatente, Maria Mambo Café de quem veio a ser sua esposa. (sua actual esposa é Maria João Jardim).
Na véspera da independência já estava talhado ao serviço do braço armado do MPLA. Era o chefe do Estado-Maior da IX Brigada que travava cerrados combates contra as tropas da FNLA que entre os dias 10, 11 e 12 bombardeavam a área de quifangondo a fim de subverter a proclamação da nova Republica. Dois anos depois quando se decide alargar o Bureau Político é admitido como Secretario para Cultura e Desportos.
Na ascensão de JES ao poder, o mesmo foi preservado e em Dezembro de 1981 quando o PR procede a alterações governamentais é nomeado Vice-Ministro da Defesa. Sete anos depois, JES fez dele presidente da Frente-Sul promovendo-o a tenente-general. Passou também pelo cargo de Presidente do Conselho de Defesa da Frente Kwanza-Bengo até ser Chefe de Estado Maior das FAPLA. Com a criação das FAA, o seu cargo foi ocupado por João de Matos. Em Fevereiro de 1991 voltou a ser Vice-Ministro da Defesa.
Embora seja um militar talhado, é também detentor de uma faceta de “homem afável e diplomata” . JES terá tomado partido deste seu lado confiando-o a missão de estabelecer pontes que premeditavam o fim do conflito armado no país. Liderou em Abril de 1989, pela parte angolana conversações secretas com o regime do apartheid na cidade do cabo e subseqüentes reuniões que se deram no Cairo. Encabeçou a delegação angolana na cimeira de Gbadollite no Zaire. Foi uma das principais figuras que em Maio de 1991 participou nos acordos de Bicesse em Portugal entre o MPLA e a UNITA. O chefe da delegação era Lopo do Nascimento, então SG do MPLA.
De inicio, o então Presidente da UNITA, Jonas Savimbi aparentava ter “reservas” sobre ele, quando o PR, colou “Ndalu” a frente da equipa para dar seguimento a materialização do acordos de paz, o líder rebelde insinuou que estavam a “militarizar o processo” ao indicarem um general, em substituição de Lopo de Nascimento. Rapidamente, o general “Ndalu” começou a privar com Savimbi e foi ganhando a sua confiança. Antes dos confrontos militares “Ndalu” recebeu informações de que Savimbi estava a por se em fuga de Luanda. O seu comodismo quanto a informação que lhe foi dada, deu azo nas chefias militares a argumentações segundo a qual o mesmo teria “fechado os olhos” quanto a fuga do Presidente da UNITA, em 1992.
No dia em que os confrontos armados em Luanda rebentaram, o general “Ndalu” recebeu um telefonema de Elias Salupeto Pena, da UNITA, a partir do hotel turismo pondo-o ocorrente sobre movimentações militares contra elementos da direcção da UNITA. em resposta teria dito “Façam o que poderem”. O grupo que ladeava Salupeto Pena (Abel Chivukuvuku, Carlos Morgado e Jeremias Chitunda) entendeu que haviam sido atirados a sua sorte.
Logo após ao impasse, “Ndalu” foi o primeiro dirigente da parte do governo a restabelecer contacto com Jonas Savimbi que estava refugiado no Huambo. Chegou a ir ao encontro dele para restabelecer as iniciativas para o processo de paz. Mais tarde, o líder rebelde passou a ter reserva sobre o mesmo e em privado, dizia que foi engano pelo general “Ndalu” por se ter feito seu amigo.
Em Março de 1994, JES assinou um Decreto Presidencial Nº 19 /1994 nomeando-o para o cargo de Conselheiro Especial do Presidente da República. 14 meses depois fez dele Embaixador nos Estados Unidos da América. Funcionários de recrutamento local naquela missão diplomática dizem que foi o melhor embaixador angolano que tiverem. Referem que: “abria as portas da sua casa para a comunidade, ouvia todos os funcionários e não discriminava ninguém”.
Era também um diplomata calculista. Quando a UNITA reivindicava ataques, o mesmo sem contactar Luanda fazia cálculos de probabilidade e conseguia prever se a UNITA a partir de uma determinada localidade tinha capacidade ou não de atacar determinada área ou se estava diante de uma propaganda militar. Saiu de Washington, a seu pedido, em Dezembro de 2000.
Passou a prestar atenção aos seus negócios (é sócio da empresa de segurança Teleservice junto com João de Matos, Armando da Cruz Neto, Carlos Hendrick e outros generais de proa). Em finais de 2005 foi convidado para liderar a De Beer em Angola como Presidente não – executivo.
Continua discreto no circulo de alta decisão. Quando Raul Castro vai a Luanda o mesmo é chamado. No mês passado fez parte de uma delegação que em representação do Presidente da Republica foi assistir os festejos dos 20 anos da independência da Namíbia.
Em resumo a sua exclusividade espelha-se também por ser “o primeiro dos primeiros”: foi o primeiro bolseiro angolano em Cuba, foi o primeiro elemento a se tornar general em Angola, foi o primeiro presidente do clube desportivo das forças armadas, foi o primeiro e único dirigente do MPLA que conseguiu “subverter” Jonas Savimbi.