"Com mais ou menos contestação política, o governo e o partido que o apóia levaram a cabo um conjunto de reformas econômicas, institucionais e mesmo sociais - embora de menor expressão quando comparadas com as de índole econômica - que melhoraram a imagem interna e externa do país", diz o Relatório Econômico Angola-2007, recentemente publicado pelo Centro de Estudos de Investigação Científica da UCA.

Para os pesquisadores da UCA, coordenados pelo economista Alves da Rocha, a melhoria dos índices de confiança internacional resultou em aumento do investimento estrangeiro, diversificação tênue da estrutura econômica e crescimento do valor acrescentado da economia angolana, que podem estar em causa.

"Receia-se que, se a representação política na Assembléia Nacional [Parlamento] se alterar substancialmente, os índices de confiança baixem, os investimentos não afluam, o processo de estabilização macroeconômica descarrile e o crescimento econômico se atenue", diz o relatório.

"Este risco está diretamente associado à fraqueza das oposições e ao déficit de capacidade técnica e experiência governativa para assegurar uma gestão eficiente e racional", defende a universidade.

Além dos riscos associados às eleições, a UCA critica ainda um excessivo papel do Estado na economia.

"A crescente intervenção governamental em domínios econômicos que pertencem ao setor privado [pode] conduzir a um desincentivo da iniciativa privada, mesmo em um contexto em que as oportunidades de negócio são inúmeras e diversificadas", diz o texto.

Por outro lado, adianta, registra-se atualmente um aumento da corrupção: "Em situações de menor capacidade de organização e controle do crescimento econômico, os oportunistas multiplicam-se, os ganhos fáceis abundam e a corrupção torna-se um meio de vida".

"Talvez um choque mais radical seja necessário na orgânica e no funcionamento da máquina administrativa do Estado - com a demissão da componente corrupta, incompetente e improdutiva do funcionalismo público - se se quiser acrescer a capacidade de controle e gerência do crescimento econômico", adianta.

Outros fatores acrescentados à incerteza são a baixa qualificação da mão-de-obra e a inexistência de acervos científicos e tecnológicos, além da inflação, que "em um contexto de estabilidade não pode continuar nos dois dígitos".

A UCA alerta ainda para os efeitos do "tremendo déficit no fornecimento de eletricidade e água" e aponta como risco adicional "a pressa em construir tudo ao mesmo tempo", que pode se refletir na qualidade das infra-estruturas, na capacidade de manutenção, conservação e funcionamento eficiente e na produtividade global da economia.

A universidade angolana traça vários cenários para a evolução da economia do país: se for conseguida a diversificação para setores, com maior efeito na redução da pobreza, o PIB per capita de Angola pode subir a US$ 7.600 em 2012. No entanto, na pior das hipóteses, o valor pode não passar dos US$ 6.290, sem grandes melhorias sociais.

O Índice de Desenvolvimento Humano angolano, medido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), está, atualmente, entre os dez piores do mundo, sublinha o relatório.

Fonte: Lusa