Luanda - Creio que, pela sua amplitude, este tema não se esgota num simples artigo de opinião. Na verdade, uma reflexão acerca dos “Paradigmas e do Status quo em Angola” ultrapassa os estreitos parâmetros de uma crónica, entra, inclusivamente, em campos como a investigação científica para o desenvolvimento, ou nas opções dos sucessivos governos do MPLA para o período em análise.

 

* Docente Universitário
Fonte: Club-k.net

É claro que, de um modo ou do outro, afigura-se oportuno tratar esta matéria dentro do valor simbólico que representa para a actualidade. Isto porque se vislumbra no horizonte uma catástrofe social que ao desvalorizar a educação irá condena, irremediavelmente, todo o desenvolvimento económico e social do país, comprometendo assim o futuro do país.

 

Parafraseando Max Scheler, citado por SANTOS, José Domingos Cassanji (2009) “Numa história de mais de dez mil anos nós estamos na primeira época em que o homem se tornou para si mesmo universal e radicalmente problemático; o homem não sabe quem ele é dá-se conta de não sabê-lo cada vez mais”.

 

 

Assim, os líderes deste povo, devem ser capazes de olhar para si mesmos, identificar as suas fraquezas, trabalhar no sentido de corrigi-las, e melhor o seu desempenho.

 

 

Com efeito, muitos dos actuais problemas de desenvolvimento social, económico e político da sociedade angolana têm sido referidos como sendo “legados do colonialismo português”. A remissão dos factores de explicação dos constrangimentos da sociedade angolana para o período da colonização, tem servido sobremaneira para desresponsabilizar as elites angolanas e/ou minimizar o seu papel no surgimento e/ou na agudização de muitas das situações de pobreza e de instabilidade política que se seguiu à conquista da independência nacional.

 

 

Outrossim, a verificação empírica de que o modo de colonização portuguesa no litoral e hinterland, não foi uniforme nem simultâneo, tem sido uma das condições de pertinência das análises que exploram as rupturas e as continuidades dos modelos históricos de colonização em Angola.

 

 

Debruçarmo-nos sobre os legados do colonialismo em Angola, pressupõe antes levantar seguintes questões: Que tipos de rupturas e/ou continuidades históricas é possível encontrar nas formas de articulação das actuais elites do poder com a problemática das identidades étnicas, raciais, regionais, religiosas e políticas do país?

 

 

Até que ponto a “herança colonial” pode ou não explicar alguns dos problemas de gestão política, económica e social que vêem assolando este país desde a independência? Que segmentos sociais concretos são elementos do colonialismo português que a “descolonização” não erradicou ou não poderia ter erradicado?

 

 

Estes, são fenómenos de múltiplas causalidades e difíceis de estabelecer, sem correr o risco de cair em lógicas lineares, que não conseguem apreender a complexidade de semelhantes processos.

 

 

Na verdade, lidar analiticamente com as consequências da colonização na actualidade significa avaliar processos históricos, políticos, económicos e sociais e culturais de extrema complexidade. Por outro lado, a (re) construção da angolanidade uma categoria, cuja história remonta à década de 60 do século XX. Foi a partir dessa época que a actividade literária dos angolanos de todos os quadrantes impôs a intervenção de um discurso crítico e legitimador, reivindicando a independência nacional para todos.

 

 

Com efeito, a volta do tema da angolanidade, já em 1960, se lamentava o risco da assimilação e da desreferênciação dos intelectuais angolanos que “perturbados pelo processo de coisificação, se esqueceram por muito tempo que existia a civilização africana. Aceitaram a ideia de “coisas sem importância” para as culturas negras (…) não se voltaram para o lado mais importante da questão: para as tradições dos seus povos, para as suas línguas que não sabiam e/ou não sabem falar, para a filosofia, para a religião.”[1]

 

 

Em Angola, ainda hoje, infelizmente, insiste-se muito na prática da inviabilização dos saberes africanos e/ou da sabedoria perene dos povos autóctones do país. A psicologia, a lógica, a linguagem, a metafísica dos povos de Angola não são tidas pelas elites no período pós-independência.

 

 

Nesta perspectiva, nos parece ser mister dizer que uma sociedade não se avalia pelo seu valor geográfico, mas sobretudo pelos saberes e pelo seu capital humano oral ou gráfico desde as origens até à eternidade. Doutro modo, qual seria o significado da palavra independência nacional para os angolanos? Qual é o nosso destino?

 

 

Infelizmente, Angola de hoje, mergulhou numa crise de valores sem paralelo. Precisamos de examinar a história e estabelecer para Angola um paradigma de desenvolvimento estratégico que permita responder aos seguintes propósitos: “Porque estamos na situação presente?”; “Como atingiremos os objectivos primários da independência nacional?”; “Qual é a nossa visão e filosofia básica de vida”?». É igualmente importante e urgente que as elites angolanas se debrucem e se faça uma avaliação sobre a cultural, o ambiente, as necessidades internas e externas das comunidades e definir parcerias e alianças estratégicas que não hipotequem Angola, único nosso património comum.

 

 

O insucesso de Angola deve-se em grande parte aos modelos de desenvolvimento social em vigor desde 1975. O País carece:

·        De uma elite e/ou de uma liderança que denota profunda convicção, entrega e dedicação total à causa maior de todos os angolanos.

·        De uma liderança dinâmica e comprometida com a cultura e o modus vivendi das populações

·        De uma elite disposta a pagar o preço que for pela realização dos valores da Democracia.

·        De uma liderança sensível que tem um coração de servo, e lidera não para seu próprio beneficio, mas para o enriquecimento e bem-estar dos liderados

·        De uma liderança voltada para as pessoas, que procura fazer outros líderes, trazendo à tona todo o seu potencial e transformando-o em força dinâmica.

 

 

 Enfim, a sociedade angolana precisa de líderes de carácter, mas infelizmente a nossa sociedade corrupta não tem produzido líderes íntegros.

 

 

A mudança de paradigmas e a inovação sistemática, contínua, capaz de congregar sinergias e libertar o “velho” não são ameaça, mas uma oportunidade para fazer o que é certo e manter o rumo da sociedade para o trilho certo. Pensar em termos de “nós” em vez de “eu”, é uma prática e modo de saber fazer, saber estar e saber ser que dignifica e edifica e fortalece a liderança, honra o país e a História Gloriosa de Angola. Por isso,S sempre vale a pena tentar a alternância e a mudança de paradigmas.

 

 

Parafraseando WOODBERRY[2], George E. (1994, p.325), “A derrota não é o pior dos fracassos. Não ter tentado constitui o verdadeiro fracasso”.

 

 

Em síntese, podemos concluir que parte dos problemas com que Angola e a sociedade enfrentam têm como causa principal, os paradigmas de desenvolvimento que têm sido impostos e estes são a justificação do actual estado de coisas (status quo)!

  

                             



[1] Cf. Sá, Ana Lopes de (2003); “A (re)construção da Angolanidade em UANHENGA  XITU”.

[2] In Revista, Leadership Training Ministry or Goldore Consulting Inc. Linden, Alberta, Canada, 1994.