Luanda - O emblemático edifício «Tropicana», à rua comandante Valódia, em Luanda, que durante alguns anos foi um dos escritórios do Grupo Valentim Amões (GVA) deverá ser vendido, segundo apurou o Semanário Angolense.


*Ilídio Manuel
Fonte: Semanário Angolense

Lídia Amões acusada de má gestão

A iniciativa de alienar o referido prédio terá partido de Lídia Capepe Amões, filha primogénita do malogrado empresário Valetim Amões, que é igualmente cabeça-de-casal do GVA.  Entre os herdeiros do falecido empresário crê-se que o edifício já foi vendido e que Lídia Amões terá optado pelo «secretismo», de forma a «não despertar a cobiça» dos mesmos.


Segundo as fontes do Semanário Angolense, que dizem desconhecer o valor dessa eventual transacção, o negócio terá sido feito sem aviso prévio às pessoas com direito à milionária herança deixada pelo malogrado empresário.


Suspeitam que o Tribunal Provincial de Luanda (TPL), órgão ao qual Lídia Amões se obriga a prestar regularmente informações sobre a sua gestão, não terá sido igualmente informado dessa alegada transacção.


Confrontada há dias com o assunto, a primogénita de Valentim Amões, desmentiu categoricamente que o prédio tenha sido alienado, acabando, porém, por confirmar que o grupo tencionava vendê-lo.

 

Questionada sobre se a intenção de vender o prédio não representava um sinal de declínio do GVA, a cabeça-de-casal justificou que a alienação do edifício visava contornar o passivo que algumas empresas do grupo têm estado a registar.


Lídia amões lamentou igualmente o comportamento de alguns co-herdeiros ou seus representantes que, segundo ela, estariam a pôr em causa a sua gestão, visto que «nem todos eram sócios nas empresas do grupo».


Para eles, parte da confusão resultava do facto de eles não conhecerem a forma como estavam repartidas as acções nas empresas, pelo que se julgavam terem direitos não consagrados pela lei.


Revelou que estava a fazer uma gestão cuidadosa e racional do património à sua guarda e que tem estado dar a conhecer os seus actos ao Tribunal Provincial de Luanda, na sua qualidade de cabeça-de-casal.

 

Correm também informações de que a primogénita do falecido empresário terá inclusive extravasado as suas competências ao passar assinar documentos como administradora do GVA, ao invés de cabeça-de-casal, um cargo para o qual foi nomeada pelo TPL, até à partilha dos bens com os demais co-herdeiros.

 

Abordada sobre este assunto, Lídia Amões confirmou que estava, de facto, a apor a sua assinatura em documentos usando o termo «administradora», ao invés de cabeça-de-casal.  A uma pergunta sobre se o termo «administradora» não colidia com a designação «cabeça-de-casal», devidos aos limites impostos pela lei aos gestores de heranças, a primogénita de Valentim Amões disse que ambas designações tinham o mesmo significado.


Venda polémica


Localizado à avenida comandante Valódia, o edifício em causa foi em tempos objecto de obras, a cargo de uma empresa sul-africana, para a sua conversão numa unidade hoteleira.  As obras já chegaram a estar paralisadas durante um longo período de tempo por supostas dificuldades de tesouraria, um empecilho que parece ter sido ultrapassado nos últimos meses.


Lídia Amões que, como se sabe, foi indicada para cabeça-de-casal pelo Tribunal Provincial de Luanda, após a morte do empresário Valentim Amões, estará a gerir a herança em prejuízo dos demais co-herdeiros.

 

Os receios de uma alegada gestão danosa foram adensados recentemente, aquando da divulgação de uma notícia por um dos jornais da capital, segundo a qual a companhia aérea Gira Globo pertencente ao GVA estava em declínio, o que terá levado à venda dos aviões dessa empresa ao grupo empresarial liderado por Santos Bikuku. Um assunto que a interlocutora evitou abordar durante o encontro que manteve com o SA.

 

Há ainda informações de que um grupo de trabalhadores da Transul, uma das empresas do GVA sedeada no Lubango, tem estado privado dos seus salários desde Novembro de 2008.
Segundo dados disponíveis, 7 funcionários da referida empresa dizem que, apesar das reiteradas promessas que lhes haviam sido pelo vice-presidente do grupo, Daniel Amões, eles continuam sem ver a cor do dinheiro. Ameaçam inclusive recorrer aos tribunais para que os soldos lhes sejam pagos.

 

No entanto, crescem as suspeitas de que Lídia Amões estará a aproveitar-se da sua condição de cabeça-de-casal para colher melhores proventos em detrimento dos demais co-herdeiros deixados pelo empresário Valentim Amões, que faleceu em 19 de Janeiro de 2008 num acidente aéreo, no Huambo.


Medram igualmente as suspeitas de que Lídia Amões estará a gozar de uma certa condescendia ou mesmo cumplicidade por parte de algumas figuras ligadas ao TPL e à magistratura do Ministério Público junto daquele órgão judicial, que estarão a negligenciar os direitos dos demais co-herdeiros, sobretudo dos menores de idade.


17 filhos disputam herança Co-herdeiros de mãos atadas

 

No total, são 17 os filhos que disputam a vasta herança deixada por Valentim Amões. Filhos de mães distintas, alguns dos quais menores de idade. Uma herança que incluiu habitações, terrenos, fazendas agrícolas e viaturas.


A nomeação de Lídia Amões pelo TPL para o cargo de cabeça-de-casal, longe de «pacificar os espíritos» no seio dessa vasta família, estará a adensar as lutas intestinas em torno da divisão do «bolo».

 

Em vida, o empresário Valentim Amões não previu, certamente, que a sua morte um dia causaria tantos dissabores, ambições e ódios entre os seus filhos.

 

O arrojado empresário, que foi dirigente do MPLA, era líder de um grupo económico de sucesso, que deu nome ao seu grupo empresarial, que se estendia do ramo da construção civil e da hotelaria, passando pelos diamantes, pela representação de marcas de refrigerantes internacionais, até à montagem de motorizadas, transportes, incluindo a aviação, e a Banca.
As lutas intestinas para o controlo da enormíssima fortuna deixada pelo fundador do Grupo Valentim Amões (GVA) agudizaram-se com a nomeação de Lídia Capepe Amões a 27 de Março de 2008 no cargo de cabeça-de-casal, com o objectivo de gerir todo o património herdado até à sua divisão.

 

Cresce a vaga de indignações, já que a filha primogénita do falecido empresário tem sido reiteradamente acusada de estar a gerir o acervo hereditário de forma alegadamente danosa. Acusam-na de estar mais inclinada a defender os seus interesses pessoais, os de sua mãe [Angélica Chitula Amões, que já era divorciada de Valentim Amões antes deste morrer] e dos seus quatro irmãos directos, em detrimento dos restantes co-herdeiros. Apesar de divorciada desde 1996 de Valentim Amões, Angélica é legalmente parte nessa disputa, visto estar a representar os interesses de dois filhos seus, sendo um deles menor e um outro (Sílvio da Costa Amões) que também morreu no acidente com o pai, mas que não deixou descendentes.

 

 Um dos sintomas da crise em que mergulhou o GVA pode ser também aferido pelo afastamento ou apagamento de algumas figuras que antes ocupavam posições de destaque no seio do grupo e que eram tidas como pessoas de extrema confiança do finado empresário, nomeadamente Emanuel Shoppy Félix Caufele (antigo secretário executivo), Elias Bongo (o homem que cuidava da educação do filhos do empresário no exterior do país) e do radialista Ernesto Bartolomeu. As insanáveis clivagens que opõem o cabeça-de-casal aos demais co-herdeiros na fortuna em disputa foram, de igual modo, marcadas numa carta endereçado a 23 de Abril de 2008 a uma das Juízas da Sala do Cível e Administrativo do Tribunal Provincial de Luanda, no documento, os representantes dos 11 filhos menores de VA afirmavam que Lídia Amões tem vindo a tratá-los de «forma arrogante e desprezível», como se tivesse «o mundo a seus pés». Dizem que ela chegou ao ponto de ameaçá-los que iria proceder a exames de DNA por suspeitar que muitos deles não tenham sido gerados pelo seu falecido pai.

 


 «(…) Além de subalternizar os restantes co-herdeiros (filhos nascidos de outras relações), [ Lídia] não presta qualquer informação e tem vindo a praticar uma gestão ruinosa, como se a massa da herança fosse uma lavra sua», lê-se no documento. Depois de notarem que o GVA é uma entidade credível, composta de várias empresas, contratualmente vinculado com outras entidades singulares e colectivas, quer no país como no estrangeiro, os co-herdeiros manifestaram o seu receio de que algumas dessas empresas «possam vir a falir antes da partilha da herança, dada à ganância e à falta de qualquer conhecimento em termos de gestão» a quem coube a responsabilidade de gerir todo o património.

 


Dentre os muitos «pecados» atribuídos à Lídia Amões, avulta o facto de que ela estará a proceder ao «levantamento de avultadas somas monetárias dos cofres de algumas empresas do GVA, a pretexto de cobrir despesas correntes, sem o consentimento dos demais herdeiros». Denunciam também a primogénita de VA de estar a «endividar-se com determinados bancos, sem o consentimentos dos demais» e de não ter conseguido justificar o destino de 28 milhões de Kwanzas resultante de uma dívida paga recentemente pelo Estado ao GVA.