Brasil - Viver sobre o estilo arrogante da cultura colonial portuguesa ainda pode ser normal para os milhares de angolanos que trabalham em empresas portuguesas, mesmo em Angola.


Fonte: http://www.blogdonelodecarvalho,blogspot.com/

O chefe, o ministro, o patrão, ou até o compadre português

O Jornal de Angola uma propriedade de “não sei de quem” ajudou a pôr em prática aquele espírito que para muitos seria coisas do passado, que, talvez, só pudessem merecer análises de historiadores. O gesto de exoneração, talvez até demissão, protagonizado é o produto do poder discricionário que os 35 anos de independência outorgou àqueles que se julgam em definitivos e eternos donos do país. Em nenhuma parte deste mundo, real e humano, se demitem funcionários públicos por erros de rotinas profissionais, e muito menos por aquele do título.


Não se trata aqui de discutir se o Jornal de Angola como instituição tenha ou não direto de punir seus profissionais. Trata-se de entendermos quem de direito deve fazer ou estar em frente da mesma punição, dentro ou fora do mesmo Jornal. Aquele direito é coisa a parte, que na verdade nem existe, pela falsidade ideológica da nossa democracia. Este – o direito de quem está dentro ou fora do Jornal como chefe, o direito discricionário, arrogante e prepotente- é o que queremos discutir aqui. Também, não se trata aqui de particularizar, se desta vez, ao menos desta vez, quem demitiu tinha ou não razão para fazê-lo.


É este direito atrofiado, que com os novos ventos que impulsionam o veleiro timonado pela Ministra da Comunicação deveria ser empacotado, levado ao legislativo, ser estudado e analisado e, finalmente, sabatinado para ser votado naquela casa.


É tão ilegítimo o regime que sustenta uma democracia onde as instituições agem discricionariamente em nome de quem as dirigem, ou, ainda, em nome de quem dirige quem está a frente das mesmas: o chefe, o ministro, o patrão, ou até o compadre português, em Portugal, que mal entendeu que seu nome foi redigido erroneamente num Jornal da ex-província ultramarina.


Qualquer ato, exoneração ou demissão de algum funcionário da instituição aqui referenciada, e qualquer outra, por ter escrevido o nome errado de “Kavacú da Cirva” é um exagero sem tamanho, seja ele –este último- quem seja e de onde seja.


Só faltava essa, a alfabetização dos miseráveis de Angola passar pelo conhecimento estrito dos nomes portugueses. Estes que mal querem adotar a integração da nova ortografia, ainda, têm o direito de exigir, diante de alguns serviçais, que seus nomes sejam bem escritos.


Entendemos, que muitos destes serviçais, no afã de quererem se aparecer aos seus antigos patrões, até suas filhas doaram ou doam para que aqueles vêem nos nativos a fidelidade eterna, pós escravidão e pós colonial. Ou para que os supostos – assim eles acreditam- nativos induzam no subconsciente de seus ex-patrões a ideia de que os primeiros não são em nada iguais aos pobres nativos, ou aos “pretos de Angola”. Só os genros daquela turma de nativos, em nomes de seus herdeiros, podem exigir nomes bem escritos nos jornais públicos desse país. Esse não seria ainda o caso da maioria dos angolanos que ainda têm orgulho de serem nativos deste país. De “miseráveis”, mas é o nosso país!


O xingamento aqui vale para a nossa burguesia e toda caravana de estúpidos que vivem aplaudindo estes. E, ainda, para aqueles que não pensam nunca em despertar diante dos valores da democracia. Um deles é:

- A necessidade de tornar autônoma e autárquicas as instituições públicas, que nenhuma delas dependam do chefe do executivo e do governo que aí está em exercício, e outros que virão, com certeza. Esse é um dos valores que deveria ser incutido a todos aqueles que pertencem ao partido da situação. Mas a turma dos que fazem o coro da bajulação é diretamente proporcional ao número de elementos do partido que tudo controla;


Dar autonomia e tornar as instituições independentes é uma forma de distribuir e dissipar o poder, tão cobiçado por todos. E que por este motivo levou o país a cair numa guerra persistente de quase trinta anos. É uma maneira civilizada de lidar com os outros, principalmente quando esses outros podem ser seus compatriotas ou camaradas – o camarada aqui não é o que vive fazendo tráfico de influência, dando gasosas e distribuindo cargos públicos para agradar e corromper; o camarada é o que se posiciona com postura cívica diante das leis e das normas, é aquele que minimamente aprendeu a ser um verdadeiro cavalheiro.


Chegou à hora de alguém dizer ao chefe que a liberdade – a cidadania e a democracia, tão pronunciada por todos, mas usufruídas por meias dúzias de ex-guerrilheiros e comandantes - de cada um de nós os Angolanos passa pela capacidade de que cada uma das instituições, tendo em conta suas finalidades, regerem-se por leis próprias livres dos tentáculos de quem acha que deve ter poderes absoluto.


E esses são os versos que a Ministra de Comunicação deveria recitar nos ouvidos do chefe.