Lisboa - Depois do rei Mandume Ya Ndemufayo, António Vakulukuta foi a personalidade que mais contacto tomou com o povo Kuayama na província do Cunene, durante o período da guerra anti-colonial. Tornou-se numa das mais emblemáticas figuras da região sul de Angola. Na capital de Ondjiva era conhecido como “o Dr Vakulukuta”. O então Presidente da UNITA, Jonas Savimbi, de quem era amigo tomou partido da sua aceitação e reforçou lhe no papel de novo líder dos Kuayamas ao fazer-lhe coordenador do "Galo Negro" na sua terra de origem.
Fonte: Club-k.net
Ex-Comandante do "Galo Negro" no Cunene
Antes de se envolver no movimento de luta contra o colono, António Vakulukuta esteve em França, onde em 1971, se diplomou em ciências políticas pela Universidade de Grenoble. No fim do curso, desenvolveu uma tese sobre o estudo sócio-político de Angola com o titulo “A estrutura, a política e os problemas da UNITA”.
Regressou a Angola, em 1974 fazendo parte da Delegação da UNITA que participou no encontro de Kangumbe. Em Março deste mesmo ano, o exército do regime do Apartheid havia tomado o sul de Angola e em Outubro do ano a seguir, Jonas Savimbi, em entrevista ao Jornal Senegalês “Lês Soleil”, confirmava que a parte meridional desta ocupação era exercida por António Vakulukuta, então Secretário do Interior da UNITA.
Vakulukuta tem também a importância histórica por ter feito parte da delegação da UNITA que esteve nos acordos de alvor em Portugal. Meses antes da Independência destacou-se pela intensa campanha política que desenvolveu nas Províncias da Huíla e do Cunene catapultando-o para membro do extinto Bureau Político do Comitê Central da UNITA. Enquanto líder dos Kuayamas, António Vakulukuta galvanizou a maior multidão que percorreu 5 km a pé até ao aeroporto de Ondjiva para receber, Jonas Savimbi, meses antes da Independência.
Uma testemunha lembra que: “O aeroporto estava cheio de gente, aliás nem mais ninguém se atreveu ir ao Cunene depois daquele banho de multidão que recebeu Savimbi, seria difícil fazer recepção igual”. Rapidamente passou a ser visto como o principal rosto dos Kuayamas na região sul do país. Era também conhecido pelos Kuayamas do lado da Namíbia, razão pela qual enquanto a sua vigência como dirigente da UNITA no Cunene, era visto com “primos” guerrilheiros namibianos trajados com fardas da SWAPO.
Na seqüência da perseguição cubana que forçou a UNITA a se retirar para as matas de Angola, em 1976, o mesmo seria nomeado comandante da Frente Sul, no decorrer de uma conferência alargada aos quadros políticos e militares na zona do Cuanza. Em meados de Julho do mesmo ano, as forças sob seu comando desencadearam uma “mega” ofensiva na área do Cunene, que ficou alcunhada por «operação Vakulukuta». Era uma ofensiva contra cerca de 3.000 soldados, das FAPLA/Cubanos apoiados com 20 tanques, 3 helicópteros, 5 «Migs» 21 e 2 bombardeiros.
António Vakulukuta, tornou-se num dos mais influentes dirigentes da UNITA, a época, e no V Congresso, em 1982, foi nomeado Coordenador Administrativo Geral do partido. Era uma função com competências equiparadas a um Secretario Geral dos dias de hoje da UNITA. O seu poder de influencia começou a ser acompanhado com intrigas internas ao ponto de circularem rumores de que tinha intenções de criar uma área, no cunene, “só com os seus conterrâneos”. Outra versão atribuía -lhe o sonho de querer unir os Kuayamas que estavam divididos pela fronteira entre Angola e Namíbia. (O rei Mandume lutava pelos dois lados).
Na altura em que se levantou a questão ou o problema de divisão dos Kuayamas, o então representante da UNITA na Suíça, Ruben Chitakumbi passou pelo Cunene, numa das suas visitas a Angola e a 20 de Fevereiro de 1981, fez a seguinte anotação: “No Cunene encontrei o meu amigo Vakulukuta na qualidade de comissário político. A região está organizada em vários sectores. O grande problema desta região é que se encontram Ovambos dos dois lados da fronteira (Sul de Angola e Norte da Namíbia). Os Ovambos fazem parte quer seja da UNITA, quer seja da SWAPO e ainda dos partidos internos da Namíbia. Lá, o problema permanece socio-etno-político e ideológico”
Em 1984, a direcção da UNITA pois a circular de forma mais concisa informações segundo aos quais António Vakulukuta teria organizado um levantamento de todos militares Kuanyama estacionadas no sul do país, matando dezenas de quadros e populares do partido não naturais do Cunene e prendendo dezenas de outros. As informações justificavam que perante a não adesão de todos os naturais do Cunene e da reacção dos restantes militares do Partido, que desencadeiam uma contra-ofensiva para pôr termo à revolta, António Vakulukuta teria se refugiado na Namíbia procurando a protecção de militares sul-africanos. Depois de negociações entre estes e a UNITA, Vakulukuta foi devolvido a Angola, sendo preso e despromovido.
Em 1985, a versão da direcção da UNITA atribuía-lhe um acidente vascular cerebral, resultando no seu internamento no Hospital do Luangundo, onde acabou por falecer. Versões contrarias alegam que logo após ter sido entregue pelos sul africanos, o mesmo foi alvo de paulada que terá causado a sua morte.