Luanda - Angola, que se diz um Estado de Direito, depois de ter estado em 2008 na posição 158 no “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, passou em 2009 para a 162


* Rosalina Alves
Fonte: Lusa & NL

MPLA não tem de se pronunciar sobre este assunto

Ao mesmo tempo que prepara um plano para calar algumas vozes cada vez mais incómodas, o MPLA (no poder desde 1975) procura desviar as atenções dessa estratégia através de manobras de diversão como a que hoje foi apresentada pelo seu porta-voz, Rui Falcão. O programa de silenciamento, ao abrigo dos crimes contra a segurança do Estado, está em fase adiantada e conta com a colaboração da países amigos...

 


Segundo Rui Falcão, o partido que governa Angola desde a independência em 1975 e que é acusado por todos os organismos independentes como um dos mais corruptos do mundo, quer ver os ”órgãos competentes do Estado” a pronunciarem-se sobre as acusações do activista Rafael Marques sobre corrupção também no seio da Presidência angolana.

Rui Falcão referia-se ao relatório denominado "Presidência da República: O Epicentro de Corrupção em Angola", onde Rafael Marques mais uma vez denunciou a existência de altos oficiais da Guarda Presidencial e da Casa Militar do Presidente angolano há 31 anos, José Eduardo dos Santos, à frente de grandes negócios.

 

“Angola é um Estado de Direito e tem órgãos competentes para se debruçarem sobre este tipo de acusações. O MPLA não tem de se pronunciar sobre um assunto que deve ser analisado nos órgãos competentes. O que o MPLA gostaria era de ver esses órgãos competentes a pronunciarem-se sobre essas acusações”, disse.

 

Ao garantir a atenção dos media angolanos (e certamente de muitos outros), lança uma cortina de fumo sobre o seu adiantado plano de neutralização de todos aqueles que – como Rafael Marques – ousam questionar a suposta honorabilidade dos donos do poder em Luanda.

 

Rui Falcão admitiu ainda que o MPLA “internamente, debate todos os assuntos”, incluindo o relatório do activista Rafael Marques, mas não profere declarações específicas publicamente sobre assuntos “que dizem respeito aos órgãos competentes do Estado”.

 

Após consultas “secretas” a alguns países amigos, nomeadamente mas não só no seio da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, a que preside, o governo de Angola acredita que, ao abrigo do que chama crimes contra a segurança do Estado, vai silenciar mais uma vasta série de vozes incómodas.

 

Após a divulgação do relatório de Rafael Marques, na semana passada, o maior partido da oposição, a UNITA, corroborou as acusações de Rafael Marques, enquanto fonte da Presidência angolana informou que não seriam feitos comentários às denúncias.

 

No documento divulgado, no passado dia 4 de Agosto, na sua página on-line, Maka Angola, Rafael Marques argumenta que "membros muito próximos do Presidente da República têm usado a sua influência para privatizarem, em seu favor, parte do património público angolano e construírem um império comercial de origem bastante duvidosa".

 

A partir da investigação realizada ao longo de quatro anos, Rafael Marques aponta os casos do chefe da Casa Militar e ministro de Estado, general Hélder Vieira Dias “Kopelipa” do chefe de Comunicações da Presidência, general Leopoldino Fragoso do Nascimento e do presidente da Sonangol, Manuel Vicente.

 

Este "controlo", que segundo Rafael Marques pode ser explicado pelo "acesso directo" a José Eduardo dos Santos, "representa um grande perigo para a estabilidade política e económica" e cria "uma série de problemas de segurança, até para o próprio Presidente, porque transformaram a Presidência numa casa de negócios para fins privados".

 

O jornalistas e activista deu o exemplo da criação da Portmill, Investimentos e Telecomunicações, empresa "actualmente gerida por oficiais da Guarda Presidencial e da Casa Militar do Presidente da República, ali colocados pelo general Kopelipa".

 

A Portmill "nunca teve qualquer actividade comercial, excepto duas: a compra de 24 por cento das ações do BES Angola e a receção de 40 por cento da privatização da Movicel, feita a favor desta empresa", sustentou.

 

"Onde é que estes oficiais encontraram tanto dinheiro para fazer um negócio desta natureza? Como é que um banco com a reputação do BES aceita 375 milhões de dólares de oficiais da Presidência?", questiona Rafael Marques.

 

O relatório de Rafael Marques analisa também negócios do "triunvirato" nas empresas Biocom, Nazaki Oil&Gas, Media Nova, World Wide Capital e Lumanhe.

 

Como ontem aqui foi revelado em Manchete, José Eduardo dos Santos não está a gostar do crescente número de vozes críticas, sejam elas de políticos ou de jornalistas (casos, entre outros, de Rafael Marques e William Tonet), e já deu instruções aos seus mais fiéis acólitos para estudarem medidas radicais para os calar.

 

Medidas que podem ser, segundo as nossas fontes, de puro aliciamento financeiro (já em marcha e com contactos feitos), prisão por crimes contra a segurança do Estado através de supostos actos terroristas, ou silenciamento absoluto (choque contra balas perdidas).