Lisboa - O PSD foi o partido mais votado nas Eleições Legislativas de ontem, obtendo um total de 39,38% dos votos (à hora de fecho desta edição), resultado que, a somar aos 11,39% do CDS-PP, torna muito provável o estabelecimento de um governo de coligação entre estas duas forças, por forma a assegurar a maioria absoluta no parlamento.


Fonte: OJE

"Esta derrota eleitoral é minha" diz José Sócrates

Num acto eleitoral marcado pela discussão em torno do futuro do País, a braços com as exigências da ajuda externa, a necessidade de uma maioria parlamentar tem sido apontada como uma condição de estabilidade "sine qua non". As eleições legislativas ficaram marcadas pela viragem política no Parlamento e no Governo, mas também pela demissão de José Sócrates do cargo de secretário-geral do Partido Socialista (ver caixa). Até à hora de fecho desta edição, os resultados do PS ameaçavam mesmo tornar-se dos piores alcançados pelo partido em actos legislativos, com 28,25% dos votos expressos.

 

A abstenção, por seu lado, superou a das legislativas de 2009: 41,35%, contra 39,38%.

 

PUNIÇÃO

Politólogos contactados pela agência Lusa quando ainda decorria o apuramento dos resultados consideram que os eleitores puniram "a governação socialista" dos últimos anos e a "esquerda radical", optando por uma "mudança forte".O politólogo André Freire considerou - numa altura em que as projecções já davam o sentido do resultados final  - que os portugueses optaram pelo "voto negativo de punição ao engenheiro Sócrates e da governação socialista pelos seus resultados". O professor do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) disse ainda acreditar que a "concentração de votos no PS" não terá sido "provavelmente muito entusiástica", considerando que foi antes "um voto útil para conter o avanço da direita".

 

Para André Freire, o desfecho das eleições para a "esquerda radical" mostrou que "pode-se ser punido sem se estar no Governo". O politólogo disse que a concentração de voto no PS e um grande recuo do BE "pode significar que o protesto, só por si, não chega".

 

Também para o docente André Azevedo Alves se assistiu a uma vontade de "mudança forte" no panorama político português, embora os partidos mais à esquerda não tenham conseguido "capitalizar o descontentamento" dos tradicionais votantes do PS. Uma parte "muito substancial" do eleitorado base do PS não terá votado ontem, numa "punição forte" ao partido que terá contribuído para o número elevado da abstenção hoje registada, acredita o doutorado em Ciência Política e docente na Universidade de Aveiro.

 

"Sem ter seguido a campanha e considerando que o Governo do PS foi o que levou o país a um pedido de ajuda externa", o resultado do PSD "não será particularmente brilhante". Porém, "face à forma como correu a primeira parte da campanha, acaba por ficar como um bom resultado que certamente satisfará a direcção do PSD".

 

O país abriu um novo ciclo político com uma viragem ao centro-direita para uma legislatura que está condicionada pelo memorando de entendimento com a Troika. À hora de fecho desta edição PSD e CDS obtinham maioria absoluta.

 

José Sócrates: "A derrota é minha"

José Sócrates anunciou a demissão de secretário-geral do Partido Socialista (PS) na sequência da derrota eleitoral e o seu regresso a uma "vida inteiramente privada".

 

"Não me escondo atrás das circunstâncias. Esta derrota eleitoral é minha", disse, para, de seguida, sublinhar que é chegado o momento para um novo ciclo de liderança do PS: "O novo ciclo político será capaz de cumprir o principal dever, que é uma preparar uma alternativa consistente e mobilizadora".

 

Sócrates afasta-se da liderança do PS e regressa à militância de base, não assumindo o lugar de deputado. Afirmou que não ocupará qualquer cargo político nos próximos anos, encerrando uma etapa de um percurso de 23 anos.

 

"Estou profundamente grato aos portugueses por me terem dado a oportunidade para servir o país e os meus compatriotas", sublinhou no discurso no Altis, onde assumiu a derrota da campanha eleitoral, que "quem assume a posição de cidadão estará sempre na vida política", o que significa que como futuro militante de base será sempre uma voz reconhecida.

 

Num breve historial, muito emotivo, Sócrates reafirmou alguns "chavões" da sua campanha eleitoral, ao afirmar que "todas as lideranças cometem erros, cometi alguns, mas nunca cometi o erro de não agir, também não cometi o erro de fugir ou virar a cara às dificuldades".

 

Sublinhou que ao longo dos últimos seis anos, o PS "deu tudo o que tinha, honrando a sua identidade, soube ser solidário, um partido forte e de muita coragem, actuou em tempos muito difíceis que merecem ser estudados nos livros de história, aceitando correr o risco da impopularidade. O contexto económico não permite a devida visibilidade do que se fez". Sócrates afirmou, mais do que uma vez, que o PS será um partido disponível para o dialogo com o PSD.: "Nunca o país precisou tanto de diálogo e de entendimento como agora e isso não muda com o resultado das eleições. Os votos do PS estarão, como sempre, ao serviço de Portugal".

 

Terminou afirmando que "o PS travou por todo o país grandes combates pelas suas ideias" e sublinhou que não perderá "um momento a lamentar o que podia ter feito e não fiz. Não levo nem ressentimentos nem amarguras".