Luanda - Muito se fala e especula sobre quem será o “delfim”, o sucessor, do Presidente José Eduardo dos Santos. É certo que especulações do género alimentam fofocas nacionais e internacionais e, num país tão falho de entretenimento até acaba por se tornar salutar, já que ainda muita água haverá de correr por baixo dessa ponte e uns tantos tentarem navegar por cima desse rio.
 

Fonte: Jornal EME


O Engenheiro José Eduardo dos Santos acedeu à presidência da então República Popular de Angola, a 21 de Setembro de 1979, na hercúlea tarefa de substituir António Agostinho Neto com o país dilacerado por uma guerra fratricida, num mundo maniqueísta de campos e conceitos políticos antagónicos.
 


 Ao proferir no acto da sua investidura que “não é uma substituição fácil, nem tão pouco me parece uma substituição possível. É apenas uma substituição necessária”, lançou irrevogavelmente os dados para o futuro de Angola e virou-se para o aprendizado árduo e longo de governar um país e moldar uma marca pessoal, mesmo se ainda com uma liderança por afirmar e com um horizonte revolto à sua frente, no contexto da época, chamado Angola.
 

Ouvi, há poucos dias, o Senhor Samakuva invocar o exemplo de Israel para reclamar de uma suposta falta de democracia desde os primórdios nacionais, mesmo se com o país em guerra. Quanto a ele, isso não teria obstado. Como sua marca registada, novamente a Unita a desejar aparecer isenta e lavada da catástrofe que gerou ao longo de décadas, implicando o Senhor Samakuva, com essas palavras, que não obstante a mesma ter estado a conduzir uma guerra contra-natura, com o apoio da então racista África do Sul, se poderia ter conduzido eleições e ter-se tido, de outra forma, uma vida normal, tal e qual Israel com todas as suas instituições.


Não se deve ser tão simplista quanto isso, o caso de Israel em nada se compara à história recente de Angola e, aliás, este país do Médio Oriente reconhece que está em permanente estado de guerra com os seus vizinhos por razões estratégicas, não porque um partido da oposição quer o poder a toda a força em Israel.


 
Segundo Ariel Siegelman, um especialista israelita em contraterrorismo, ao explicar sobre os planos de actuação deste Estado em Gaza, afirma que as forças armadas israelitas assumiram a posição que assumiram no único intuito de reduzir a possibilidadede do Hamas infligir danos a Israel, mas sem desejar ou querer retirá-lo do poder e/ou destruir todas as suas capacidades, uma vez que tais objectivos seriam dificilmente alcançados, com o perigo de uma repercussão negativa sobre o moral do exército e da nação israelita. A única regra, segundo este especialista, era a de não se lutar pelas regras, mas sim, em última análise, gerar uma situação que nunca permitisse ao Hamas justificar qualquer tipo de vitória.
 

Feito este esclarecimento, sabemos que o Presidente José Eduardo dos Santos liderou Angola até às eleições de 1992, por ter sido o MPLA que declarou a Independência, na voz do Presidente António Agostinho Neto, e preparou o país para a nova e decisiva etapa de paz e prosperidade que não se concretizou, e todos sabemos porque razões e motivos.
 

Deste modo, recuou-se em momento de avançar, com consequências jamais vistas sobre as populações e o tecido nacional no seu todo, que aqui não desejo recordar. Não vejo como é que o Senhor Samakuva pretenderia ter as instituições democráticas a funcionar, como em Israel, sobretudo com Jonas Savimbi a conduzir um política de terra queimada.

 

Em 2008, após as eleições de 1992, o Engenheiro José Eduardo dos Santos, foi nova e democraticamente eleito, com os resultados reconhecidos e confirmados pelos diversos organismos e instituições internacionais.
 


Aquando da assinatura do entendimento de paz, o Presidente José Eduardo dos Santos, num gesto de estadista, estendeu a mão à UNITA, numa política de inclusão e a família angolana reencontrou-se minimamente na formulação de um desejo de pacificação e harmonia nacional, engajando as diversas forças do país para uma situação de estabilidade e desenvolvimento.


 
São hoje algumas dessas mesmas e diversas forças que atacam a sua figura com toda uma gama de falácias que pouca sustentação têm. Unicamente quem não viveu uma ditatura o pode acusar de ditador. Por si só tal afirmação, a ser verídica, seria o contraditório na sua afirmação pública. A estabilidade que o país conhece não é do agrado de certos indivíduos ao verem cada vez mais longe os seus desígnios, porque não possuem capacidade suficiente para se fazerem eleger e governar, objectivo fundamental de qualquer foça política.
 


Querem assumir essa posição pelas vias violentas, pela insurreição, como consta na página da UNITA no seu website (com a insurreição do povo, nada é impossível), quando se sabe que insurreição significa levantamento, rebelião, sublevação, meios pelos quais ninguém se alcandora ao topo pelo voto popular.
 

A sucessão do Presidente José Eduardo dos Santos só a ele diz respeito em primeira mão, depois ao MPLA e finalmente ao povo que irá votar ou não nele. Não é um assunto que me preocupe sobremaneira como cidadão, todavia como militante desse Partido, acho que ele deveria candidatar-se, até porque lhe cabe esse direito e, ultrapassada a questão em 2012 uma vez reeleito, dentro da estabilidade que forjou que decida o que achar que terá que ser feito em relação ao mandato a que essas eleições dizem respeito. Assim, entrar-se-ia para as eleições de 2016 com uma Angola apaziguada, com uma Angola estabilizada e sem veleidades de aventureirismos políticos que hoje nos espreitam e sem a necessidade de se invocar Israel.

 

*Secretario para informação e  propaganda do MPLA em Luanda