Namibe - Existe na Arquidiocese do Lubango e Diocese do Namibe uma polémica entre oa fiéis sobra a realização da cerimónia de puberdade femenina "Efuko" no decorrer da Missa Católica.


Fonte: Celso Malavoloneke

 

De um lado os contestatários, de maioria Umbundu, que acham a cerimónia eivada de ritos "pagãos" entre os quais apontam "a prática do acto sexual e a bebida ritual de macau (cerveja tradicional local) misturada com esperma do mwene-eumbo (Soba)".

 


Do outro lado os defensores, de maioria Nyaneka-Humbe que acusa os outros de caluniadores e vem em sua defesa dizer que este rito foi introduzido "depois de muitos estudos por D. Altino Ribeiro da Santana, Goês e primeiro Bispo de Sá da Bandeira e foi até ao governo de D. franklin da Costa de feliz memória que presidiu pessoalmente alguns deles ". É isso e muito mais que um grupo de madres de descendência Nyaneka decidiu escrever numa carta aberta que transcrevemos na íntegra:
 

                   
RELIGIOSAS NYANEKA ESCARECEM SOBRE O RITO TRADICIONAL ”EFUKO”
 
 
 
Paz e bem em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso, Salvador, ”Luz dos Povos”﴾LG.1), que desceu do Céu até nós, e encarnou a nossa condição humana, dando-nos o exemplo de incarnação na cultura dos povos.

 

Caríssimos irmãos, nós não queremos fazer discurso, nem tão pouco dar lições de moral ou aulas de antropologia cultural. A nossa carta tem apenas como finalidade, a manifestação e a partilha da nossa experiência vivida e daquilo que sentimos no tocante ao rito tradicional do efuko, já que, apesar de sermos religiosas consagradas, também passamos por esse rito, pois somos cem por cento nyaneka.

 
Assim sendo queremos׃
1.    Dizer׃Basta, à polémica do efuko!
 
O efuko é um rito tradicional como qualquer outro, ekwendje ﴾circuncisão), pitapondje, (apresentação do bebe, oito dias depois do nascimento), oulamba (festa dos companheiros de circuncisão) parece – nos que devia causar mais preocupação, visto apresentar riscos de vida e contágios, quando feito ậ sangue-frio ou com objectos não devidamente esterilizados, podendo mesmo levar à morte o candidato.
 


2.   Reconhecemos com gratidão o esforço e louvamos o respeito dos antigos missionários, pelas culturas dos povos a que eram enviados, pois, não aboliram os ritos que não vão contra o Evangelho, no caso da cultura nyaneka procuraram purificar o rito do efuko e leva-lo a ter cunho religioso, servindo de meio de evangelização, tendo atraindo muita gente ậ fé católica, apostólica e romana. Sim, o rito do efuko introduzido na Igreja, serviu e ainda serve de meio catequético para aqueles que ainda não conhecem os valores do Evangelho levando-os a mudar de vida, deixando as práticas pagãs


 
3.   Foi D. Altino Ribeiro de Santana, goês, de feliz memoria, primeiro Bispo da Diocese de Sá da Bandeira, hoje Arquidiocese do Lubango que, depois de estudos feitos autorizou a celebração do efuko na Igreja. Algumas testemunhas que ajudaram o Bispo ainda vivem, como é o caso do Sr. Vitorino Munemphandela. A celebração do efuko na Igreja do Lubango, nunca constituiu problema ou polémica até os últimos dias do governo de D. Franklin da Costa, de feliz memória, este chegou a presidir algumas celebrações do efuko em varias Igrejas desta Arquidiocese.


 
Durante 6ª Assembleia de Pastoral decorrida 5-8 de Dezembro de 2002, na Arquidiocese do Lubango, ﴾incluía o Namibe como Vigararia), foram levantadas objecções por parte de alguns delegados. O assunto mereceu uma profunda reflexão, foram esclarecidas as dúvidas e dadas orientações precisas e concretas para a celebração do efuko na Igreja.


 
Admira-nos que o problema continue a ser levantado ainda hoje, por parte de algumas pessoas, tornando-se sempre uma luta sem fim, com objectivos inconfessos. Acabar com a celebração do Efuko na Igreja?
 


O mais agravante é que são sempre os homens a combaterem e a transformarem em polémica essa questão um rito que por sinal diz respeito às mulheres.


 
Não seria bem melhor que esses homens se ocupassem mais dos assuntos que lhes dizem respeito e deixassem a própria mulher manifestar a sua revolta se for o caso, uma vez que já há mulheres formadas e com o nível de poderem reivindicar os seus direitos, se realmente o efuko for prejudicial a sua vida de mulher, à sua fé e à própria sociedade?


 
Outra questão nos inquieta será realmente possível que só aqueles que não pertencem a cultura nyaneka e que são, ais capacitados, mais cultos e com espírito critico para fazerem analises e criticas aos supostos efuko, do que os próprios dessa cultura que, na verdade dela beberam a luz do Evangelho para os iluminar?
 

4.   Perguntamo-.nos ainda׃
Será que o efuko é um impedimento a Evangelização tanto do povo nyaneka, como dos povos de outras culturas existentes na Província da Huíla, Namibe, Kunene e algumas partes de Benguela?


 
Não haverá praticas gritantes e contra-valores a combater nas nossas culturas que impedem uma verdadeira adesão a Cristo e ao seu Evangelho, ao invés de polemizar sobre o efuko que apenas celebra a passagem da puberdade?
 
 
Afinal o que é que esta por detrás dessa questão? Ĕ Realmente acabar com o rito tradicional do efuko ou outra coisa? Sejamos sinceros, coerentes e claro, para não procurarmos apenas tirar o argueiro que esta no olho do irmão e não vermos a trave que cega﴾ Lc.6,39-45)
 


Que seja realmente uma luta contra o efuko porque se for luta contra a existência do povo nyaneka, seria melhor dizerem ao próprio Deus, Criador que mande fogo e enxofre para o eliminar, e talvez assim a Evangelização terá mais sucesso e santos na terra.
 
 
A terminar, queremos dizer, com toda a humildade e respeito

 
a)   Pensamos ser tempo de agir para por ponto final a polémica a volta do rito tradicional do efuko
 
b)  Nós, filhas do povo nyaneka, hoje, religiosas, passamos realmente pela celebração desse rito tradicional e por isso desmentimos categoricamente, as afirmações insultuosas, difamatórias, e caluniosas, sem respeito pela dignidade da pessoa e da mulher nyaneka, em particular, segundo as quais as meninas durante o efuko são submetidas à prova de sexo e levadas a tomar macau, misturado com o esperma do mwene mbelo. Que insulto?


 
c)   Exigir debates públicos ou outras actividades que levem aqueles que combatem o efuko demonstrarem as razões pelas quais defendem a abolição da celebração deste rito tradicional na Igreja e argumentarem com exemplos concretos, clarividentes e palpáveis dos maus efeitos e consequências do efuko para a Evangelização e conversão a Cristo.


 
d)  Que se lembre aos ”pouco esclarecidos” na matéria, que a cultura e acima do povo, e um povo sem cultura, e um povo sem identidade, por isso, ninguém deve esquecer que o mundo evolui e os povos também, caminhando para a perfeição de uma vida melhor, estável e libertadora; há o efuko de ontem, fora da Igreja e de hoje, na Igreja.

 
e)   Não nos esqueçamos que todos esses inventos maliciosos são um pecado gravíssimo contra um povo e que mata a sua alma. Senão vejamos, quem reparara essas ofensas no futuro? Sentimos ultrajes sobre a nossa memória colectiva!
 
 
 
Luanda, 25 de Janeiro, de 2011, Festa da conversão de S.Paulo.
 
 
 
Pelo Grupo
 
 
Teresa Francisca Nkhulwavo
Susana Namphundo
Natalia Nkhulwavo Kandondo
Angelina Katumbu Kanguli
Maria Francisca Romana Fute
Isabel Kassessa Vieira