Luanda - Os advogados de defesa da família de Kléber Teodoro estão preocupados com o facto de os oficiais superiores da Polícia Nacional não terem apresentado publicamente os presumíveis membros da corporação envolvidos no assassinato de três jovens, na comuna do Benfica, na Samba.


Fonte: O PAÍS

Assassinado  pelo esquadrão da morte

Kléber Teodoro foi morto com outros dois indivíduos, nomeadamente Hamilton Pedro Luís (Kadú) e William Marques Luís (Liro Boy), no dia 11 de Maio, durante uma operação realizada por um grupo de efectivos da Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC), destacados no Comando da Divisão da Samba.

 

A promessa de que os rostos e a identidade dos acusados seriam tornados públicos foi feita pelo segundo comandante da Polícia Nacional, comissário Paulo de Almeida, durante uma conferência de imprensa realizada dias depois do assassinato.

 

O secretário-geral da Associação Mãos Livres, Salvador Freire dos Santos, mandatário do processo, declarou a O PAÍS que sempre que solicitam esclarecimentos sobre o processo aos investigadores da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC), a única informação que recebem é que o mesmo se encontra em segredo de justiça. Por está razão, a sua equipa tem-se limitado a tentar persuadir as autoridades polícias que apresentem os mentores do crime ou forneçam uma explicação plausível.

 

“Fomos constituídos como mandatados do processo, mas infelizmente ainda não podemos avançar nada porque estamos a aguardar que a DNIC conclua com a instrução processual, para encaminhar o caso ao Tribunal”, explicou.

 


Salvador Freire defende que a Polícia Nacional esclareça a sociedade sobre os homicídios, caso já tenha feito as investigações necessárias, por se tratar de um crime que se tornou público. E, enquanto os supostos mentores não forem apresentados, as pessoas continuarão a pensar que o processo se encontra engavetado numa das secretárias da DNIC.

 


Quanto à possibilidade de os supostos agentes e oficiais da Polícia estarem escondidos com o beneplácito de responsáveis da corporação, o secretário-geral das Mãos Livres defendeu que “se for isso que estiver realmente a acontecer, manchará a imagem desta instituição pública e dos órgãos de justiça”.

 


Por outro lado, Salvador Freire não descarta também a possibilidade de a morosidade estar associada ao facto de os investigadores pretenderem reunir todas as informações necessárias e recolhem as provas. Para ele, os peritos da DNIC deviam ser mais céleres por terem à sua disposição todos os mecanismos possíveis e imaginários para tornar público o rostos dos supostos assassinos.

 

Revelações de Paulo de Almeida


O segundo comandante-geral para a Ordem Pública revelou, noutra ocasião, a este jornal que os supostos efectivos da DPIC de Luanda que estiveram envolvidos no assassinato dos jovens Liro Boy, Kadu e Kléber, na comuna do Benfica, já se encontram detidos.

 

Apesar de não ter conseguido avançar os detalhes da operação que resultou na prisão dos acusados, Paulo de Almeida, explicou que eles foram detidos na mesma semana em que garantiu, em conferência de imprensa, que os peritos da DNIC estavam a desenvolver todas as diligências para detê-los. Questionado sobre a razão da não apresentação pública dos acusados, conforme prometera, o comissário-chefe declarou que esta é uma actividade que competiria unicamente ao Comando Provincial de Luanda e que só os seus responsáveis estão em condições de dizer as razões que os levaram a não realizar tal acto.

 


Embora não domine perfeitamente este dossier, Paulo de Almeida demonstrou acreditar piamente que o processo que envolve os supostos polícias que estão envolvidos neste homicídio já deu entrada aos órgãos de justiça. Durante o encontro com os jornalistas realizado no Comando Geral da Polícia Nacional, para prestar informações acerca do assunto, o comissário-chefe declarou que caso ficasse provado a participação de membros do seu efectivo na execução destes crimes, seriam entregues à justiça para que fossem julgados em função do que está estabelecido na lei, visto que esta pratica não faz parte da natureza da corporação.

 


No momento em que o segundo comandante-geral prestou essas informações, os peritos da DNIC estavam a averiguar se a operação foi superiormente orientada e, se assim fosse, o que ocorreu na realidade para que detivessem aqueles dois jovens inocentes que apareceram mortos.

 

“De acordo com as investigações levadas a cabo, há alguns indícios (do envolvimento de membros da corporação), mas como estamos numa fase de instrução do processo, achamos por bem que algumas coisas ainda sejam reservadas, para podermos ter melhores resultados nas nossas averiguações”, frisou na altura.

 

Em reacção à revelação feita por Paulo de Almeida, Salvador Freire declarou que “se de facto os próprios mentores já foram encontrados, a corporação devia apresentá-los para serem levados às barras do tribunal, onde seriam julgados e condenados caso ficasse provado que foram realmente os autores do crime”.

 

O PAÍS tentou obter mais informações do gabinete de Comunicação e Imagem do Comando Provincial de Luanda, mas não teve êxito.