Luanda -  Contrariamente a outros correligionários, a embaixadora de Israel em Angola Irit Savion-Waidergon recentemente acreditada pelo Presidente da República, teve o ensejo de priorisar da sua agenda de trabalhos e de fixação das amarras em Angola, o encetar de uma série de visitas aos órgãos da comunicação social para tomar contacto com a realidade, numa altura em que muito se questiona a Liberdade de Expressão e de Imprensa um tanto ou quanto pontapeadas pelas autoridades governantes, cujos factos marcantes não deixam de ser deploráveis com as máximas consubstanciadas na prisão arbitrária dos jornalistas, de entre outros, Armando Chicoca no Namibe correspondente do Folha 8 e da Voz da América e de Ana Margoso do Novo Jornal que humilhada em Luanda, foi forçada a limpar a cela da prisão em que se encontrava enclausurada.



*Félix Miranda
Fonte: Club-k.net



Já nas nossas instalações, recebida pelo Director do Órgão William Tonet, durante o Breefing percebemos que a curiosidade e o interesse em destacar o Folha 8 justificou-se pelo facto de não só o F8 ter sido o primeiro a anuir a solicitação efectuada pela embaixada, como na conjuntura tem sido o Jornal que se afirma célere na Linha da Frente. “Estou muito honrada de chegar em Angola como embaixadora de Israel, nesse período interessantíssimo que o país está a viver. Espero que durante a minha estadia aqui vou poder trabalhar para estreitar muito mais as relações entre os nossos dois países em todos os domínios, abrir a embaixada para que as pessoas possam contactar-nos e saberem que temos interesse de cooperação com Angola”, destacou a Embaixadora.




Folha 8 - Senhora embaixadora muito obrigado pela sua presença nas nossas instalações. Começo por perguntar a que se deveu a sua visita. Foi solicitada a fazê-lo ou iniciativa própria?


Embaixadora de Israel -  – Foi iniciativa da embaixada. Como sou uma nova embaixadora de Israel em Angola, quero conhecer todos os médias sociais, jornais, todos os jornalistas. Pedi este encontro para saber como está, com que trabalham e quem são as pessoas por detrás das notícias, também quero estreitar a colaboração da  embaixada de Israel com a sociedade angolana.




Porque razão escolheu o F8 como primeiro órgão a ser visitado?

Vou ser muito honesta. Contactamos os jornais e o F8 foi o primeiro a responder e nos convidar para a visita. Por isso tenho a honra de chegar aqui para conhecer a realidade. Foi a resposta do F8 que nos moveu.




E notou alguma diferença entre aquilo que imaginou ser e o que na realidade encontrou desde que teve a conferenciar com o Director William Tonet?


A recepção foi muito boa, as pessoas são interessantíssimas. Sim há uma diferença. Eu vinda de Israel, já fui uma diplomata em Canadá, Portugal, Brasil e eu vi grandes editorías, surpreeendeu-me quando a do F8 pela dimensão que tem é uma coisa muito modesta e dá para ver que as pessoas trabalham com o coração. Porque sem coração é muito difícil fazer o trabalho que vocês fazem e que a gente aprecia lá fora.




Como foi a recepção quando apresentou as cartas de apresentação ao Presidente da República?

Foi maravilhoso. Não estou a dizer isso só pela honra de encontrar o senhor Presidente, mas foi uma conversa muito honesta, muito aberta, formal, o Presidente fez tudo, como expliquei que era um dia emocionante para mim em apresentar as credenciais como embaixadora, fez tudo para me sentir mais bem-vinda em Angola e até abriu a porta para mais encontros, mais conversas. Sai desse encontro com o coração dizendo que sou muito bem-vinda neste país. Espero fazer muito boas coisas.




Diz que já andou em alguns países e por aqueles que citou lá a democracia praticamente tornou-se cultura. Está aqui em Angola vinda de Israel, o pouco tempo que cá está, como é que caracteriza a Democracia, a Liberdade de Expressão e de Imprensa em Angola, em relação aos países onde passou?


É muito pouco tempo que estou em Angola e tenho muita coisa a aprender. Angola passou muitos anos de guerra, está a fazer um desenvolvimento muito interessante o caminho ainda é longo, ainda tem muitas coisas para fazer e acho que se vocês continuarem nesta direcção, Angola vai ser mais maravilhosa do que é hoje.



Hoje ninguém ignora a importância da imprensa no desenvolvimento das sociedades. Israel tem muitos jornais, muitas rádios, muitas TVs?


Até poucos anos tivemos um canal de televisão, poucos jornais, mas isso mudou muito nos últimos anos, tem canais comerciais e se tornaram muito melhores devido ao apoio financeiro que eles têm do primeiro canal governamental; jornais, tem muitos, mudaram. Tem jornais semanais, quotidianos, mais para os intelectuais, jornais de esquerda, de direita, quotidiano tem pelo menos seis, tem religiosos, os folhetos que distribuem de graça na rua, também de vários tamanhos. Mesmo se hoje em dia já trabalhamos muito em On Line, Internet, ainda continuamos agarrados as folhas. Eu acho que todos nós ainda gostamos o cheiro do papel. Por exemplo, eu todos os sábados de manhã não fico bem sem ter um jornal nas mãos, adoro muito ler.



Para esta massificação da imprensa, foi necessário uma revolução  ou foi fruto do desenvolvimento da consciência da sociedade de Israel.


Acho que foi um movimento normal. Todos os países cresceram assim. Com o tempo vão ter a necessidade de olhar para o mundo, o que está a acontecer. Como vocês por exemplo têm aqui os canais de Portugal. Portanto, o desenvolvimento da imprensa acompanha o desenvolvimento do país. É um caminho normal e muito positivo. E penso que é aquilo que está a acontecer aqui também.



E o debate contraditório, em termos de crítica, de análise, acha prejudicial ou benéfico para o desenvolvimento de uma sociedade?


Acredito que qualquer debate enquanto vai para objectivo positivo é benéfico. Porque o debate abre as cabeças, abre as opiniões, dá para ouvir, ajuda as pessoas a pensar. Quem toma parte do debate tem uma boa intenção, tem o amor no coração, a honestidade e a vontade para melhorar a realidade, é benéfica. Mas se uma pessoa ou órgão toma parte do debate para dificultar o caminho, já não é bom.



O que é que Israel pode dar de concreto como contributo para solidificar o que já alcançamos e progredirmos muito mais no quadro da imprensa à exemplo do que se passa em Israel?


É uma questão de tempo, não é o que Israel pode contribuir ou fazer. Acho que é paciência. Faz parte da dinâmica de mudança de um país. Em Israel também não foi fácil, levou tempo, faz parte da evolução da própria democracia e da sociedade. Angola vai lá chegar, ser pioneiro não é muito fácil.




Tem alguma mensagem para aqueles que lhe vão ler em particular sobre a conjuntura tanto em Israel como em Angola?

Estou muito honrada de chegar em Angola como embaixadora de Israel, nesse período interessantíssimo que o país está a viver. Espero que durante a minha estadia aqui vou poder trabalhar para estreitar muito mais as relações entre os nossos dois países em todos os domínios, abrir a embaixada para que as pessoas possam contactar-nos e saberem que temos interesse de cooperação com Angola.



Não obstante a generalidade, haverá uma área específica em que Israel vai acentuar a sua cooperação?


Acho que não. Será bem equilibrado. Também se a tecnologia israelita chega a Angola, tem que ter as pessoas que façam o trabalho, tem que ter um interesse, no fim posso dizer que a cooperação tem que ser equilibrada, o potencial dessas relações, a maioria dá para acrescentar ainda o diálogo político.



Na área da formação, Angola é muito carente em termos de técnicos sobretudo para ver se a partir de Angola começamos a produzir alguma coisa. Neste domínio Israel tem uma palavra a dizer?

Espero bem. Mas como disse, acabei de chegar, ainda preciso aprender. Israel não é um país muito rico que dá para dar muito, mas temos que aprender o que é interesse em Angola, o que Israel tem para oferecer. Quando os interesses dos dois lados se encontrarem, vamos achar o caminho certo.




Em Off, fez menção a sua predecessora. Quando falou dela, notei em si uma certa emoção. O que finalmente lhe terá marcado. Diz-nos que lhe vai dedicar algumas linhas pela presse e o Folha 8 será o beneficiado, logo estamos de parabéns antecipadamente. Que legado lhe deixou essa mulher?


Tamar GOLAN foi a primeira embaixadora de Israel em Angola, de 1995 a 2001, mas ficou aqui até 2003, infelizmente faleceu aos 30 de Março de 2011 em Israel. Acima disso ela foi a primeira dama de África em Israel, ela que amou o continente, passou grande parte da vida dela aqui com amor e quando chegou na idade que não podia viajar e estar aqui, com o apoio de alguns israelenses, abriu o Centro de Estudos de África na Universidade de Bengulion  no Sul de Israel. Ela levou o amor de África para Israel e trouxe o amor de Israel para África. Tamar GOLAN entendeu o que dá para fazer sobre as relações de Israel com África. A herança que ela deixou é que Israel e África podem ser bons amigos.



Há muitos africanos em Israel?


Há comunidades africanas. Tem da Etiópia, Eritreia, judeus etíopes, tem também a imigração legal e ilegal da Somália, Darfur, Eritreia  e África do Norte e não nos esquecemos que Israel é um país de imigrantes; fazemos um “Melting pot”, que junta todos diferentes num só, mas cada um guarda o sabor especial dele.




Acredita um dia numa paz Israel ou Árabe e numa união Israel/ Palestina?


Eu acredito, tenho fé completamente na paz. Já temos experiência de paz com a Jordânia, com Egipto, a paz é possível, só que hoje em dia, durante todos esses anos de negociações com os palestinianos havia muitos pontos de possibilidade de já ter o acordo de paz efectiva com resultados práticos. Acho que os palestinianos não tiveram a capacidade verdadeira de tomar a decisão final, de dizer vamos para a paz. Também faltou às vezes o apoio do mundo árabe que é difícil sem o apoio do mundo árabe e os palestinianos precisam neste momento. Mas eu acredito que hoje é muito mais difícil depois das eleições em Gaza em que o Hamas ganhou, como organização terrorista conhecida pelo mundo inteiro que são os líderes também da zona de Gaza, é muito difícil enquanto tem de um lado um Partido líder que disse não reconheço o Estado de Israel, nem o direito de existir nenhum acordo de paz do passado. De outro lado tem a liderança de Abu Mazen que Israel apoia, mas se ele não recebe o apoio do povo dele, não sei qual vai ser o caminho.




Sobretudo agora com esta rivalidade acirrada Hamas e Fatá.

As relações Hamas e Fatá são complicadas e não é a primeira vez que se procurou os caminhos da reconciliação, mas, eles têm que achar o caminho deles antes de negociar com Israel e se chegar ao acordo de paz final.



Na sua visão pessoal e como diplomata, qual dos dirigentes israelenses que mais se aproximou a um acordo com os palestinianos?


Houve os acordos de Oslo em 1993 com Yitzhak Rabin, o  1º Ministro Shimon Peres, foram os pioneiros do processo de paz, até os governos de direita também que aceitam a solução de dois países palestiniano, israelense, mas sem segurança, não dá para ter paz.



Para si não há um dirigente que mais se destacou na busca da paz?


Para mim, os citados foram os que mais lutaram e mudaram o curso da história, mas como disse, os palestinianos terão primeiro de encontrar um entendimento interno, só depois conferenciar com Israel.