Luanda - A figura de que se fala é, aos setenta anos, um mais velho em todos os sentidos da palavra. A sua presença serve para refrear o excesso de entusiasmo e a irascibilidade de certos quadros mais impulsivos da UNITA, geralmente mais jovem do que ele. Afinal, se existe um aspecto a realçar na vida de Ernesto Mulato é a sua inquestionável fidelidade não só à UNITA como ao seu falecido líder, Jonas Malheiro Savimbi. É que Ernesto Mulato tornou-se adepto do fundador do «Galo Negro» ainda nos dias da UPA, nos anos sessenta, da qual Jonas Savimbi foi secretário dos Negócios Estrangeiros.


Fonte: SA


Nascido no  Bemba em 1940, Ernesto Mulato fez os seus estudos em Ndalatando. Em 1960, com a intensificação das perseguições aos nacionalistas angolanos, Ernesto Mulato deixou o país rumo ao Congo, precisamente para a então Leopoldville, onde ingressou, pouco depois, na UPA. Aí, ele militou, com outras figuras não oriundas do Planalto Central que vieram a destacar-se na UNITA como o falecido José Ndele, que foi primeiro-ministro por parte da UNITA no Governo de Transição de 1974, bem como Miguel Nzau Puna e Tony da Costa Fernandes.


Depois da fundação da UNITA, em 1966, Ernesto Mulato assumiu o papel de divulgar a existência do partido nos meios estudantis do Ocidente, ao mesmo tempo que fazia a sua formação em Engenheira Civil. Ele concluiu o curso no Reino Unido, onde foi colocado junto de Jorge Ornelas Sangumba, na altura o secretário para as Relações Internacionais do movimento.


Em 1975, Ernesto Mulato regressou a Angola e dedicou-se, apaixonadamente, às actividades da UNITA, ascendendo na sua hierarquia em cargos essencialmente administrativos.


Há figuras que vêem nas nomeações possibilidades de ascensão política; Ernesto Mulato, pelos vistos, empenhava-se seja qual fosse o posto que lhe fosse atribuído. Isto incluiu, entre várias outras funções, a de secretário para a administração pública. Ernesto Mulato foi uma das figuras que ajudaram a manter o aparato administrativo criado pela UNITA.


Uma fonte da UNITA lamentou que o papel fulcral desempenhado por determinados quadros administrativos para sustentar o partido seja muitas vezes esquecido, dando-se ao lado bélico.


Ernesto Mulato pertence a um grupo de quadros – como Isaías Samukuva, Chitombi, etc. – que asseguraram o sistema administrativo da UNITA. O que impressiona em Ernesto Mulato é que ele saiu sempre com a maior serenidade dos várias turbilhões que assolaram a UNITA.


Ernesto Mulato é, sem dúvidas, uma das poucas figuras que viveu a historia da UNITA por dentro. Esteve presente, por exemplo, nas notáveis digressões que Jonas Savimbi fez aos Estados Unidos –em 1986 e 1988. Quando Jonas  Savimbi era acusado de liderar um partido etnocêntrico, ele indicava Nzau Puna, Tony da Costa Fernandes e Ernesto Mulato  como sendo seus companheiros desde a primeira hora e que não eram ovimbundu.


Nos anos 80, Ernesto Mulato foi o representante da UNITA na Alemanha. Sendo bakongo – e a diáspora angolana na Europa tem um número elevadíssimo de membros oriundos do Norte – Ernesto Mulato tornar-se-ia, então, uma figura notável na UNITA.


Ele e o falecido António Dembo foram os homens que ajudaram o partido a implantar-se nas províncias do Uíge e Zaire. Além de gozar de enorme popularidade na sua região natal, Ernesto Mulato também é muito popular entre os ovimbundu; há mesmo quem, no passado, o tenha descrito como o bakongo mais ovimbundizado de Angola. A esposa de Ernesto Mulato pertence, por exemplo, a uma das mais destacadas famílias do Planalto central: ela é prima de Jonas Savimbi. Mulato tem várias filhas – incluindo uma destacada médica que trabalha nos Estados Unidos.


Em 2008, Ernesto Mulato foi eleito para o Parlamento angolano e continua como vice-presidente da UNITA. O seu papel principal agora parece ser mais o de tentar manter a unidade no partido. Embora faça parte da ala pró-Samakuva, ele tem feito tudo para garantir a coesão das varias tendências do partido.

 

*Sousa Jamba