Luanda - Introdução: As línguas maternas merecem uma atenção especial; elas nasceram com a pessoa humana; sendo assim, constituem um patrimônio cultural, uma dádiva para todas gerações. Elas evoluirão de acordo com o processo da reconstrução nacional, na esperança de  uma nova Angola.


Fonte: Club-k.net


A valorização da nossa cultura é uma forma de reforçar as bases da independência nacional e honrar os patriotas que se sacrificaram para que Angola se tornasse independente.

 

 As línguas maternas constituem o clarim da afirmação de um povo, de uma nação ser diferente das outras nações do mundo.


            As línguas nacionais são bastante importantes para além de serem instrumentos comunicativos, elas também desencadeiam condições cognitivas, culturais, psicomotoras  e lúdico-afectivas na diferenciação dos grupos etnólinguisticos e das nações em qualquer parte do mundo.  As línguas maternas têm um papel altissonante nas relações humanas.

 

         Quando a economia de um determinado país desenvolve, a audiência dos estrangeiros sobre este mesmo país aumenta e, logo cresce o nível de valorização da língua deste mesmo país.


          A cultura faz a identidade de um determinado povo; ninguém abusa da denominação da língua ou da violação das suas leis sem punição. Quem despreza as línguas maternas (línguas nacionais), despreza a sua origem e continua ainda atado nas algemas da colonização cultural.

 

         É preciso organizar métodos de defesa contra a aculturação; nós angolanos se valorizarmos as línguas maternas, os estrangeiros ganharão vontade de aprendê-las.
          


 Os meios de difusão massiva, devem cada vez mais divulgar em grande medida os actos que assentam na esteira da cultura angolana, bem como também aqueles que  potenciam uma educação distante da violência que capacita humanamente o  homem novo.

 

          A cultura angolana, deve influenciar  em grande percentagem a nossa governação de modo a impedir a aculturação e o neocolonialismo, mas que se consolide uma democracia que se sustente com base nas raízes puramente africanas.
Desenvolvimento da questão


         As palavras têm valor inestimável na comunicação entre pessoas, e comunidades. As palavras podem ser utilizadas para edificar como também podem servir propósito adverso. As palavras podem consolar pessoas como também podem ser empregues para destruir a auto-estima do individuo e de comunidades.

 

             Cabe por isso, a cada membro de todos os grupos sociais que compõem a nossa jovem sociedade, usar mentes sadias para instruir as novas gerações melhor comunicarem com os seus pares.                      

 

           No passado, ainda não muito distante, a política colonial européia utilizou formas que fizeram com que os povos africanos não tivessem o orgulho de si mesmos, relegando-os à categoria de sub-humanos, destruindo todas as mentes brilhantes que se revelassem naquele período - também sombrio do nosso país e do continente africano.

 

            Estamos em pleno século XXI, onde temos a possibilidade de termos instrumentos que facilitam a comunicação, o que desde já implica não deixar passar atropelos que se possam registar em diversos domínios na nossa sociedade. 

 

       Falando especificamente do caso da aberrante denominação da língua falada no Kwanza-Sul, é justo denunciar que a ignorância jogou um papel determinante. As pessoas de cultura, na sua maioria, que se deviam se sentir lesadas, não ou quase nada fizeram em repudiar com veemência tal denominação erradíssima (Ngoya). Não suportando o peso pejorativo de tal palavra "Ngoya", algumas vozes se levantaram falando e escrevendo em alguns jornais e nos espaços da internet, como foi o caso do línguista Dr. Luciano Canhanga, que no seu Blog, repetidas vezes expôs a sua oposição à referida denominação, tendo lhe faltado, para o efeito, o apoio da comunidade literária da província, para não dizer do país para que se combatesse tal inadequada denominação.

 

             É neste mesmo espírito de defesa do direito ao respeito das origens línguísticas, que uma equipa composta por naturais da província, formados em diversos domínios do saber, munidos de suporte técnico, linguístico e literário decidiu unir forças, para junto das entidades de direito, abrir um debate que conduza a uma denominação linguística que dignifica o povo desta Província (língua mbundu). 

 

           Para além do recurso às fontes orais (como método também válido, visto não termos herdado muitos acervos históricos escritos), consultamos as obras de autores conceituados em todo mundo, como a do Dr. Professor - Théophile Obenga, Cheik Anta Diop, W.H. Bentley e Dr. W. H. I. Bleek, sem nos esquecermos de mencionar o trabalho do Padre Moisés Malumbo (os ovimbundos do planalto central), e igualmente às obras do Dr. Joseph E. Holloway, que nos permitiram dar um escopo histórico ao nosso trabalho, no que tange à vitalidade cultural e linguística da diáspora angolana nas terras longínquas: Estados Unidos da América e nas Caraíbas. 

 

          Importa assim referir que os povos desta unidade geográfica do continente que veio a ser chamado África, e em particular a sub-unidade chamada Angola, têm riquezas culturais que merecem ser estudadas e aplicadas (na medida da lógica) a todos os níveis, como é o caso dos outros povos europeus, americanos, asiáticos e da Oceania. Em Angola, por causa da guerra fratricida vivida desde a independência e a despreocupação pelas línguas nativas herdadas do colonialismo fascista não permitiram o estudo profundo dos idiomas locais.

 

         Porém, agora que estão caladas as armas, a maior preocupação dos membros da sociedade deve ser dedicada em resolver assuntos de interesse comum; por exemplo, dentre estes, o estudo, a aprendizagem e difusão das línguas nacionais assim como também outros pendentes ligados ao crescimento e desenvolvimento social em todos níveis, tendo como tarefa base, investir na educação da pessoa humana capaz de corresponder com o contexto actual, que é o de recontrução nacional. Os angolanos têm a obrigação de quebrar a vergonha de falar as línguas nacionais, assim como também devem trabalhar intensamnete para que estas mesmas línguas evoluam em pé de igualdade com as demais línguas faladas no mundo; certos de que elas evoluirão em função do desenvolvimento da nossa economia.

 

        É neste espírito que julgamos oportuno trazermos aos nossos compatriotas a denominação Mbundu - língua franca do Kwanza-Sul, que aguardamos com muita ansiedade ser oficialmente divulgada pelas entidades de direito (governo).

 

            A denominação mbundu tem como pilares os seguintes aspectos: 

 

                1- Temos dois grupos etnolinguísticos que exercem influência na provincia do Kwanza-sul: Ambundu (dialecto do kimbundu á 80%) e Ovimbundu (dialecto do umbundu á 20%).
            


 2- O dialecto do Kimbundu (Mbala), falado em Kibala, mesmo sendo o que  ……… …abrange a maioria dos municípios que compõem a província (oito municipios: Kibala, Libolo, Mussende, Waku-Kungu, Ebo, Gabela, Kilenda e Porto-Amboim) “não deve” suplantar o outro dialecto do umbundu falado em quatro municipios  (Sumbe, Konda, Uku-Seles e Kassongue) mesmo em posição de uso minoritário, porque os dois   são da .mesma família (grupo Bantu).
        


           Assim, vendo que as duas denominações (Kimbundu e Umbundu) têm o mesmo radical (mbundu), que depois de subtrair os seus respectivos pré-fixos (Ki ; Um); temos aqui o seguinte resultado: mbundu e bundu. Nesta base, não há outra alternativa senão se render ao ensinamento científico e lógico em presença.  Por exemplo, a palavra mumbundu, significa Negro (singular). Mambundu significa Negros (plural), nome dos dois povos (grupos) ambundu e ovimbundu, do qual deriva o nome da sua língua, a língua mbundu. A palavra mambundu, traduzida em português, significa escuro, cor da raça negra, continente africano; este termo tem grande peso etnolinguistico porque abrange a classificação dos povos da  África negra.

 

             O nome que acabamos de estudar e que propomos como nome da língua franca da Província do Kwanza-Sul, “Mbundu” significa: Pensamento e sentimentos da pessoa humana; nevoeiro; pois ninguém pode reagir sem primeiro pensar no que sente.

 

           Esta mesma denominação serve para diferenciar o Kimbundu falado nas provincias do Kwanza-Norte, Malanje, Bengo e Luanda, pois que o dialecto do kimbundu falado nos oito (8) munícipios da província do Kwanza-Sul não é semelhante ao kimbundu das províncias em referencia, sendo assim o instrumento de comunicação com que os oito municipios da provincia do Kwanza-Sul se servem, deixa de ser chamado dialecto do kimbundu e toma a categoria de uma língua, a língua Mbundu; partindo do pressuposto filosófico, coisas iguais não se diferenciam; se há diferença não há igualdade; se a língua falada no Kwanza-Sul (oito municipios) é dialecto do kimbundu, então entre a mesma língua com este dialecto, há diferença; havendo diferença, estamos em presença de duas línguas: Kimbundu e Mbundu; a partir deste trabalho investigativo, a língua do Kwanza-Sul está livre da dependencia da língua kimbundu e umbundu, mas as duas línguas pertecentes aos grupos etnolinguisticos ambundu  e ovimbundu,  assumindo a sua denominação certa (Mbundu).
Nas primeira edições já publicadas, cometemos um lapso na palavra “bailundu”, o mais correcto é Balundu.

 

              Neste contexto, havendo a necessidade desta comunidade linguística estar representada nos programas de línguas nacionais, emitidos pala comunicação social áudio-visual pública (RNA e TPA), torna-se imperativo a adopção desta denominação, pondo assim fim a uma aberração de interpretação etnolinguística que já deveria ter sido corrigida há muito tempo. 


            Para terminarmos, gostariamos de recordar que, as palvaras mal empregues ferem e as mesmas podem ser usadas para destruir o amor-próprio das pessoas e comunidades.
             


Ao exemplo duma iniciativa comparável que vigora nos Estados Unidos da America, onde os intelectuais Afro-Americanos, impulsionados pela mais prestigiosa jornalista, filantropica, a Srª Oprah Winphrey; revoltados com o peso da palavra epiteto “Niger”, organizaram uma campanha  passionante, para a descontinuidade do uso do referido epiteto e a sua abolição (http://www.abolishthenword.com, http://www.youtube.com/watch? v=Z2J_e1e_zXk).
             

 É da mesma forma que argumentamos aqui, ser nosso dever em encontrar uma denominação que respeite a origem línguistica do povo desta província, para que nunca e nunca mais se empregue o termo "Ngoya" como nome da sua língua.

 

           O povo do Kwanza-Sul é patriota e humilde, e não chamá-lo anti-social, glutão, po...co (ainda que por ignorância, ou omissão). Assim, esperamos com este trabalho, estarmos a dar uma contribuição em fazer respeitar as demais línguas maternas angolanas.

 

Bibliografia


•  Dicionário complementar português – Kimbundu – Kikongo
 (Línguas nativas do Centro e Norte de Angola - António da Silva Maia)

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              A Comissão Técnica:

■ Dr. António Panguila        –  Escritor e Historiador (Kibala)

■ Engº Avelino A. Kalunda –  Consultor Técnico         (     ”     )

■ Dr. Luciano Canhanga      –  Linguista e Consultor Técnico  (Libolo)

■ Dr. Professor Luís Reis     –    Membro                        ( Waku-Kungu)

■ Dr. Bernardo Castro        –     Membro                         ( Waku-Kungu)