Kwanza-Sul - INTRODUÇÃO: O presente artigo visa dentre outras questões, contribuir para o debate cultural em torno da situação linguística da província do Kwanza-Sul.


Fonte: Club-k.net

 

Anima-nos reflectir sobre o tema, porque estamos preocupados com «o silêncio dos bons» como dizia Martin Luther King. Equivale dizer que estamos preocupados com o silencio dos intelectuais de Angola em geral e do Kwanza-Sul em particular.

 

Assim sendo, ao longo do desenvolvimento do presente artigo, procuramos aflorar aspectos relacionados com o enquadramento etnolinguístico dos Kibala, através da metodologia que nos orienta tecnicamente designar o nome de uma determinada população do grupo Bantu e como designar o nome da sua língua; e assim, foi possível determinar o nome do povo da Kibala (Kibala) assim como também o da sua língua (Mbala). 

 

A variante Mbala tem grande impacto na região do Kwanza-Sul porque é a mais falada por oito (8) municípios dos doze (12) que compõem a referida província, os seus locutores são aproximadamente de um milhão e oitocentos (1.800.000) espalhados por todo território nacional e outros no estrangeiro; nas zonas rurais os autóctones servem-se desta língua, sendo assim, a sua divulgação é importante e seria ideal se ocupasse maior espaço na grelha da Rádio Nacional de Angola e na televisão Pública.

 

Não podemos falar da língua Mbala, sem falarmos também da língua Kimbundu que é dividida em três dialectos:


O dialecto Mbala, falado em Kibala, originando variantes falados por sete (7) sub-etnias da província do Kwanza-Sul (Libolo, Mussende, Waku-Kungu, Ebo, Gabela, Kilenda e Porto Amboim, sendo a oitava sub-etnia a do município da Kissama que desde 1975 passou a pertencer à província do Bengo, de acordo com a nova divisão administrativa depóis da independência). O Ngola ao ocidente e Njinga ao Oriente, separados pelo rio Lombijie; dentro do Njinga, distinguem-se entre outros sub dialectos, o Mbamba e o Mbaka isto é, o Kimbundu falado no Ambaka.

 

O Kimbundu apesar de ser a segunda língua vernácula de Angola (sendo o Umbundu a primeira), não apenas pelo número dos seus locutores, mas pela literatura de que dispõe, precisa de estudo de campo para a sua devida definição, pois que, ela é mista atestando por “Atkins*1”na fronteira norte com o Kikongu, como é o caso do Kimbundu do Nambuangongo, variedade peculiar a esta região, assim como também a Atkins  o Bângala, resultado da interferência intensa entre Kimbundu e Kioco e que se situa na fronteira entre estas duas línguas. 

 

Para melhor justificarmos este trabalho de investigação linguística, socorremo-nos ao anagrama e a bibliografia infra no texto. Contudo, estamos abertos às contribuições construtivas que concorram para a resolução da problemática linguística desta província. Outrossim, é importante cuidarmos dos nossos problemas, não esperando que outras pessoas façam por nós, aquilo que podemos fazer; certo de que «nenhum povo pode progredir quando a maioria que deveria fazer melhor decide retroceder (Wilson 1980:225)».


Achamos propor duas denominações o que exigiu de nós mais trabalho técnico-científico para que esta mesma língua tenha maior segurança no futuro.


Reza um velho provérbio Ovimbundu que “Os Europeus escrevem nos livros, nós escrevemos no peito.” (J. F. Valente, 1964b:101).

 

Numa alocução proferida no Iº Encontro de Escritores de Angola, realizado em Sá da Bandeira, em 1963, O emérito Carlos Estermann, referindo-se ao futuro da literatura oral dos povos Bantu angolanos, afirmava:


"[...] tal perspectiva não é muito animadora para a literatura oral nativa em toda a África Negra. Num futuro mais ou menos próximo os povos deste continente vão ser privados do instrumento tradicional da sua expressão. É este o processo que está em plena evolução em toda a parte." (Estermann, 1983 (II vol.:280)


Quase 100 anos mais tarde, em 1993, Pepetela mantinha o mesmo tom pessimista:


“Em relação à literatura oral, as recolhas realizadas até agora são muito poucas e, no caso de Angola, essa tradição está-se esboroando por causa da guerra prolongada. As populações saem do interior, perdem os laços tradicionais e a figura daquele mais velho contador de histórias, o griot, desapareceu praticamente. Isto em termos de campo. Encontramos apenas alguns griots suburbanos, mas é uma coisa que está desaparecendo.” (Entrevista de Pepetela a E. M. de Melo e Castro, in Público de 1993.10.19).

 

Será o passado tão negativo e o futuro tão pouco promissor?


Na parte final deste trabalho, trazemos humildemente uma contribuição que ansiamos que venha a merecer o melhor tratamento na resolução da questão da denominação da língua da nossa província.

 

A língua é definida como sendo, o conjunto das palavras e expressões usadas por um povo, por uma nação, e o conjunto de regras da sua gramática; idioma. Modo de expressão escrita ou verbal de um autor, de uma época; estilo; linguagem.


 A linguagem própria de uma pessoa ou de um grupo. Sistema de signos que permite a comunicação entre os indivíduos de uma comunidade lingüística. O uso da palavra articulada ou escrita como meio de expressão e de comunicação entre pessoas para identificar, catalogar feitos. A forma de expressão pela linguagem própria de um indivíduo, grupo, classe, etc. O vocabulário específico usual. Numa ciência, numa arte etc.

  
Segunda proposta da denominação da língua franca do Kwanza-sul

 

Partindo do pressuposto metodológico do investigador Mário António F. de Oliveira, «as línguas Bantu possuem uns prefixos especiais para designar os povos e as suas respectivas línguas: um-ronga, ba-ronga, xi-ronga; i-zu-lu, ama-zulu, si-zulu; mu-solu, ba-sotu, se-sotu; mu-bundu, a-mbudu.»


As línguas Kimbundu e Umbundu, têm o mesmo radical «mbundu» significa que, pertencem à mesma família línguistica (Bantu).

 

Tal como afirmamos no primeiro artigo publicado no semanário Angolense edição de 19 à 26 de Junho de 2010, pág. 31, e no portal electrónico – Club-K (Site da Comunidade angolana no Exterior) de que os Bailundu ou os Umbundu são descendentes do povo da Kibala, visto que o Bailundu foi fundado pelo Katyavala Buíla natural de Kibala.


O termo «mbundu», pode ser nome da língua das populações que vivem a norte e à sul do rio Kwanza, nomeadamente: Luanda, Kwanza-Norte, Malanje, Libolo, Kibala, Waku-Kungu, Ebo, Kilenda e Porto-Amboim (Ferreira, 1994:29).


Na sequência da nossa pesquisa, achamos conveniente apresentarmos à comunidade científica nacional uma nova proposta alternativa da designação da língua Franca da província do Kwanza-Sul, tendo em linha de conta as cogitações debitadas em apreço; por isso entendemos, designá-la por língua «Mbundu».

 

Os Kibala, falam o dialecto do Kimbundu que é a variante dessa língua. Trata-se da língua Mbala (Kibala = Ki-bala = Mbala).


Assim sendo, as sete unidades geográficas da província do Kwanza-Sul, de que já fizemos referência, falam a variante Mbala, embora com certo municipalismo isto é, com variações no seu sotaque.
 


CONCLUSÃO

 

Entendemos que a nossa reflexão é um texto aberto, na medida em que estamos receptivos a outros subsídios que possam aprimorar o nosso estudo.

 

 Na verdade, a língua como instituição sócio-cultural é um valioso instrumento de afirmação das identidades nacionais de uma Nação, independentemente do nível de desenvolvimento de suas forças produtivas que são reflexos da sua elevação espiritual, tenhamos ou não consciência disso. Essa nova alternativa da denominação da língua franca da província do Kwanza-Sul, “Mbundu” que retomamos dos estudos de conceituados investigadores satisfaz o nosso propósito heurístico, já que o radical “Mbundu” constitui a base metodológica para a designação dos povos ambundu e ovimbundu e as suas respectivas línguas. E se tomarmos em consideração que, do ponto de vista entohistórico, os Bailundu, subgrupo etnolinguístico dos ovimbundu são descendentes dos Kibala, logo faz sentido usarmos a designação que vos sugerimos, sem quaisquer pretensões regionalistas nem tribalistas. Temos consciência de que a parte faz o todo. Quem não souber cuidar da parte (Província do Kwanza-Sul) jamais cuidará do todo (Angola).

 

Incumbe-nos informar à individualidades e instâncias de direito dizer que ao decidirmos trazer em forum público este tema, recorremos a fontes historicas em primeira instância, para depois entrarmos na parte cultural e finalmente no tema nuclear do nosso maior interesse em que nos engajamos, que é o da denominação da  língua falada na província do Kwanza-Sul.

 

Assim, recolhemos dados a partir dos mais idosos (71-95 anos de idade -fontes orais), informações historicas da província. Em seguida recorremos aos trabalhos de Autores de renome mundial (Dr. Professor Theophile Obenga, Cheik Anta Diop, Revendo W. Holman Bentley etc.) que realizaram trabalhos de investigação linguistica,  respeitados no mundo das ciências,  para que o nosso projecto não seja visto apenas no prisma restrito, mas sim julgado dentro das balizas cientificas línguisticas que se prezam no continente e no mundo.


Procuramos igualmente dar um escopo temporal mais amplo ao nosso trabalho, motivo pelo qual cavamos ao fundo da história a fim de levarmos a riqueza cultural angolana dispersa e inédita. Uma vez que a história de África em geral e de Angola em particular, foi escrita por estrangeiros Ocidentais, sendo como consequencia, a existência de ainda muitos dados que escaparam destes, por deficiencia de comunicação.

 

Joseph E. Halloway no seu livro “Africanisms in American Culture” (Africanismos na Cultura Americana), disse que os angolanos, mesmo longe da sua terra de origem, puderam  manter na sua maioria, o estilo de falar, cantar e sermonear. No mesmo livro o autor, nos afirma que os africanos vindos de  Angola, foram os únicos que poderam preservar a sua maneira de cantar, o que está na origem do Jazz, Blues e depois os estilos musicais que seguiram !

 

Como quando se fala e se canta, implicitamente referimo-nos a língua, pouco devemos duvidar da vitalidade línguistica dos nossos povos, o que nos encorajou ainda mais, prosseguir  fazer este trabalho investigativo, que esperamos que irá interessar aos que partilham a paixão pela língua falada, neste caso particular na Província do Kwanza-Sul; para valorizar e fazer respeitar as demais línguas maternas angolanas. 

 

Bibliografia:

 

1- Lingua e Línguistica em Angola  - (Amélia Mingas, Dessertação – Coloquio de Paris:
16 à 18 de Fevereiro 1994- Pág. 83-95, Editions du Centre Culturel Angolais).

2- Línguas Nacionais em Tempos Novos – (Zavoni Ntondo, Dessertação – Coloquio de Paris: 16 à 18 de Fevereiro 1994- Pág. 96-99, Editions du Centre Culturel Angolais).

3- Paulo Varanda – Soba Regional do Libolo ( Fonte oral)

4- Soba Kitumba da Aldeia de Kitambi  -  93 anos de idade  (Fonte oral)

5- Kambandu Ebo -71 anos de idade (Fonte oral)

6- Mulonde  - (Ex-Prisioneiro politico)  (Fonte oral)

7- Madureira Mungongo 75 anos de idade ( Waku-Kungu) (Fonte oral)

8- Ñgana – Ekete (Kambundu Kahanada) 97 anos de idade – Participante da guerra de Kapna-a-lunga ou guerra de Kandimba  (Fonte oral)

9- Dr. António Felismino – Magistrado (Fonte oral)

10- CF. REDINHA, José etnias e Culturas de Angola (Luanda, Instituto de Investigação Cientifica de Angola, 1975, Pág. 23/24).

11- Les Bantu, Langues-Peuples-Civilisations -  Paris, Présence Africaine  - 1985   (Dr. Professor Théophile Obenga)

12- Nations Negres et Culture -Tomo I e II (Cheik Anta Diop – Editions Présence Africaine, 1979)

13- Dictionary and Grammar of the Kongo Languages (Dicionário e Gramática das Línguas do Reino Kongo» Trabalhos de investigação linguística do Reverendo W. Holman Bentley – BMS Edições da .Sociedade Missionária Baptista – 1887) .http://query.nytimes.com/mem/archivefree/pdf?_r=1&res=9D05E3D7163FE433A25757C1A9619C946197D6CF 

14- Africanisms in American Culture (Africanismos na Cultura Americana)


 *1ATKINS, Guy, «A demographic survey  of the kimbundu-kongu language border in Angola», Boletim da sociedade de Geografia de Lisboa, 73,79,1955,325-347.