Luanda - Fiquei bastante surpreendido – e constrangido também – em relação a uma noticia estritamente pessoal sobre a aceitação de uma eventual candidatura minha ao doutoramento em Ciências da Comunicação, mormente em Sociologia da Comunicação. Naturalmente que a equipa redactorial do Club-K tem os seus critérios editoriais, dos quais não é obrigada a prestar contas a ninguém, a não ser em casos exigidos por Lei. Para além disso, devo confirmar que eu mesmo passei esta informação ao meu dilecto amigo Zé Gama. Não tinha ideia que ele a publicaria, e mo tivesse dito, tê-lo-ia desaconselhado porque não acho que um doutoramento do Celso seja suficientemente importante para ser noticiado.

 

Fonte: Celso Malavoloneke


Uma análise mais fria e atenta levou-me no entanto a descobrir que na semana passada o jornal O PÚBLICO promoveu uma discussão importante sobre as oportunidades e desafios que os Acordos de Bolonha ofereciam aos estudantes portugueses e dos PALOP. Presumo que será isso que terá levado a equipa redactorial do Club-K a retomar a informação que eu passara e terá tratado a noticia dessa forma para apresentar um caso intramuros, talvez com o objectivo de abrir caminho para outros. Tendo ideia diferente como o mesmo objectivo poderia ser alcançado, respeito no entanto a opção editorial tal como nos foi proposta.


Tomo, no entanto a iniciativa de partilhar as informações que tenho sobre essa matéria. Não no intuito de satisfazer os “internautas anónimos” – é conhecida a minha aversão aos que cobardemente se escudam nessa condição para vilipendiar outros – de que apenas se deve ter dó e compaixão, mas para que outros que queiram aceitar esse desafio usem a janela de oportunidade que se oferece, e que poucos de nós conhecemos.

 

Na realidade, o sistema internacional do ensino superior compõe-se de três fases: A graduação (3 a 3 anos) o diploma ou mestrado (cerca de 2 anos) e o doutoramento ou PhD (3 a 4 anos). Esse sistema está em vigor em quase todos os países do Mundo desde os anos 60 do século passado.


Portugal, as suas colónias, a Itália e a França não aderiram a este sistema continuando com o sistema de uma licenciatura de 4 a 5 anos, um mestrado de 2 a 3 anos e um doutoramento também de 2 a 3 anos, com excepção do Brasil que adoptou o sistema universal, conjuntamente com os restantes países da América Latina.. No caso de Angola, a aberração ia ao ponto de o ensino primário ter 6 anos em vez dos actuais 4. Não se pindo em causa a qualidade do ensino de então, pedagogicamente consumia mais tempo que o necessário e era pouco flexível, não permitindo graus intermediários (o bacharelato) para quem optasse para isso. É isso que se quis corrigir com os Acordos de Bolonha, que no fundo são uma adaptação ao sistema universal de ensino superior.


Entretanto, e para encontrar uma forma de reconhecimento das licenciaturas anteriores, mais longas, abriu-se a possibilidade destes estudantes terem acesso directo ao doutoramento, desde que: a) - tenham média igual ou superior a 16 valores; b) – Possuam um curriculum profissional ligado à área do saber que sirva como valor acrescentado. Estes estudantes, em vez de um curso de doutoramento de 3 anos (um curricular e 2 de pesquisa) fazem-no em 5 anos, sendo 2 curriculares e 3 de pesquisa. No fundo acaba sendo o mesmo tempo, com a diferença que não é interrompido para a dissertação de mestrado, preparando apenas a tese de doutoramento no fim da unidade.


Portanto, tudo resume-se a isso. Qualquer estudante que tenha feito uma licenciatura de 5 anos, e desde que tenha tido uma média de 16 ou mais, se quiser pode matricular-se num curso de doutoramento – que será mais longo, pois terá que fazer algumas cadeiras que um mestre em princípio já terá feito. E isso, deixem-me acrescentar, já está em vigor no Canadá, EUA, e Grã-Bretanha, para citar apenas estes, desde a década de 80. Quanto aos mestres, desde que tenham uma boa média, podem inscrever-se para o curso mais curto, de 3 anos. Logo, quem disser que é obrigatório ter um mestrado para aceder ao doutoramento, incorre num erro crasso e deve consultar melhor a legislação relativo ao ensino superior na maior parte dos países, incluindo a África do Sul.

 

Assim, espero ter desfeito os equívocos de quem pouco sabe, nunca quer saber, julga-se dono da verdade absoluta, não pesquisa, não tem rigor intelectual, esconde-se em títulos académicos que desconsegue demonstrar. Que nunca tem a coragem de, ao menos dizer as suas verdades aos outros assinando o nome por baixo. Bom, mas desses pobres homens só tem que se ter pena… porque o resto seria dar-lhes uma importância que não merecem.


Mas espero também e sobretudo, ter passado informações úteis a quem se queira aproveitar delas para o seu avanço académico, principalmente aqueles ligados à Docência Universitària.


* Celso Malavoloneke