Maputo - A problemática da pesquisa cientifica em África, serviu de pretexto para conversa que o Semanário Angolense, manteve recentemente em Maputo/ Moçambique, com o professor Carlos Serra, ele que é o director pedagógico do Centro de Estudos Africanos em Maputo, esta entrevista foi feita a margem do Atelier de Metodologia de Pesquisa Cientifica para Ciências Sociais nos PALOP, numa iniciativa anual  do CORDESRIA, e que pela terceira ve consecutiva, se  realizada em Maputo, convidamos o nosso interlocutor a falar-nos sobre o andamento do ensino universitário em Moçambique, a como não podia deixar de ser pedimos que nos falasse sobre a pesquisa cientifica naquele país do indico, e o seu prognóstico sobre o futuro da investigação cientifica em Africa, estas e outras questões foram abordadas pelo também sociólogo Carlos Serra de Universidade Eduardo Mondlane. 

 

    
Professor Carlos Serra, gostaríamos que nos fizesse uma apresentação resumida, do Centro de Estudos Africanos aqui em Maputo?

 

O Centro de Estudos Africanos, é a mais antiga instituição de pesquisa da Universidade Eduardo Mondlane, e esta Universidade é a mais antiga Instituição de Ensino do país, e este centro é a mais antiga Instituição de pesquisa, portanto, foi criado em 976, é uma unidade de pesquisa que já tem muitos anos, cujos os primeiros directores foram os falecidos Aquino de Bragança, falecido no desastre de avião que vitimou o presidente Samora Machel em 1986, e a Ruth First, que foi assassinada com uma bomba aqui no centro em 1982, é uma unidade que tem feito muitos trabalhos, temos uma revista que tem estado algum tempo parada, mas que agora vai recomeçar, temos uma equipa de investigadores de vários tipos, foi ampliada agora a rede de pesquisadores, com ponto estratégico e o impulso do nosso Director. Então, estamos a caminhar como uma unidade de pesquisa que queremos que seja de referência Nacional e Regional.

 

Que tipo de pesquisas é que vocês fazem aqui no Centro de Estudos Africanos? 


 
Depende nós temos varias áreas de pesquisa, temos uma área de pesquisa de linguística, a parte das línguas, com varias pessoas, temos uma área de pesquisa em sociologia, com estudos de fenómenos que parecem estranhos, por exemplo temos estudo sobre o género, sobre problemas de cuidar do género, temos pesquisas sobre o HIV SIDA, temos pesquisas sobre os chefes tradicionais, temos vários tipos de pesquisas, são varias áreas que existem.

 


Temos estado acompanhar pelo Relatórios internacionais, de que aqui em Moçambique o índice de contaminação do HIV SIDA, tem sido bastante acentuado, esta questão tem sido alvo das vossas pesquisas?


Sim, nós temos aqui uma área dirigida pelo professor Carlos Arnaldo, uma área que se dedica ao estudo dos problemas da saúde reprodutiva e do HIV-SIDA. Portanto, eles têm feito e são estudos permanentes e regulares sobre as suas implicações, problema que nos inquieta naturalmente, e que tem merecido atenção da equipa de investigadores que é dirigida pelo professor Carlos Arnaldo.

 

Existe uma outra questão que tem que ver com os linchamentos que têm estado a surgir aqui em Moçambique de uma maneira geral, vocês têm feitos estudos neste domínio?

 

Sim, sim os linchamentos pertencem a uma área de pesquisa da unidade que eu coordeno, que é uma unidade de diagnóstico social. Então, esta área de linchamento tem merecido a nossa atenção e já foram publicados dois livros, com base neste estudo, o primeiro livro é sobre os linchamentos em zonas peri – urbanas, nas periferias das cidades, e um estúdio sobre os linchamentos nas zonas rurais que assenta em acusações de feitiçaria, em vários casos as acusações são invariavelmente liga ou roubo ou estupro em jovens desempregados em regra geral, e finalmente e o segundo caso é o de acusações de feitiçaria, que assentam sobre mulheres de uma certa idade, são acusadas de feiticeiras e são mortas.

 

E da conclusão que se chega, pode-se dizer que este é um problema que inquieta a  sociedade de uma maneira geral?

 

Sim é um problema com varias causas, porque os linchamentos urbanos não são do mesmo género, do que os linchamentos da periferia não são? São diferentes, para não falar já num outro tipo de linchamento que eu chamo de linchamento moral, que é o caso em que as mulheres se não são mortas por acusação de feitiçaria, mas ao expulsas das famílias e têm que viver em lares de idosos, em situação de amargura muito grande, eu chamo a isto um linchamento social, ou linchamento moral. Esta é uma área que inquieta muito a sociedade e todos os anos, já houve uma conferência Nacional aqui em Moçambique, mas precisamente em Maputo, sobre violência e linchamento e foi amplamente discutido e todos os anos o nosso Director geral coloca na Assembleia da Republica o problema dos Linchamentos aqui em Moçambique, temos sempre uma mediam entre 50 a 75 ou mais linchamentos conhecidos não é? Porque depois pode haver linchamentos não chegam ao conhecimento público, designadamente os linchamentos que são feitos por acusação de feitiçaria, muitas vezes é um a faire privado não é? Então é um fenómeno inquietante.


Quantos colaboradores, tem o Centro de Estudos Africanos aqui em Maputo?

 

Não eu assim de repente não sei, mais são para cima de dez, depois vamos ter bem mais, porque nós agora fizemos um concurso de admissão de gente jovem, pesquisadores auxiliares, e foram admitidos 23 ou 24 não sei agora, está sobre responsabilidade do presidente do júri, mas vamos ai uma equipa bastante grande não é?

 

Este centro tem sido um suporte da Universidade Eduardo Mondlane?


Nós somos uma unidade da Universidade Mondlane, nós temos obviamente como qualquer unidade, qualquer Faculdade, nós temos a Universidade que custeia vamos lá os nossos salários, a água, a luz, nós somos uma unidade orgânica da Universidade, só que somos uma unidade dedicada a pesquisa. Embora, quase todos nós sejamos professores também ai em varias Faculdades.

 

Surge-nos uma questão que tem que ver com a sustentabilidade deste Centro de Estudos, os apoios financeiros têm sido apenas da Universidade internamente ou contam outras parcerias?

 


Você para fazer pesquisa a Universidade não custeia digamos os montantes que são necessários para você em pé uma pesquisa, não faz isto, isto significa que o próprio Centro de Estudos Africanos, tem que arranjar mecanismos, tem que encontrar financiadores ou parceiros que possam conceder o financiamento que permitem viajar estar no terreno, pagar o tal perdiem, e isto é complexo, então, existem vários tipos de pesquisadores. Por outro lado a Universidade pode ajudar em termos de financiamentos cobertos pela direcção cientifica, neste caso a direcção tem tido pequenos financiamentos que permitem que a gente possa fazer determinados trabalhos.


Quanto a velha questão da imposição por vezes dos doadores, a entidade que encomenda determinado tipo de pesquisa, quer que a pesquisa seja conduzida da forma como eles pensam, como é que vocês reagem este tipo de pressão?

 

Bom, para o nosso caso não tem havido grandes pressões sobre nós em relação a isto, depende do tipo de pesquisa que se quer fazer, pessoalmente eu não tenho tido nenhum problema com os doadores, muitas vezes ou quase sempre eu consigo determinados tipos de financiamentos pequenos claro, não é? Que permitem não só fazer a pesquisa quanto a publicação, depois o nome do financiador vai na publicação que a gente faz no livro. Portanto, depende do tipo de pesquisa, se ela é encomendada, se ela é produto de uma agenda governativa local, depende do tipo de critério e do tipo de financiador do tipo de agenda que você faz, a coisa é variada não é? No meu caso eu não tenho tido problemas não sei, se os outros meus colegas um ou outro com alguma dificuldade mas enfim, vamos sobrevivendo.  
           


Qual é a relação que o Centro de Estudos Africanos tem com o CORDESRIA, na medida que este foi o terceiro Atelier de Metodologia de Pesquisa em Ciências Sociais, dos cinco que se realiza aqui em Maputo?


Vamos lá ver, nós temos relações antigas, uma das nossas colegas Teresa Cruz e Silva, já foi presidente do CODESRIA, eu sou membro do CODESRIA, o Centro tem um acordo para fazer cá os seus seminários, eu tenho um livro publicado em francês no CODESRIA, o Drº Baia tem um livro publicado no CODESRIA em português, como vê, há relações antigas além de relações pessoas que nós temos com os pesquisadores do CODESRIA, então já há muitos anos de trabalhos conjunto e bom para ambas as partes.

 

Agora gostaríamos de ouvir a sua virtude de razão em torno do ensino superior aqui em Moçambique…

 

É um bocado difícil falar sobre isso porque eu não pesquisei, de qualquer das formas o que é importante saber para já, é que nós somos um pais que tem neste momento 38 Instituições do ensino superior entre instituições privadas e públicas, e entre institutos e Universidades, e por consequência, é um país que tem uma massa estudantil muito grande, cada vez maior, com muitos estudantes a querem entrar para Universidade. Então, é uma massa muito grande, são milhares de pessoas espalhadas por todas as províncias, porque nós temos hoje instituições de ensino espalhadas por todas as províncias quase do país, e então é preciso conhecer esta realidade e eu não a conheço suficientemente bem, são tantas províncias, tantos Institutos, no entanto não posso falar sobre isto, permita-me que lhe dê estes dados que são diametralmente contrários aqueles que nós tínhamos em 1975, em que só havia uma ou duas  Universidades, hoje é muito diferente o quadro, é só basta ver a nossa Universidade aqui, para se ver os complexo pedagógicos, quer dizer a quantidade de gente que está na Universidade Eduardo Mondlane, o que significa também uma exigência grande por parte dos professores, e esta Universidade hoje por exemplo tem um parque de professores já muito grande, com cerca de 200 ou 300 doutores, 7 ou 8 professores catedráticos, tem muitos mestrados, somos cerca de 800 a 900 professores ou mais até, uma população que se foi formando ao longo destes anos, e já pode aqui e acolá fornecer cursos doutorais, fora os cursos de mestrados que nós temos, mas doutorais já começa aparecer doutoramentos atribuídos pela Universidade Eduardo Mondlane, por exemplo o mais consistente é o da Faculdade de Letras e ciências Sociais que atribui o doutoramento em linguística por exemplo. Portanto, somos um país em grande crescimento Universitário, com uma crescente massa estudantil, cujos perfis é preciso estudar um dia não é?

 

Este crescimento tem sido acompanhado com a qualidade que se exige?

 

Uma boa pergunta, mas como eu lhe disse para eu poder avaliar a qualidade, teria que conhecer o terreno, o tipo de Universidade que temos, o perfil do ingressos, resultados, as notas, a qualidade dos professores, e eu não tenho este dados, portanto, eu não posso falar sobre o que não investiguei não é isto?


Há uma outra questão que divide as opiniões aqui em Maputo tem haver com a convenção de Bolonha, enquanto estivemos a fazer o trabalho pratico, podemos constatar isto, em função desta reticencia, parece-se nos que só a Universidade Eduardo Mondlane é que adoptou está declaração, qual é a sua virtude de razão em relação a isto professor?


Bem, o processo de Bolonha começou a dois ou três anos na Universidade Eduardo Mondlane, e como qualquer outro processo significa que as pessoas ficam umas de acordo outras preocupadas, ou pelo menos indecisas, as pessoas foram treinadas a dar aulas durante quatro ou cinco anos, e de repente têm que se converter o seu esquema de referência para dois ou três anos, tudo isto implica obviamente reflexão, além de mais e isto especialmente é preciso saber se este processo em Moçambique é ou não é de facto útil, porque pode a ver cursos onde ele seja difícil de aplicar, designadamente o curso de Medicina, não é assim? Há professores que estão com serias reservas, talvez não tanto quanto ao processo em si, mas com a falta de dialogo em relação a este processo, mas como lhe disse é preciso investigar melhor isto, para ver como é que vão as coisas, mas o que lhe posso dizer é que o processo está correr e estão a ser feitas reconversões curriculares  está  correr.

 

Ainda ligado as pós graduações, isto o mestrado e o doutoramento, sobretudo aos cursos técnicos como as engenharias com particular realce, existem laboratórios que correspondem as pós graduações nestas áreas do saber?


Há queixas em relações as Instituições que abriram mas que não dispõem de logística, e de condições técnicas, e isto já levou o nosso Ministério da Educação a tomar medidas no sentido de nenhuma instituição de Ensino superior poder abrir sem ter digamos que uma inspecção, sem ter regras e sem se fazer uma avaliação das condições reais objectivas e suficientes para dar aulas aos alunos, o que significa que é preciso muita prudência muito cuidado, para evitar que surjam instituições que não estão nada preocupadas com a qualidade do ensino, com a formação, mas sim com outros tipos de interesses, designadamente interesses fianceiros de um certo tipo não é? Portanto, é um problema muito complexo e delicado.

 

Quanto ao raking das 100 melhores Universidades Africanas, a Universidade Eduardo Mondlane, a coisa de dois ou três anos estes em 23 lugar deste raking, hoje baixou para 43, que é que isto significa professor?

 

Eu conheço muito mal este ranking, mas aquilo é feito através creio de uma analise da Internet, do tipo de frequências, que é avaliando as visitas aos sites, bom a Universidade está classificada até em bons lugares, como sabe, este ranking tem nos primeiros lugares invariavelmente as Universidade sul africanas,  depois algumas Universidades norte africanas, a nossa Universidade é a única de Moçambique que está ai classificada, como lhe disse, eu não conheço em profundidade os critérios e parâmetros que são utilizados para fazer esta avaliação.

 

Voltando para investigação cientifica, é a questão da consultoria e a investigação, aqui é Moçambique é notável indivíduos que nas vestes de investigadores fazem consultoria?

 


Eu penso que sim, alias foi feito um estudo sobre isto não só em  Moçambique como em vários outros países, e há de facto uma tendência geral de pessoas que procuram sobreviver através das consultorias, ou seja significa que há pessoas que procuram responder percursos de pesquisa que não são, percursos de pesquisas criados por nós, são percursos de pesquisas criados pelo exterior, isto é um risco,  e este colado a outros riscos que pode haver obviamente, se não haver algum cuidado no futuro passando pela melhoria das condições sociais dos professores e pode haver o risco dos pesquisadores deixarem de investigar constatações para nós importantes para passarmos a investigar só ou quase só coisas que são importantes para os outros, por outras palavras, há o risco de deixarmos de pensar para sermos pensados.


Fazendo uma espécie de prognostico, que futuro terá a investigação cientifica o continente africano?


Eu sou optimista, apesar de todos os problemas que nós enfrentamos aqui como em qualquer outro país, como em Angola, como qualquer país, com os problemas da falta de recursos para auxiliar a pesquisa, mas isto passa também por um crescimento qualitativo das nossas Universidades, da qualidade dos nossos cursos e da capacidade dos nossos governantes prestarem atenção aos créditos de pesquisa, atenção aos financiamentos para a pesquisa, isto é extremamente importante, um país que conta com financiamento internos para os seus pesquisadores é um país que pode crescer.