Luanda - O maior banco de Angola assinala no dia 14 de Novembro o seu 15.º aniversário. O ponto alto das comemorações será a inauguração de uma nova academia de formação. Mas neste ano especial a administração da empresa tem outras metas ambiciosas. A internacionalização será a aposta mais forte. “O banco quer estar presente nos grandes mercados financeiros mundiais”, sintetizou o presidente Mário Bárber durante a cerimónia de apresentação dos resultados financeiros de 2010.


Fonte: exameangola.com


Para isso vai abrir escritórios na Ásia (Hong-Kong ou Singapura estão em cima da mesa); América (Brasil e Estados Unidos) e Europa (além do BAI Europa, criado em 1998 e sediado em Portugal, quer abrir um escritório no Reino Unido). Recorde-se que, em África, o banco já detém o BAI Cabo Verde (nascido em 2008 onde possui cinco agências) e participações minoritárias no BPN Brasil (dirigido, sobretudo, às PME) e no Banco Internacional de São Tomé e Príncipe (o maior e o mais antigo desse país). No ano passado, abriu um escritório de representação em Joanesburgo (África do Sul) que futuramente poderá passar a banco.

 

“O BAI quer apoiar os empresários nacionais que residem ou querem investir no exterior e os estrangeiros que desejam fazer negócios em Angola. “Não queremos exercer actividades puramente bancárias, mas servir de antena para captar novos investimentos nestes mercados”, ambiciona Mário Bárber.

 

No que diz respeito a participações financeiras o banco irá continuar à espreita de oportunidades. Nas últimas semanas, foi notícia, por exemplo, a intenção de aquisição da empresa cabo-verdiana de água e electricidade Electra. Segundo Cristina Duarte, ministra das Finanças de Cabo Verde, o BAI será o futuro “braço financeiro” da empresa e a entrada no capital será feita através da reconversão de uma dívida. Em Angola, o BAI tem um “braço” no sector imobiliário. Trata-se da subsidiária Griner, empresa angolana de construção civil, engenharia e ambiente, que pretende tornar-se um das dez maiores construtoras do país e atingir a facturação de 250 milhões de dólares em 2014. Possui igualmente uma participação maioritária na Nossa Seguros, que iniciou a sua actividade em 2005 e, em 2010, obteve um resultado de 11 milhões de dólares, com prémios de 50 milhões.

 

Outra meta assumida pela administração é o de aumentar a extensão da sua rede em Angola. Actualmente, já existem 93 pontos de atendimento, incluindo as 78 agências os cinco centros de empresas e dez pequenos balcões sediados em instituições como a Sonagol, o Instituto Piaget, a Filda ou a Sonils (base logística das petrolíferas). “A meta é chegar aos 100 balcões até ao final do ano”, diz Diala Monteiro, director de marketing e comunicação.


Uma estratégia paralela é a segmentação da base de clientes. Em Julho do ano passado, já havia sido criada a marca BAI Premium, dirigida ao private banking (a agência é na Rua da Missão, em Luanda). Já este ano, foi lançado o BAI Executivo, dirigido aos colaboradores de empresas públicas e privadas. O serviço funciona através de um protocolo com as empresas, no qual os seus funcionários têm direito a vantagens como a domiciliação dos salários e o acesso aos créditos habitação, automóvel e ordenado a taxas favoráveis, além do apoio permanente de um gestor de cliente. O próximo objectivo é o lançamento de uma agência totalmente dedicada à habitação (nomeadamente o crédito imobiliário) que será aberta em Luanda ainda este ano.

 

Ainda no que se refere ao serviço ao cliente o BAI está a reforçar o investimento nas novas tecnologias. Além dos serviços já disponíveis do BAI Directo (inclui call center que funciona de segunda a sexta-feira das 8 às 17 horas) e do SMS e Internet Banking, o banco lançou em Maio o Mobile Banking (banco por telemóvel), dirigido a particulares e empresas. “Estamos a adoptar a solução tecnológica mais moderna, lançada na Europa há menos de três meses. Possui versões para as três plataformas mais populares para telemóveis e tablets da última geração — o Android, da Google, o Symbian, da Nokia e o da Apple (iPhone e iPad)”, diz com orgulho. O serviço permite, entre outras vantagens, ver extractos, consultar dados da conta, requisitar cheques, marcar entrevistas com gestor e fazer transferências bancárias entre clientes do banco.

 

“É mais um exemplo do pioneirismo do BAI. Fomos os primeiros ea lançar cartões de crédito, uma marca para o private banking, o SMS e internet banking e agora o mobile banking.” Outra inovação é a criação da figura do “provedor do cliente”, que recebe criticas, sugestões e reclamações dos clientes e os representa, perante o banco, em caso de insatisfação. Luís Lélis recorda igualmente a criação do BAI Micro Finanças, instituição dedicada ao microcrédito, que resultou da aquisição do Novo Banco, em 2007. “Aqui no banco, gostamos muito de inovar e experimentar”, resume.


A área da responsabilidade social, onde o banco investe anualmente cerca de 400 mil dólares, também vai intensificada neste ano onde o banco comemora o 15.º aniversário. A face mais visível dessa aposta é a 11.ª edição da BAI Arte, a mostra anual de arte e cultura angolana que, pela primeira vez, vai ser alargada às províncias. Cabinda acolheu a primeira edição do BAI Arte fora de Luanda. Subordinada ao tema “Investimos nos Artistas da Terra”, a Hotelaria de Cabinda albergou a exposição, cuja curadoria foi da responsabilidade do prestigiado Jorge Gumbe.

 

Bai arte 2011 inaugurada em Cabinda


A mostra foi composta por obras de oito talentosos artistas de Maiombe — os escultores Ngonga Nkula Ribeiro, Samuel Nkai, António Francisco, Estêvão Kiony Komba André, Paulo Mvumbi, António Nzinga e o pintor Mateus Miguel. Os próximos destinos da 11.ª edição da BAI Arte serão as províncias da Huíla (em Agosto) e de Luanda (em Novembro).

 

Outra área que o BAI pretende reforçar é a saúde. No âmbito das comemorações do 15.º aniversário o banco irá adquirir geradores para a unidade de queimados do Hospital Neves Mendinha e um equipamento de reanimação para as urgências da pediatria do Hospital Américo Boa Vida (ao qual o BAI já havia patrocinado a ala da cirurgia pediátrica). Este ano, mantêm-se outros apoios regulares tais como o fornecimento mensal de alimentos ao lar de idosos Beiral ou o apadrinhamento do Centro Arnaldo Janssen “Padre Horácio” (acolhimento de crianças) e da diocese de Cabinda. “O nosso objectivo é o aumentarmos a aproximação às comunidades locais”, sintetiza Diala Monteiro.


No desporto, depois de concluído o BAI Basket (onde o Petro se sagrou campeão sucedendo ao 1.º de Agosto, ambos patrocinados pelo banco) a aposta vai para o lançamento de um torneio de minibasquetebol nas províncias de Benguela e Huíla.

 

Bai perdeu liderança nos depósitos. Mas este mês regressará ao primeiro lugarRecorde-se que no outro desporto mais popular entre os angolanos — o futebol — o BAI patrocina o Petro de Luanda. Mas curiosamente o “craque” que deu a cara pelo banco durante as campanhas de marketing do ano passado foi Kali, capitão da selecção nacional (o BAI é o banco oficial dos Palancas), mas que hoje “alinha” pelo clube rival, o 1º de Agosto.

Mas tal como sucede no futebol, também no mundo das finanças o que conta são os resultados. E estes, no caso da banca, medem-se por indicadores e rácios financeiros. No que concerne ao ano passado podemos dizer que o BAI teve resultados mistos. É que se é verdade que houve crescimento, também não é menos verdade que esse aumento foi modesto (em 2010, o BAI registou activos líquidos de 8,38 mil milhões, o que representa uma subida de apenas 1% face a 2009). Já os resultados líquidos decresceram ligeiramente (228 milhões de dólares versus 231 milhões em 2009).

 

Além da conjuntura internacional adversa, o presidente Mário Bárber destaca o facto “do BAI ter arcado com um custo de estrutura de 174 milhões de dólares para a abertura de novas agências, contra os 121 milhões de 2009”. As boas notícias é que os fundos próprios regulamentares cresceram cerca de 10%, tendo atingido 688 milhões, enquanto o rácio de solvabilidade se situou nos 13,67% (versus 12,86% em 2009). Em 2010, subiram igualmente o número de empregados (12% para 1426), o de clientes (9% para 321 211) e o número de agências (de 80 para 85).

 

No que diz respeito aos empréstimos concedidos, o BAI também registou uma diminuição de 1% face ao ano anterior. Os responsáveis justificam a descida devido ao facto do BAI ter seguido uma política mais prudente de concessão de crédito. Houve também uma diminuição da prestação de serviços de câmbio (compra e revenda de divisas) comum à generalidade da banca. Mas para Luís Lélis o problema de fundo esteve na redução da actividade económica. “Angola tem crescido em contraciclo com um desfasamento de cerca de dois anos em relação aos países mais desenvolvidos. Depois da fase em que a economia angolana esteve muito aquecida, a crise mundial chegou mais tarde, no final de 2009 e primeiro semestre de 2010, e os seus efeitos foram muito mais visíveis e duradouros do que muitos esperavam”, defende.


Um dos efeitos menos desejados foi a duplicação do crédito malparado. “Passou de 4% a 5%, em 2009, para 8%, em 2010”, esclarece. Por todas essas razões não surpreende que os resultados de 2010 tenham diminuído face ao ano anterior (“curiosamente desceram em dólares, mas subiram em kwanzas”, acrescenta).


PRIMEIRO SEMESTRE ABAIXO DO ESPERADO

 

Quanto ao primeiro semestre de 2011, o responsável confessa que também não está a correr tão bem quanto se esperava. “Há menos operações, os agentes económicos ainda vivem uma fase de alguma expectativa. Acreditamos, porém, que no segundo semestre a retoma será uma realidade.”

 

Novos serviços: Este ano já foram lançados 
o BAI Executivo e o Mobile Banking (banco através do telemóvel) Um dos factos destacados pela imprensa prende-se com o facto do BAI ter perdido a liderança do mercado (para o BFA) em termos de depósitos. A explicação, segundo Luís Lélis, resulta do facto do banco ter convertido a dívida pública em títulos (a operação tem o nome técnico de “titularização”). “O Estado pagou 30% da dívida e acordou os prazos de reembolso do que falta pagar, para os próximos três, cinco e sete anos. A operação de titularização ascendeu a 1,2 mil milhões de dólares.” Também ao nível do crédito o banco, segundo Luís Lélis, “passou a privilegiar a solidez e a liquidez, em vez da quota de mercado”. Outro factor que pode dar um empurrão é o fim do monopólio do BPC na domiciliação dos salários da função pública. “A concorrência vai trazer vantagens para o cliente, mas também para o sistema bancário como um todo. A medida já foi aprovada no final do ano passado, mas, pelas informações que temos, tarda em ser implementada sobretudo nas províncias.” Luís Lélis acredita que, já este mês, o BAI voltará a liderar o ranking dos depósitos.

 

A nível internacional recorde-se que o BAI é o único banco angolano entre os 1000 maiores do mundo e entre os 25 do continente (771.º no mundo e 24.º em África segundo a listagem da revista The Banker relativa ao ano passado). Para este ano, as perspectivas também são animadoras. “Em Portugal temos uma operação pequena, mas rentável. A nossa participação em São Tomé e Princípe também gera resultados interessantes, só em Cabo Verde é que sempre tivemos prejuízos, mas acreditamos que este será o ano da viragem”, vaticina Luís Lélis.

 

Uma boa notícia é o facto de, no ranking da revista The Banker deste ano (cujo resultados globais ainda não foram apresentados) já se saber que o BAI foi o líder do continente no critério da “rentabilidade média dos capitais” (o poderoso banco sul-africano Standart Bank, o maior de África, ficou em segundo). É de esperar, por isso, que o BAI galgue mais algumas posições na listagem de 2011 dos 1000 maiores bancos do mundo (onde é o único representante angolano). A confirmar-se será (mais) uma prenda de aniversário neste ano especial.

 

ACADEMIA DE LÍDERES


“A academia é uma escola de formação que pretende reforçar não só as competências técnicas, mas também, as comportamentais, éticas e  de conduta, dos profissionais do banco”, afirma o director de marketing e comunicação Diala Monteiro. O projecto começou a ser construído há pouco mais de um ano em Talatona (Luanda-Sul), pela construtora do grupo, a Griner, e a meta é estar concluído no final do ano (idealmente na data do 15-º aniversário do BAI, a 14 de Novembro). O objectivo final para os próximos três ou quatro anos, “é o de se tornar um instituto superior capaz de oferecer cursos superiores certificados, nas áreas de finanças, banca e seguros”, afirma o administrador executivo Luís Lélis.

 


Na primeira fase, a academia terá 40 salas de aula (cada qual com um número máximo de 30 alunos), e será dirigida a funcionários do BAI de todos os níveis hierárquicos. “Criamos inclusivamente condições de alojamento para os nossos profissionais que vivem nas províncias e tenham de se deslocar a Luanda”, reforça Diala Monteiro. O edifício inclui salas de formação, anfiteatros, biblioteca, sala multiusos e outras áreas de convívio. Também terá um refeitório (com capacidade para 200 pessoas) e um balcão-escola (para as aulas práticas). Numa segunda fase (na qual será construído o auditório e um segundo bloco de edifícios), a academia será aberta ao público. Inicialmente a escola contará com um corpo docente composto por formadores contratados 
e internos, mas o objectivo, a médio prazo, é ter professores dedicados.

 

Luís Lélis faz questão de sublinhar que a formação sempre foi considerada uma prioridade estratégica para a administração do BAI. 
“O nosso orçamento anual para a capacitação e desenvolvimento dos recursos humanos ronda os 4 milhões de dólares. Na Europa a maior parte dos bancos tem cerca de 80% a 90% de funcionários licenciados. Nós temos apenas 15% com curso superior”, justifica.


Hoje, porém, todos os candidatos que entram no BAI já têm de passar por um centro de formação que funciona na Universidade Metropolitana, também em Luanda-Sul, de modo a que fiquem a conhecer a história do banco, os manuais e códigos de conduta e os requisitos específicos para cada função, cabendo ao Instituto de Formação Bancária a formação mais teórica e generalista. A futura Academia BAI visa completar o ciclo oferecendo uma formação de nível equivalente a um curso superior. “Será complementar, e não concorrente, à do Instituto de Formação Bancária, ao qual estamos e continuaremos ligados”, sublinha.